Nonato Guedes
O transcurso, amanhã, do Dia Internacional da Mulher, reacende o debate sobre os espaços que o contingente feminino detém na representação política nacional, ainda considerados insuficientes por especialistas e pelas próprias ativistas. Não obstante, é ressaltado o pioneirismo de algumas mulheres e a sua contribuição para o avanço da representatividade feminina nas instâncias políticas e de poder. Uma expoente nesse cenário foi a deputada federal Lúcia Braga, já falecida. Mulher do ex-governador Wilson Leite Braga (também falecido), Lúcia elegeu-se em 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte, que foi considerada como marco importante na história da redemocratização e das conquistas sociais. Em 86 nenhuma mulher foi eleita para o Senado mas houve significativo aumento no número de eleitas para a Câmara Federal, que alcançou 26 deputadas – Lúcia Braga entre elas.
Como mulher do governador Wilson Braga, empossado em 1983, Lúcia destacou-se à frente da Fundação Social do Trabalho, Funsat, órgão que atuava na linha da assistência a famílias carentes ou em situação vulnerável a partir da periferia de João Pessoa. Lúcia, que era Assistente Social, adquiriu a partir daí projeção que a levou a uma intensa militância política, permeada por atitudes polêmicas. Ela discrepou, por exemplo, do marido, na eleição indireta para presidente da República em 1985. Manifestou preferência, publicamente, pela candidatura de Tancredo Neves (vitoriosa), enquanto o marido fechou com a candidatura de Paulo Maluf (PDS). Na Constituinte, embora tenha tido ação prejudicada pelo dever de assistir a filha, Patrícia, vítima de acidente automobilístico em Minas Gerais, Lúcia demonstrou alinhamento com posições de esquerda nas matérias controversas.
Ela ficou na linha de frente das batalhas contra o “Centrão”, um agrupamento fisiológico e conservador que atuava para impedir avanços, sobretudo nas questões econômicas e sociais. O “Centrão” ainda hoje sobrevive na Câmara, com parlamentares de diferentes partidos, tendo tido papel decisivo na recente eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidente, derrotando Baleia Rossi (MDB-SP). Lúcia Braga chegou a ser candidata ao governo do Estado em 1994, perdendo a disputa para Antônio Mariz, que concorreu pelo PMDB. Ela também concorreu à prefeitura de João Pessoa, tendo sido derrotada por Cícero Lucena, que em 2020 voltou ao comando da municipalidade na Capital. Lúcia foi responsável pela migração de Wilson Braga do PDS-PFL para o PDT, o que lhe valeu elogios e reconhecimento público da parte do ex-governador Leonel Brizola, que fundou a sigla quando perdeu o controle do PTB para Ivete Vargas no retorno ao Brasil com o fim da ditadura militar.
No livro “Mulher e Política na Paraíba – Histórias de Vida e Luta”, Glória Rabay e Maria Eulina Pessoa de Carvalho lembram que a década de 1980 marcou o retorno da democracia com o fim do bipartidarismo e a ascensão do movimento de mulheres, em processo de organização desde 1975. “Por conseguinte, as plataformas eleitorais começaram a contemplar, com maior frequência, as questões trazidas pelos novos movimentos sociais, entre os quais o feminista”, ressaltam. Depois das eleições gerais de 1982, quando, pela primeira vez desde o golpe militar, se elegeram governadores estaduais, a questão da mulher teve espaço nos discursos eleitorais e nos programas políticos oficiais. Os governos dos Estados criaram as primeiras políticas públicas específicas para a população feminina, como os Conselhos dos Direitos da Mulher e as Delegacias Especializadas. Em 1982, 28 mulheres foram eleitas para as Assembleias Legislativas estaduais. Na Paraíba, quatro se candidataram à ALPB, tendo sido eleita Vani Braga, do PDS, irmã do governador Wilson Braga. Ainda em 1986, na Paraíba, 20 mulheres se candidataram e duas foram eleitas deputadas estaduais: Vani Braga, reeleita, pelo PFL, e Geralda Medeiros, pelo PMDB.
A primeira mulher eleita senadora pela Paraíba foi a ex-deputada estadual Daniella Ribeiro, do Partido Progressista, nas eleições de 2018. A atual vice-governadora, Lígia Feliciano, do PDT, exerce o mandato pela segunda vez consecutiva. Ela foi vice-governadora na gestão de Ricardo Coutinho (PSB) e mantém-se no cargo na administração de João Azevêdo (Cidadania). Lígia, que foi candidata ao Senado mas não logrou êxito, não foi pioneira no exercício da vice-governança. Antes dela, na primeira gestão de Cássio Cunha Lima (PSDB), a partir de 2003, a vice-governadora foi Lauremília Lucena, mulher de Cícero Lucena (PP), que voltou a ocupar a prefeitura de João Pessoa. A atual primeira-dama da Capital paraibana é conhecida pela sua atuação junto a populações carentes da periferia, desde o período em que o marido foi vice-governador (na gestão Ronaldo Cunha Lima) e governador, por dez meses.