Nonato Guedes
O deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente do diretório estadual do PSDB na Paraíba, avalia que o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao cenário político, com possibilidade de voltar a disputar a presidência da República, terá implicações no quadro eleitoral para o ano que vem. Em declarações ao jornal “O Globo”, o parlamentar revelou ter conversado com alguns prefeitos do sertão paraibano e constatou que nesses municípios “não tem nem graça”, referindo-se ao efeito da anulação, pelo ministro Edson Fachin, das condenações impostas ao líder petista no âmbito da Operação Lava Jato no Juízo de Curitiba. “Lula vai tomar conta de tudo. Ele é muito forte e, sobretudo com esse cenário do fim do auxílio emergencial, traz muita força. E me deixou até atordoado, porque para quem quer construir uma terceira via, praticamente não tem mais espaço”, prosseguiu o deputado.
Segundo a reportagem de “O Globo”, dirigentes partidários aliados ao presidente Jair Bolsonaro avaliam que a anulação das condenações de Lula pode ser encarada como uma boa notícia. Com o fortalecimento da polarização entre os dois em 2022, esperam vantagem para o atual titular do Palácio do Planalto. Mas o sentimento que predomina no “baixo clero” do Congresso, especialmente nas bancadas do Nordeste, é diferente. Deputados entrevistados pelo jornal carioca temem que ficar contra Lula seja um suicídio eleitoral no ano que vem. Salientam que mesmo se o petista não conseguir se eleger presidente, o seu apoio será definidor nas eleições para o Congresso Nacional, como um relevante cabo eleitoral. Pedro Cunha Lima foi enfático ao dizer que na Paraíba a decisão que tornou Lula elegível diminui muito a chance de uma terceira via.
Para ele, a única esperança do centro é se unir em torno de um único nome, mostrando um projeto político unificado. Pedro Cunha Lima integra uma ala do PSDB que defende que não necessariamente seja lançado um tucano à Presidência, ainda que apoie o nome de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Filho do ex-senador Cássio Cunha Lima, que também foi governador da Paraíba, eleito por duas vezes, Pedro tem se projetado na Câmara Federal por posições independentes, embora seja considerado como integrante da base do presidente Jair Bolsonaro. Seu foco principal no mandato tem sido a defesa da bandeira da Educação, que ele considera prioritária, em paralelo com a eliminação de vantagens e privilégios que são concedidos a parlamentares da Câmara e do Senado. Ele próprio tem dado exemplos de rejeição de privilégios, abrindo mão de verbas decorrentes do auxílio-moradia e repassando recursos oriundos da sua quota para entidades filantrópicas da Paraíba.
Cássio Cunha Lima, quando prefeito de Campina Grande, numa das gestões (governou por três vezes) criou fato político de repercussão nacional ao promover, como expoente do PSDB, uma composição com o PT, tendo aceito a candidatura da ex-sindicalista Cozete Barbosa para sua vice. Ela completou o mandato de Cássio quando este renunciou para concorrer ao governo do Estado e sair vitorioso. Como governador, num dos períodos que empalmou, teve acesso privilegiado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo recebido com deferência no Palácio do Planalto. Lula, segundo se dizia, ficou bastante sensibilizado com o gesto de Cássio na eleição municipal. Posteriormente, já senador da República e ocupando cargos de destaque dentro do partido no próprio Congresso Nacional, Cássio Cunha Lima assumiu linha de oposição ao PT e aos seus governos, ocorrendo, assim, a ruptura do canal de diálogo com o próprio Lula, que passou a se aliar a Ricardo Coutinho (PSB) no Estado. Atualmente, Cássio está afastado da militância política, dedicando-se a projetos “realizadores” na iniciativa privada. Já avisou que não disputará nenhum mandato nas eleições de 2022, embora continue sendo figura respeitada na conjuntura local, especialmente junto ao núcleo de oposição ao governo João Azevêdo (Cidadania).