Nonato Guedes
Falta, é claro, o fato concreto, histórico, incontestável: a eleição da primeira governadora da Paraíba, o que pode não estar muito distante. Mas, na Paraíba, pode-se dizer que as mulheres já ultrapassaram a ante-sala do Poder e se instalaram, efetivamente, dentro do Poder, agindo nas diversas instâncias, do Executivo ao Legislativo, passando pelo Judiciário, pela Universidade Federal, por outras instituições representativas da sociedade. Uma consequência das lutas que travaram com obstinação e da sensibilidade que tiveram para fazer chegar suas mensagens ao eleitorado. Habilidosamente, quebraram tabus, derrubaram muros, venceram obstáculos.
A eleição, em 2018, de Daniella Ribeiro como a primeira senadora da História da Paraíba foi um marco dentro de um Estado onde os resquícios da dominação machista ainda subsistem, não apenas na estrutura de poder propriamente dita mas no seu entorno, como no interior dos partidos ou agremiações políticas encarregadas de sacramentar candidaturas que se habilitarão ao escrutínio popular. Daniella concorreu com nomes de peso ou de expressão na conjuntura local como o ex-governador Cássio Cunha Lima, o senador Veneziano Vital do Rêgo e o ex-deputado federal Luiz Couto. Conquistou a segunda vaga com méritos, inscrevendo seu nome na galeria de personagens valorosos da Paraíba e do Nordeste brasileiro. Quanto à sua atuação no Senado, tem correspondido, na média, às expectativas, pautando seu mandato por caráter específico que abrange as demandas constantes da sua própria agenda, refletindo o modo de visão com que encara a vida pública.
Antes dela, em termos executivos, a partir de 2003, no primeiro mandato no Palácio da Redenção, Cássio Cunha Lima (PSDB) contou com Lauremília Lucena como vice-governadora. Foi a primeira mulher a exercer esse cargo. Com atuação na área de assistência social em bairros de João Pessoa, desde as administrações do marido, Cícero Lucena, à frente da prefeitura, Lauremília credenciou-se, naturalmente, à sua indicação para o posto. Foi uma voz ativa na condução dos programas de Cidadania levados a várias comunidades do interior paraibano e trabalhou em articulação com o governo do Estado no apoio a projetos de artesanato que beneficiavam, sobretudo, os que não tinham recursos para montar arranjos produtivos e sobreviver. Lauremília voltou a ser primeira-dama da Capital paraibana, com o retorno de Cícero, pela terceira vez, agora pelo PP, à prefeitura local. E continua presente nas ações paralelas que reforçam a gestão municipal no campo social. Sempre se destacou pela simplicidade, por nenhum deslumbramento em decorrência do exercício de funções públicas.
A postura simples mas solidária e de ação concreta de Lauremília Lucena nos projetos sociais que empalmou em administrações públicas é comparada, às vezes, no estilo, com o da ex-deputada Lúcia Braga, já falecida, que foi primeira-dama do Estado na gestão do marido, Wilson, destacou-se na Câmara Federal e não conseguiu se eleger ao governo em 1994, mas deixou um vasto legado na Fundação Social do Trabalho, Funsat, que idealizou e que apoiou categorias de pessoas vulneráveis ou de pessoas com talentos para a criatividade e a produção. Claro que as personalidades de Lúcia e Lauremília guardam muitas diferenças, até mesmo divergências conceituais. Mas é fora de dúvidas que ambas polarizaram atenções pela atuação no mister político – Lúcia com mais desenvoltura, inerente ao próprio temperamento aguerrido, contestador.
Depois de Lauremília, ascendeu à vice-governança a doutora Lígia Feliciano, que, numa das disputas da Paraíba tentou, mesmo, concorrer ao Senado Federal. Lígia, filiada ao PDT, que é presidido pelo marido, deputado federal Damião Feliciano, distingue-se de Lauremília não apenas pelo estilo mas por uma circunstância: é vice-governadora reeleita. Ela ocupou o posto no governo de Ricardo Coutinho, que se concluiu em dezembro de 2018, e foi reconduzida ao participar da chapa encabeçada pelo atual governador João Azevêdo. Lígia Feliciano é atuante em outros níveis ou esferas, como a de emissária do governo da Paraíba para contatos com missões empresariais no empenho para carrear investimentos que favoreçam o desenvolvimento do Estado. Ela conduziu, por delegação, missões ou empreitadas em países como a China, descortinando, lá fora, as potencialidades e os nichos de investimento que a Paraíba oferece. Tem o reconhecimento de ter sido ótima interlocutora nas tratativas ensaiadas com representantes de grupos econômicos de peso lá fora.
Na Câmara Federal, a representação feminina da Paraíba consegue, de algum modo, sobressair-se. Hoje, o Estado conta com apenas uma deputada – Edna Henrique, mas já acolheu outras mulheres combativas em legislaturas passadas. No Senado, com a morte de José Maranhão, as mulheres tornaram-se maioria na bancada do Estado, já que a primeira suplente Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ascendeu à titularidade. Na Assembleia Legislativa, destacam-se deputadas como Cida Ramos, Pollyanna Dutra, Dra. Paula Francinete, Jane Panta, Estelizabel Bezerra, Camila Toscano, cuja contribuição tem sido inegável para o debate e solução de problemas da Paraíba, abarcando os diversos segmentos que representam na Casa. A ocupação de espaços pelas mulheres no centro do Poder estadual é uma tendência cada vez mais iminente, proporcional aos esforços que elas desenvolvem e à receptividade do eleitorado para mesclar a sua representatividade política. Justas e sinceras homenagens a todas essas guerreiras da vida pública do Estado!