Nonato Guedes, com agências
A volta da elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com chance de concorrer novamente à presidência da República em 2022, vem provocando reviravoltas por parte de pretensos postulantes ao Planalto ou por partidos políticos que cogitavam disputar a eleição com nomes próprios. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) passou a admitir claramente, pela primeira vez, a hipótese de disputar um segundo mandato e, assim, abandonar o projeto nacional de concorrer à sucessão do presidente Jair Bolsonaro. “Diante desse novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado”, acentuou Doria ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Doria costumava afirmar que, por princípio, era contra o instituto da reeleição. O desgaste político por causa das medidas de restrição impostas no Estado em razão da pandemia do novo coronavírus, o mau desempenho em pesquisas recentes e a mudança do cenário nacional com a anulação das condenações impostas ao ex-presidente Lula, estaria pesando na reavaliação dos planos de Doria. O PSDB também está dividido em relação ao projeto nacional – parte dos dirigentes prefere que o governador se dedique à reeleição. Ultimamente, antes do “fator Lula”, João Doria vinha enfrentando a ameaça de um concorrente na disputa pela indicação de candidatura ao Planalto dentro do PSDB, o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.
Expoentes do tucanato avaliam que com a desistência de Doria o mesmo deve se dar em relação a Eduardo Leite, que tem menos visibilidade na conjuntura nacional. O governador de São Paulo se desgastou ao travar polêmicas acirradas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tendo como pano de fundo o enfrentamento à pandemia de covid-19. Mais tarde, desentendeu-se com o Palácio do Planalto na questão da fabricação e distribuição de vacinas para imunizar a população contra o coronavírus. Chegou a fazer gestões isoladas para adquirir imunizantes. O “efeito dominó” favorável a Lula já levou Guilherme Boulos, do PSOL, a admitir abrir mão da candidatura ao Planalto no próximo ano e apoiar uma presumível candidatura de Lula. Em 2018, Boulos foi candidato a presidente mesmo com o PT tendo lançado Fernando Haddad para substituir Lula, que estava impedido de disputar. Nas eleições para prefeito de São Paulo em 2020, Boulos candidatou-se, desafiando a própria candidatura do PT, representada por Jilmar Tato, que teve um péssimo desempenho. Enquanto isso, o presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, Carlos Siqueira, também numa entrevista ao “Estadão”, preconizou a criação de uma frente ampla para, segundo ele, barrar o autoritarismo do governo de Jair Bolsonaro. E o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, exonerado da pasta da Saúde por Bolsonaro, revelou que o Democratas, partido ao qual é filiado, pode abrir mão da cabeça de chapa nas eleições de 2022. Mandetta declarou que o cenário de disputa entre Lula e Bolsonaro é de “pesadelo” e força o centro a debater um projeto único.