Nonato Guedes
O ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que recém concluiu dois mandatos consecutivos à frente da edilidade da Rainha da Borborema e que, agora, tem tempo de sobra para “politicar”, está refazendo estratégias para a campanha ao governo do Estado nas eleições do próximo ano. Já descartou aliança com o MDB, que, com a morte de José Maranhão, passou ao controle do senador Veneziano Vital do Rêgo, adversário dos Rodrigues e Cunha Lima em Campina Grande e, potencialmente, aliado do governador João Azevêdo (Cidadania). No esquema de pré-candidatura de Romero há vagas em aberto para vice-governança e Senado, esta com respectivas suplências, como estão disponíveis compensações de apoio a postulações no páreo proporcional.
As alianças serão importantes para respaldar a logística eleitoral do ex-prefeito, que terá pela frente como principal adversário o governador Azevêdo, detentor de trunfos valiosos como o controle da máquina, da qual pode extrair dividendos colaterais, principalmente em situação de calamidade como a que se verifica, com a pandemia do novo coronavírus e o crescente desemprego no âmbito da sociedade. Além de atrair partidos que possam oferecer-lhe retaguarda no Guia Eleitoral, interessa a Romero capitalizar apoios que podem ser decisivos na eleição, como o do presidente Jair Bolsonaro, de quem se aproxima cada vez mais. Para ele, uma dobradinha com o capitão, a céu aberto, com promessa de parceria estreita, de sintonia fina, pode ser o xeque-mate em candidaturas que aparentemente despontam com mais estrutura como a do atual governador.
Mesmo não contando mais com o MDB, Romero não fechou canais com o ex-candidato a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira, que logrou ir para o segundo turno contra Cícero Lucena, do PP, sendo derrotado por uma diferença apertada. A tendência é que Ferreira migre para outro partido a fim de dar curso à pretensão anunciada de concorrer a cargo majoritário no próximo ano. Ambos jogam no campo da centro-direita e têm, em comum, afinidade com ideias defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. Ferreira identifica-se, inclusive, com a “pauta de costumes” do capitão, que causa controvérsias em segmentos de esquerda por originar retrocessos em conquistas já alcançadas. Romero evita polêmicas e busca construir, a nível estadual, o perfil de “tocador de obras”, para redimir o Estado das perdas sofridas nos últimos anos no ritmo de desenvolvimento econômico. A Paraíba, mais do que nunca, precisa do apoio decidido do presidente da República, pois a verdade é que tem patinado no ritmo de crescimento, em comparação com outros Estados da própria região Nordeste.
Esse perfil que Rodrigues busca tatuar na sua imagem combina com idêntico perfil que o presidente Jair Bolsonaro tenta fixar na sua, de forma indelével. Ainda agora, o mandatário voltou a acicatar governadores remanescentes da safra de 2018 por “fecharem seus Estados”, ou seja, adotarem medidas restritivas ao funcionamento de atividades comerciais, a pretexto de combater o coronavírus, enquanto esperam, em berço esplêndido, que o Palácio do Planalto compareça, pontualmente, com o auxílio emergencial para sustentar famílias vulneráveis nestes tempos de calamidade. Bolsonaro acha que os governadores querem ludibriar a União, responsabilizando-a diretamente pelas soluções emergenciais na crise sanitária, com isto esquivando-se de gastar seus próprios recursos na rubrica dos investimentos. O presidente não quer pagar sozinho essa conta.
Para além dessas discussões de caráter nacional e, portanto, abrangente, interessa ao ex-prefeito Romero Rodrigues traçar um discurso demarcando prioridades para a Paraíba numa eventual administração que possa empalmar. Até agora não foram sequer esboçadas as linhas mestras do tom que Rodrigues vai adotar caso leve, mesmo, até o fim, o projeto de ser candidato a governador. E nunca um discurso de candidato se tornará tão precioso para a opinião pública como na campanha de 2022, dentro da tática de infundir esperança a uma população que se sente órfã, desprovida de mecanismos, para fazer face a duas crises de indiscutível envergadura: a crise sanitária e a crise econômica, com reflexos sociais graves. Para elaborá-lo, Romero precisará cercar-se de quadros qualificados que o ajudem a conhecer melhor o diagnóstico da realidade paraibana, em suas múltiplas facetas, distribuídas por diferentes regiões fisiográficas.
O pré-candidato do PSD ao governo do Estado tem consciência do cipoal de desafios, bem como da série de dificuldades que precisará vencer para se viabilizar como um postulante confiável e competitivo no páreo de 2022. Sua experiência e suas ações em dois mandatos na prefeitura de Campina Grande, naturalmente, constituirão parte relevante da vitrine da sua campanha, ou do portfólio que o apresentará no momento oportuno à opinião pública. Mas Romero precisará adicionar ingredientes como carisma e uma marca conceitual, definidora, do seu estilo, que possa vir a empolgar setores ultimamente refratários à política e descrentes em relação a governos. Como se nota, é vasto o contencioso para quem pretende ser identificado como principal candidato de oposição ao governo estadual. Restará testar Romero em um último aspecto: a obstinação em querer vencer a parada e conquistar o Palácio da Redenção. É o que se verá, no tempo generoso que ele dispõe para pavimentar uma candidatura triunfante em 2022.