Nonato Guedes
Nos meios políticos sulistas ganha destaque a luta entre dois governadores de Estados influentes – João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, para conseguir a indicação do PSDB a fim de concorrer como candidato a presidente da República em 2022. Os dois gestores têm se mobilizado no sentido de garantir apoios importantes que consolidem suas pretensões. Doria organizou um jantar com filiados à legenda, onde tentou reivindicar o controle do partido para favorecer sua pretensão de ser o escolhido na disputa pelo Planalto. Eduardo Leite, por sua vez, promoveu um churrasco em que admitiu aceitar a missão de debater um plano de propostas para o Brasil. A sorte está lançada no ninho tucano, e há versões de que o governador gaúcho teria acenos favoráveis do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Uma reportagem da revista “Veja” apresenta Eduardo como “desafiante” de Doria e lembra que ele foi prefeito de Pelotas, cidade de 343 000 habitantes no interior gaúcho, estando há apenas dois anos como governador. Tem alcançado projeção por implementar uma reforma fiscal e administrativa, que mexeu em questões delicadas como o plano de carreira do magistério e regras de aposentadoria, mas diminuiu o déficit previdenciário em 17%, a primeira queda desde 2010, estancou o crescimento da folha de funcionalismo e colocou os vencimentos dos servidores em dia após cinco anos de atrasos e parcelamentos. O governador ainda conseguiu uma aprovação, embora com ressalvas, do plano do Estado para entrar no Regime de Recuperação Fiscal – o seu antecessor, José Ivo Sartori, do MDB, teve a proposta rejeitada em 2017.
No que se refere ao enfrentamento da pandemia do coronavírus, Eduardo Leite aparentemente saiu-se bem com políticas acertadas como dobrar o número de leitos de UTI e promover a defesa ostensiva da vacinação e do uso de máscaras. O pior foi evitado. O Estado, hoje, é o décimo sétimo do país em número de mortes pela Covid-19, na proporção da população. A partir da análise de dados e com a ajuda de médicos, universidades, setores econômicos e prefeituras, o governador montou um modelo chamado de Distanciamento Controlado, no qual o Estado passou a adotar graus variados de isolamento social dependendo do avanço do vírus e baseado em onze indicadores, como número de óbitos e ocupação de leitos de UTI. Na avaliação mais recente de sua gestão, do Ibope, feita em outubro de 2020, só em Porto Alegre 29% avaliam o governo como ótimo ou bom, 30% consideravam ruim ou péssimo e 39% o tinham como regular.
Numa entrevista a “Veja”, Eduardo Leite defendeu oposição “intransigente” a Bolsonaro na pauta de costumes mas não na de economia e disse que é preciso se tornar viável eleitoralmente para tentar a presidência da República. Salientou que é natural que a candidatura presidencial apareça no horizonte de quem é governador do Rio Grande do Sul, a quarta maior economia do país. “Mas não basta só ter habilidade e capacidade política; é preciso ser viável eleitoralmente. Sonhar com a presidência é normal e eu me sinto com capacidade para contribuir nessa posição; porém, se a oportunidade vai vir agora ou se vai demorar, só saberemos com o tempo”. Seu estilo é definido como moderado em comparação com o que João Doria adota, de confronto direto com o presidente Jair Bolsonaro.
Ao ser indagado sobre a afirmação de Doria de que o PSDB precisa levantar a bandeira do antibolsonarismo, Eduardo Leite respondeu: “O PSDB é oposição, mas não uma oposição sistemática, movida só por um interesse eleitoral, que impede o governo de governar. Nos arroubos antidemocráticos do presidente, precisamos ser opositores intransigentes. Mas na área econômica o governo tem pautas que se aproximam do que pensamos, apesar de mais modestas. A reforma administrativa trata apenas dos futuros servidores, enquanto a nossa, no Rio Grande do Sul, atingiu os contratados atuais. Na tributária, a deles só atinge impostos federais. Na economia, o papel do PSDB deve ser o de colaborar. Fomos relatores da reforma da Previdência, da reforma trabalhista, fomos fundamentais no marco do saneamento. É preciso melhorar o ambiente de negócios”.