Nonato Guedes
O ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, presidente estadual do PSD, deverá ser confirmado como coordenador da campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à reeleição, no próximo ano, Além da confiança pessoal de Bolsonaro, a escolha de Romero fará parte da estratégia para “casar” irreversivelmente as duas campanhas – a do capitão, rumo ao Planalto novamente, e a de Rodrigues, ao governo da Paraíba. Na última visita que fez a Campina Grande, de passagem para o interior de Pernambuco, Bolsonaro levou Romero consigo na aeronave oficial e tratou-o como “governador”, segundo chegou a contar, entusiasmado, o próprio ex-prefeito. A deferência do presidente para com Rodrigues foi explícita pela circunstância deste já haver deixado a prefeitura, estando, por enquanto, no “sereno”, aparentemente.
Circularam informações, nas últimas horas, de que Romero estaria na “agulha” para ser indicado a um cargo de representação do governo federal na Paraíba, assunto que teria sido tratado em conversas entre ele e o presidente da República. A ligação entre os dois é bastante estreita e data do período em que Jair Bolsonaro e Romero Rodrigues foram colegas de legislatura na Câmara Federal. Na época, o capitão era tratado pela mídia como expoente do “baixo clero”, denominação atribuída ao agrupamento de parlamentares que não conseguem se projetar por posições independentes ou por brilhantismo retórico. No Palácio do Planalto, Romero é tratado com atenção especial. E a perspectiva de uma dobradinha dele com o presidente da República, além de ser o seu grande sonho, tem levado o ex-prefeito a fugir de polêmicas sobre atitudes controversas do mandatário, a exemplo das brigas com governadores, com o Supremo Tribunal Federal, com a imprensa, além do negacionismo assumido em relação ao coronavírus.
Quando é chamado à colação para opinar sobre Bolsonaro, Romero Rodrigues desvia o foco, enaltecendo o governo e eventuais realizações suas em favor do Nordeste e do país como um todo e, assim, tem logrado escapulir do papel de “advogado do Diabo”, que é como o capitão é satanizado não apenas por adversários políticos e não apenas por militantes e expoentes do Partido dos Trabalhadores, mas até mesmo por padres e pastores que, de vez em quando, ficam chocados com atitudes desumanas demonstradas pelo presidente da República. Ainda agora, Romero não deu um pio sobre a nota dos governadores, assinada, entre outros, por João Azevêdo (da Paraíba) criticando a condução do presidente diante da crise sanitária que se agrava no território nacional. Independente desses “vacilos táticos”, que o levam a ficar dependurado num equilibrismo desconfortável, o ex-prefeito de Campina Grande sabe que Bolsonaro o tem na melhor conta e jamais duvidou da sua solidariedade.
Na empreitada para se firmar como principal candidato de oposição ao governo do Estado, Romero Rodrigues tem se movimentado, constantemente, para assegurar o apoio do grupo Cunha Lima à sua postulação. Dentro desse grupo, com o qual Romero está entrelaçado por vínculos familiares, o deputado federal Pedro Cunha Lima, filho do ex-senador Cássio, tenta se viabilizar como alternativa à sucessão estadual. As chances são avaliadas como remotas – e ninguém, de bom senso, aposta fichas numa divisão entre Cunha Lima e Romero Rodrigues. O lançamento de Pedro soa mais como estratégia de ocupação de espaços, que é comum no cenário político paraibano e nacional. Contudo, é fora de dúvidas que Pedro, Romero e Cássio estão afinados, tanto no projeto de poder estadual como no alinhamento declarado com o governo de Bolsonaro.
Para além das afetividades remotas, que ganharam dimensão com a chegada de Bolsonaro à presidência da República, há uma dívida de gratidão de Romero para com ele, por ter beneficiado Campina Grande, na sua gestão, com obras de impacto e repasse de recursos essenciais para programas de alcance popular. O paradigma do apoio federal à administração campinense foi a construção do conjunto habitacional “Aluízio Campos”, um dos marcos da Era Romero que se estendeu por exatos oito anos no comando dos destinos da Rainha da Borborema. Esse apoio federal significou, para Romero, uma compensação dadivosa diante da falta de maior parceria com o governo do Estado, quer ainda com Ricardo Coutinho, quer com o início do governo de João Azevêdo. Não é por outra razão que Romero tem dito que, na Paraíba, Bolsonaro terá apoios expressivos na jornada de 2022. Ele está mirando, sobretudo, o contingente de votos que o atual presidente deverá obter a partir de Campina Grande.
Na primeira campanha de Bolsonaro, em 2018, o coordenador de atividades foi um ilustre desconhecido – o então candidato a deputado federal pelo PSL, Julian Lemos, cujos tentáculos espalharam-se por todo o Nordeste, dentro da meta de contrabalançar a massificação do PT liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Julian Lemos juntaram-se políticos paraibanos de expressão, com afinidades ideológicas distribuídas pela direita e pelo centro – e é certo que o próprio Lemos, hoje distanciado do Planalto por causa de brigas sérias com os filhos do capitão, foi arrastado pela cauda do cometa bolsonarista e logrou ascender a um mandato em Brasília. Romero, com mais jogo de cintura e a vantagem de ser mais conhecido no Estado, assume o bastão com todas as credenciais, legitimado pelo próprio Bolsonaro. E já começa a percorrer municípios da Paraíba, aproveitando a vantagem de estar ocioso desde que largou a prefeitura de Campina Grande após eleger o sucessor, Bruno Cunha Lima, em primeiro turno.