Nonato Guedes
As declarações do presidente Jair Bolsonaro, feitas no Ceará, de que “daqui para a frente os governadores que fecharem seus Estados é que devem bancar o auxílio emergencial a famílias vulneráveis” provocaram reação de governadores de várias regiões e de figuras de expressão como a ex-presidente Dilma Rousseff, do PT. “Que absurdo! Até onde vai essa marcha da insensatez liderada pela maior autoridade do país?”, protestou Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte. “O desequilíbrio de Bolsonaro é proporcional à tragédia humana que o negacionismo provocou no Brasil”, emendou João Doria, do PSDB de São Paulo. Dilma acusou Bolsonaro de “chantagear” governadores em plena pandemia.
Já Wellington Dias, do PT do Piauí, disse que “não é razoável o líder de um país fazer o cidadão ter que escolher entre comida na mesa ou a vida”. O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, declarou que “se os governadores tiverem que bancar até o auxílio emergencial, aí mesmo que o presidente da República vai provar sua total inutilidade”. Já a ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, criticou em nota divulgada ontem a conduta do presidente durante a viagem ao Ceará na última sexta-feira. Segundo ela, o “negacionista se superou: conseguiu ser pior do que ele mesmo, pois causou aglomerações e desprezou o uso de máscaras para enfrentar a pandemia”.
Segundo Dilma, Bolsonaro também voltou a minimizar a gravidade da Covid-19 e “chantageou” os governadores dizendo que se eles não restringissem a circulação de pessoas e adotassem o necessário distanciamento social para evitar o contágio e as mortes, deveriam assumir o pagamento do auxílio emergencial. Ela também pediu ao Congresso Nacional que, ao votar a PEC Emergencial, contrapartida solicitada pelo governo para uma nova rodada do auxílio, elimine a possibilidade de a gestão federal usar o benefício “para incentivar o negacionismo quanto à pandemia, chantageando governadores”.
– Precisamos de um mutirão pela vida. Um pacto capaz de impor o uso obrigatório de máscaras, distanciamento social, veto a aglomerações, auxílio emergencial até o fim da pandemia e vacinas para todos já – finalizou Dilma Rousseff. Na sua passagem pelo Ceará, ao discursar para apoiadores, Bolsonaro foi taxativo: “O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu Estado, governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabilidade”. O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), por sua vez, criticou a possibilidade de instalação, neste momento, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as responsabilidades do governo federal na condução da crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus. No Senado, existe um pedido de CPI assinado por 31 senadores e 11 partidos.
– Todos nós temos que remar no mesmo sentido. Não adianta fazer agora proselitismo em torno de CPIs – alegou Arthur Lira. “Acho que a CPI sobre pandemia no Senado é inadequada. Não é o momento de parar o Congresso e investigar o que aconteceu”. Salientou que no momento atual o Congresso deve se focar em projetos voltados para o combate à pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, as casas legislativas têm pautado essas propostas. “Todos os projetos, MPs (Medidas Provisórias), ações e ingerências para que possamos ter rapidez na aquisição de vacinas, estamos fazendo”. Nesse sentido, o presidente da Câmara informou que os grandes bancos brasileiros se disponibilizaram a comprar vacinas, assim como empresas de outros setores, para distribuição a funcionários. “O presidente Bolsonaro concordou com a ideia. Mas temos uma demanda mundial por vacinas”, ressaltou. Lira afirmou que a Câmara fará o projeto sobre compra de vacinas “andar rapidamente”.