Nonato Guedes
A nível de opinião pública a impressão reinante é de que a polêmica entre o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), e o governo João Azevêdo (Cidadania), configura com muita antecedência uma prévia da disputa pelo Palácio da Redenção nas eleições de outubro do próximo ano. Azevêdo será candidato à reeleição enquanto Bruno, que pilota a segunda cidade do Estado e uma das mais importantes do Nordeste, está comprometido com a candidatura do antecessor, Romero Rodrigues, presidente estadual do PSD, ao Palácio da Redenção. Romero, que é identificado com o presidente Jair Bolsonaro e deverá ter o apoio dele na campanha vindoura, colocou informalmente o bloco na rua e seus aliados atuam no compasso ditado pela evolução dos acontecimentos.
O pretexto para a briga entre Cunha Lima e o governador é o rebaixamento de Campina Grande para a bandeira laranja no Plano Novo Normal Paraíba, o que submete a Rainha da Borborema ao cumprimento de medidas mais duras no enfrentamento da Covid-19. O prefeito questionou os critérios adotados pelo governo do Estado para a decisão alegando que desde o início da pandemia Campina Grande tem feito o dever de casa, adotando medidas para reduzir a propagação do novo coronavírus. Também argumentou que a cidade é penalizada por ajudar outros pacientes, originários de regiões distintas, até de outros Estados, como ocorreu recentemente com o atendimento a pacientes de Manaus, no Amazonas. Há um compromisso do prefeito com setores produtivos de Campina Grande para manter atividades comerciais em funcionamento, dentro dos protocolos de segurança sanitários exigidos pelas autoridades. Com a situação de iminente colapso da rede hospitalar estadual pública e privada, o governo do Estado entende que medidas mais rigorosas de distanciamento social devem vigorar nesta fase da calamidade.
O conflito se torna inevitável porque a divergência entre os gestores (do Estado e do município) é latente e porque, de acordo com deliberação consensuada nos tribunais superiores, os municípios têm autonomia para agir, respeitado o verdadeiro diagnóstico da situação que enfrentam neste período de calamidade. O prefeito Bruno Cunha Lima chegou a confrontar diretamente o governador João Azevêdo na videoconferência que este realizou no domingo e que congregou outras autoridades, para discussão do agravamento do quadro de contaminação e da superlotação de leitos de UTI e enfermaria nos hospitais, mas o chefe do Executivo estadual evitou bate-boca, embora sustentasse com firmeza seus pontos de vista a respeito da necessidade de endurecimento de medidas.
No lugar do governador manifestou-se, ontem, o secretário de Saúde do Estado, Geraldo Medeiros, para esclarecer que os critérios não são propriamente estipulados pelo governo no que diz respeito à classificação das localidades da Paraíba por bandeiras neste período de convivência com o novo coronavírus. Geraldo Medeiros descartou quaisquer injunções políticas por trás da adoção de providências, enfatizando que o governo toma por base as avaliações que são feitas por professores e especialistas com o timbre de Universidades, debruçados no levantamento minucioso das oscilações que estão se verificando na curva de incidência de Covid-19 no Estado. Medeiros, de certa forma, irritou Bruno mais ainda quando se referiu a ele como “neófito”, dando a entender que isto explica suposta análise equivocada do prefeito de Campina Grande a respeito da situação.
Bruno, que está há pouco mais de dois meses à frente da administração da Rainha da Borborema, rebate que não é neófito na vida pública, já que atuou como deputado estadual e é autor de iniciativas de repercussão positiva para a população no âmbito da própria área da Saúde. Ainda que não tenha firmado uma experiência administrativa mais sólida, o que passa a tomar corpo somente agora, ele lembrou que tem assinalado êxitos, principalmente na linha direta que tem com o governo do presidente Jair Bolsonaro, o que rendeu a Campina Grande pioneirismo ou posição de vanguarda em relação à própria Capital, João Pessoa, em aspectos pontuais do programa nacional de imunização contra a covid-19. Aliás, o prefeito de Campina, ao fixar comparativos com a Capital do Estado, acabou atingindo a administração do prefeito Cícero Lucena (PP), que foi eleito com o apoio de João Azevêdo, e que viria sendo contemplado com tratamento privilegiado por parte do governo do Estado na política de enfrentamento à Covid-19.
A briga política entre o governo do Estado e a prefeitura de Campina Grande ou entre o governo do Estado e a prefeitura de qualquer cidade da Paraíba em plena pandemia do novo coronavírus, com repiques de agravamento como os que têm acontecido, não interessa a ninguém. Da mesma forma como a opinião pública não vê com bons olhos o atrito constante entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores de Estados, inclusive os do PT e o da Paraíba. Azevêdo tem subscrito manifestos de chefes de governos estaduais, questionando atitudes, declarações e outras iniciativas do presidente da República que atrapalham a união nacional para enfrentamento à covid-19. Na verdade, a politização da calamidade de saúde pública não é apenas inoportuna, mas indesejável. O país está pagando um alto preço na crise da Covid justamente por causa de posturas negacionistas e outros erros cometidos no combate à pandemia. Politização é um eufemismo para politicagem – que ,como todos sabem, sempre atrapalhou o Brasil, sempre puxou o país para trás, nunca para adiante.