Nonato Guedes
O empresário José Carlos da Silva Júnior, que nos deixou, ontem, era um “homem além do seu tempo”, conforme depoimentos de líderes políticos da Paraíba que conheceram de perto o proprietário do Grupo São Braz e expoente de uma prestigiosa Rede de Televisão do Estado, além do “Jornal da Paraíba”, que sustentou, na sua versão impressa, por amor a Campina Grande e respeito ao quadro de profissionais. Além de visionário com capacidade empreendedora indiscutível, José Carlos pautou a sua trajetória pela seriedade e pela credibilidade na vida pública. Mesmo quando atendeu a apelos e ingressou na política, José Carlos não se deixou contaminar pelo universo poluído das tramóias feitas em cima do interesse público. Tinha uma concepção clara da fronteira que separava o interesse público dos interesses privados, o bastante para não confundi-los ou misturá-los. Não houve uma só denúncia questionando sua integridade ou honradez em cargos públicos eventualmente ocupados.
Seu ingresso na atividade política deu-se em 1982, quando foi convidado por Wilson Braga a ser seu vice na chapa que acabou vitoriosa ao governo do Estado. No episódio da renúncia de Braga para concorrer ao Senado, José Carlos foi indicado candidato a governador pelo esquema PDS-PFL, mas percebeu, em tempo, manobras para torná-lo uma espécie de “trem pagador” da campanha e de outras campanhas. Na prática, a candidatura dele seria “cristianizada” na disputa. O governo do Estado passara às mãos de Milton Cabral, identificado com a liderança política de Wilson e que foi indicado, por via indireta, pela Assembleia, para exercer mandato-tampão em conclusão ao governo empalmado por Braga. A passagem de Milton pelo Palácio da Redenção foi desastrosa. José Carlos oficializou desistência da candidatura ao governo no dia 26 de julho de 86, no mesmo dia em que o então PMDB indicava o deputado Tarcísio Burity como candidato ao governo. Assumiu o governo durante 299 dias e dava-se por satisfeito em ter carimbado sua parcela de contribuição à Paraíba.
Como reconstituiu Severino Ramos no livro biográfico sobre Tarcísio Burity – “Esplendor & Tragédia”, a partir da decisão de não ser candidato, José Carlos evitou contatos com dirigentes do esquema governista e manteve, em relação à disputa eleitoral, uma posição de alheamento. Embora tenha ajudado alguns candidatos, tanto do PDS como do PFL e do PMDB, não subiu em nenhum palanque nem fez qualquer declaração de compromisso. Viajou, inclusive, ao Japão, o que serviu não apenas para descanso, como, também, para reintegração às atividades empresariais. A extinta revista “A Carta” noticiou que, nos bastidores, José Carlos tinha restrições a figuras do grupo político que estava no poder. Pessoalmente, considerava-se um homem sério incapaz de compactuar com negociatas, nutria respeito e admiração pela classe política e sentia-se mesmo gratificado por ter tido a chance de conviver com ela. Ele aceitou ser suplente de senador de Ronaldo Cunha Lima, vitorioso em 1994 juntamente com Humberto Lucena, tendo Antônio Mariz como eleito ao governo.
No período em que assumiu o mandato titular no Senado Federal, tratado na mídia como “Senador Silva Júnior”, o empresário José Carlos fez intervenções pertinentes e lúcidas sobre questões da realidade nordestina, debruçando-se, também, em análises acerca da conjuntura econômica nacional e de problemas específicos da Paraíba. Afloravam, nas suas manifestações, opiniões de um homem público que aliava a sensibilidade com a consciência da visão social que deveria nortear o comportamento das classes produtoras. No âmbito específico da Paraíba tornou-se referência no diagnóstico de desafios, na abordagem das suas causas e na propositura de alternativas que concebia para tais contenciosos, mercê da sua própria experiência adaptada à gestão pública. Aliás, quando foi chamado a exercer o governo do Estado em diferentes ocasiões, portou-se com serenidade, com equilíbrio exemplar.
Um dos episódios em que a sua ação equilibrada foi testada foi o do assassinato do jornalista Paulo Brandão, sócio-proprietário da Polyutil e do Sistema Correio de Comunicação, na década de 80. José Carlos foi pessoalmente às empresas igualmente atingidas com o crime brutal e, dentro das suas competências, determinou as primeiras medidas oficiais para elucidação do atentado, articulando-se com autoridades da própria Polícia Federal e de outros setores, dada a ampla repercussão que o acontecimento provocara. Conduziu, sem estardalhaço, soluções para problemas que afetavam categorias da sociedade e do funcionalismo público, adotando como norma sagrada o diálogo. O empresário incorporava à sua trajetória na vida política as práticas que estavam associadas ao seu dia a dia na lide empresarial, de onde descortinava, às vezes como figura privilegiada, informações sobre a natureza dos gargalos nacionais e, por via de consequência, dos mecanismos que deveriam ser adotados em proveito de solução.
A postura sensata e correta de José Carlos da Silva Júnior fez com que ele tivesse relacionamento nas mais diversas correntes políticas do Estado e do país. Dos episódios frustrantes que lhe aconteceram na vida pública não guardou ressentimentos, tanto assim que como presidente de um poderoso grupo de comunicação na Paraíba abriu espaço, indistintamente, para a expressão de gregos e troianos. Foi um formulador de políticas públicas, como se pode inferir de trechos de palestras, debates e conferências que pontuaram a sua biografia como líder empresarial do Nordeste. E, nesse particular, devotava interesse especial pelas demandas da Paraíba, o que lhe conferiu a dimensão de que sua personalidade se revestiu, tal como realçado nos depoimentos dos que se sentiram órfãos com a sua partida. Ele foi um construtor da Paraíba que ainda luta pelo seu desenvolvimento pleno, pela sua emancipação,