Nonato Guedes
Embora tenha declarado que ficou “feliz” com a decisão tomada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulando todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no âmbito da Operação Lava Jato do Paraná, o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania) foi cauteloso ao ser questionado sobre possível interesse em estar no palanque de Lula nas eleições de 2022. Com a decisão do ministro Fachin, o ex-presidente volta a ser elegível, e expoentes do PT e da esquerda já voltam a cogitar seu nome para enfrentar Jair Bolsonaro. Azevêdo, em entrevista ao programa Rede Verdade, da TV Arapuan, exemplificou que nem sequer sentou com líderes do PT paraibano, “um aliado nosso”, para discutir a sua própria candidatura à reeleição, frisando que a prioridade continua sendo o enfrentamento ao coronavírus.
Fontes do próprio PT paraibano, “em off”, revelaram que apesar de integrantes do partido estarem apoiando o governo de João Azevêdo, o interlocutor principal do ex-presidente Lula da Silva no Estado ainda é o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Lembram como emblemática a posição adotada por Lula na campanha eleitoral a prefeito de João Pessoa em 2020, quando ignorou completamente a candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia, militante petista, e pediu votos, no Guia Eleitoral, para Ricardo Coutinho, a quem tratou como “companheiro”. No episódio do envolvimento de Ricardo em processos da Operação Calvário, referentes a desvios de recursos públicos e recebimento de propinas, Lula chegou a declarar que acreditava na inocência dele. Ricardo foi derrotado na campanha de 2020, está inelegível, a dados de hoje, para disputar o governo no próximo ano e, ultimamente, não tem aparecido na mídia. Quando governador, ele prestou solidariedade a Lula por ocasião da sua prisão, inclusive visitando-o na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permaneceu por 580 dias.
João Azevêdo afirmou textualmente sobre o caso Lula: “Estou feliz porque a Justiça pode tardar mas não falhou nesse caso para Lula. Todos os argumentos usados para suspender as ações de Curitiba já haviam sido postos pela defesa de Lula. Por que só agora eles foram vistos? Fico feliz porque o ex-presidente recuperou sua capacidade de ser votado, mas ele foi alvo de um grupo que misturou projeto político com Justiça. A Lava Jato, mesmo tendo uma importância extraordinária no combate à corrupção, misturou num determinado momento o projeto político de algumas pessoas com a política”. João Azevêdo fez sua estreia nas eleições municipais do ano passado como líder de um partido. O Cidadania, no qual ingressou após desfiliar-se do PSB por incompatibilidades com Ricardo Coutinho, concorreu em algumas cidades com candidatos próprios a prefeito, em outras com candidatos a vice e fez composições com outras agremiações em diferentes localidades. Foi assim em Guarabira, quando ofereceu apoio a Roberto Paulino (MDB), derrotado pelo PSDB, e em Campina Grande, quando se compôs com a candidatura de Ana Cláudia (Pros), derrotada num páreo vencido em primeiro turno por Bruno Cunha Lima (PSDB).
Enquanto o governador João Azevêdo comanda ações efetivas de combate à covid-19 no Estado, empenhando-se, inclusive, por remessas constantes de vacinas para imunizar toda a população paraibana dentro do menor espaço de tempo possível, os dirigentes do “Cidadania”, à frente o presidente Ronaldo Guerra, articulam conversas de bastidores, projetando possíveis alianças na disputa majoritária de 2022. A preocupação imediata diz respeito ao fortalecimento dos quadros do próprio “Cidadania”, bem como a entendimentos com representantes de partidos políticos para sondar a possibilidade de alianças ou adesões ao projeto de recandidatura do governador João Azevêdo. As decisões relacionadas ao alinhamento na sucessão presidencial serão tomadas de conformidade com a diretriz do próprio governador João Azevêdo, que é mais articulado nessa seara, como admitem os seus liderados no Estado.