Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (Cidadania) já deixou claro que é candidato à reeleição na campanha do próximo ano. E só. Não avançou nenhuma indicação sobre preferências ou opções para compor a chapa majoritária, que contará, ainda, com candidaturas à vice-governança e a uma vaga no Senado. Essas definições, na verdade, só ganharão nitidez com a evolução da conjuntura e a proximidade da disputa propriamente dita. Azevêdo precisará estar atento aos movimentos de adversários políticos para montar a contra-ofensiva com vistas a garantir mais quatro anos no poder. Entre esses adversários estão o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), mesmo que não concorra ao governo do Estado, e o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que está em pré-campanha informal ao Palácio da Redenção e espera arrastar consigo o potencial do grupo Cunha Lima, do PSDB, já que o ex-senador Cássio patenteou que disputa em 2022 não está no seu radar.
Para o Senado, no entorno das forças políticas que apoiam a liderança de João Azevêdo, o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, já se insinua à vaga no Senado que atualmente é ocupada por Nilda Gondim (MDB), sucedendo a José Maranhão, recentemente falecido. Efraim quer seguir as pegadas do pai, Efraim Morais, que exerceu um mandato depois de se projetar na Câmara Federal, com passagem, também, pela Assembleia Legislativa. Não se descarta a hipótese de surgimento de outras postulações ao Senado no entorno do grupo político que apoia Azevêdo e que se divide por diferentes partidos. Se houver pulverização de nomes, o governador deverá agir com habilidade para acomodar as pretensões de modo a não enfraquecer o projeto maior, que é a própria recondução ao governo, em circunstâncias bem distintas das que pautaram a campanha eleitoral de 2018, quando Azevêdo teve como grande cabo eleitoral o ex Coutinho, que, depois, virou seu algoz.
A grande incógnita, para analistas políticos e mesmo para interlocutores do chefe do Executivo, reside na definição do nome à vice-governança que concorrerá junto com ele na chapa da reeleição. Com dois mandatos consecutivos no cargo (o outro na condição de vice de Ricardo Coutinho), a doutora Lígia Feliciano (PDT) estará encerrando essa jornada executiva. Poderá vir a pleitear o Senado, como já o fez em outra eleição, não logrando êxito ou, ainda por hipótese, cogitar mesmo uma disputa ao governo, o que a situaria em confronto com quem a tem lado a lado na travessia atual. Lígia entrou na chapa de Ricardo em 2014 pelos seus méritos e inclinação política e, sobretudo, pela importância do símbolo que encarnava: o peso de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, muitas vezes tratado como fiel da balança na sucessão estadual quando não tinha representantes seus concorrendo ao cargo principal.
Da safra recente de governadores que passaram pelo Palácio da Redenção, José Maranhão foi um dos poucos a não formar chapa com nome de Campina Grande na vice. Na campanha pela reeleição em 98, depois de ter ascendido à titularidade com a morte de Antônio Mariz, de quem foi vice, Maranhão optou por Roberto Paulino, de Guarabira, no Brejo, como opção para a sua vice, apoiando-o em 2002 à sucessão, sem êxito. Em 2006, quando resolveu testar as chances de retorno ao Palácio, Maranhão teve como vice Luciano Cartaxo, então deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. A dupla foi derrotada por Cássio Cunha Lima-José Lacerda Neto, este do então PFL, que hoje é DEM. Em 2009, quando a Justiça Eleitoral decretou afastamento de Cássio, Maranhão e Cartaxo foram investidos para concluir o mandato.
Ricardo Coutinho, nas duas eleições que ganhou ao governo do Estado, fez-se reforçar por representantes de Campina Grande na vice-governança. Na primeira, em 2010, quando esteve aliançado com o esquema que Cássio Cunha Lima liderava, o vice de Ricardo foi o então deputado federal Rômulo Gouveia, já falecido. Em 2014, na undécima hora dos prazos para definição de chapa, Ricardo foi a Campina Grande convencer a doutora Lígia Feliciano a ser sua vice, representando o contingente feminino e a cidade Rainha da Borborema. Em 2018, enfim, Lígia repetiu-se na vice, já como companheira de João Azevêdo. Lá atrás, em 82, Wilson Braga elegeu-se com o empresário José Carlos da Silva Júnior como vice e em 1986 Tarcísio Burity voltou ao Executivo com o tribuno Raymundo Asfora, o vice que não assumiu, por causa da tragédia nos dias que antecederam a posse triunfal.
A esta altura dos acontecimentos, com o calendário espichando rumo à estação 2022, o governador João Azevêdo deve ter um nome “in pectoris” para vice na campanha pela reeleição. Talvez mais de um, se se levar em conta o seu círculo de amizades e de aliados políticos. Mas a “boa estratégia” o impede de dar qualquer “pitaco” sobre o assunto. A fase que demanda até convenções partidárias é de muita consulta, busca de canais de entendimento, ampliação de níveis de interlocução. Tudo isto para reforçar o projeto de Azevêdo de se assegurar mais quatro anos de hegemonia no governo da Paraíba. A temporada de especulações, claro, quanto a nomes, está aberta, independente de sinal verde do governador, que não é o único comandante do processo para as eleições de 2022. Em alguns casos, especulações poderão até desviar Azevêdo do leito original das projeções que articula para soluções adequadas à conjuntura que se avizinha. Até a batida do martelo, serão muitos os pretendentes – e apenas um, ou uma, o escolhido(a).