Contrariando declarações feitas pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o governador do Piauí Wellington Dias (PT), coordenador da Frente Nacional dos Governadores para a temática de vacinas, afirmou ontem que o Brasil já vive um colapso da rede hospitalar. “Neste instante, já estamos dentro de um colapso nacional na rede hospitalar. Não vamos para ele. Já estamos. Tem nesse instante uma fila gigante. Estou falando de milhares mesmo. Algo como 30 mil, 40 mil pessoas em todas as filas hospitalares por vaga de UTI, e, em alguns lugares, também, de leito clínico. Ou seja, gente morrendo por falta de respirador”, afirmou o gestor piauiense.
A declaração foi dada em reunião remota da comissão de monitoramento da covid-19 do Senado a senadores e outros governadores. Em vídeo, Pazuello afirmou que o sistema de saúde “está muito impactado, mas não colapsou, nem vai colapsar”. Essa fala do ministro aconteceu no dia em que o Brasil registrou a morte de 2.354 pessoas pela covid-19, o maior número em 24 horas desde o início da pandemia. Wellington Dias, no contraponto, salientou que medidas preventivas são um paliativo, sendo a saída mais definitiva a vacinação da população. Ele disse que, como a nova variante do coronavírus tende a ser mais transmissível, a ideia dos governadores é aplicar ações que ajudem a conter essa transmissibilidade. No entanto, comentou que a realidade estadual de cada mandatário será levada em conta.
Nas últimas semanas, alguns Estados voltaram a endurecer restrições na circulação de pessoas e na abertura do comércio, sob protesto de parte da população, diante da escalada de novos casos da covid-19. A vacinação no país foi iniciada mas os governadores cobram o Ministério da Saúde por definições mais claras no cronograma de fornecimento e aplicação das doses. Wellington Dias afirmou que os governadores trabalham com a perspectiva de se chegar a abril com cerca de 50 milhões de pessoas vacinadas no país. Esse grupo representa as pessoas sendo vacinadas nesta primeira fase, como idosos, indígenas, pessoas com comorbidades e moradores de asilos, por corresponderem a cerca de 70% dos casos de internações e óbitos, disse.
No vídeo, Pazuello diz que o governo entregou “mais de 20 milhões de doses” de vacinas e que até o final de abril deve-se chegar a mais de 80 milhões de doses distribuídas. Ele frisou que há uma “unidade nacional indissolúvel entre o governo federal, o Congresso Nacional, os Estados e os municípios, para agilizar a vacinação. Enquanto isso, governadores e prefeitos cobram do ministério resoluções e respostas mais concretas. Para tanto, os governantes estaduais chegaram a recorrer aos presidentes da Câmara e do Senado como forma de aumentar a pressão para ações do governo federal. Wellington Dias ressaltou a importância da lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro para viabilizar a compra de imunizantes da Pfizer e da Janssen. O projeto de lei foi articulado com a ajuda de senadores para destravar resistências do governo federal. Dias também afirmou que os trâmites na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) devem ser agilizados.
O governador do Piauí reclamou que a AstraZeneca não estaria cumprindo contrato firmado quanto ao fornecimento do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) importado e de restrições de exportações impostas pela Índia. Relatou ainda que a produção da vacina AstraZeneca deve ser aumentada nos próximos meses. Wellington Dias afirmou que o objetivo é manter a previsão de todas as vacinas serem distribuídas pelo governo federal, até como forma de evitar disputas entre municípios e Estados, o que pode levar ao aumento de preços. “Daqui a pouco, vai dar cadeia para todo mundo. Ou seja, o caminho adequado é o da centralização”, expressou. Outros governadores também defendem que o governo federal deve centralizar a compra de medicamentos e insumos usados no combate da covid-19 para que se evite um aumento acentuado de preços e falta de estoque em algumas unidades federativas.