Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer discurso golpista, ontem, ao cumprimentar apoiadores que se aglomeravam no Palácio do Alvorada para comemorar o aniversário de 66 anos do ex-capitão, mesmo diante da pandemia de Covid-19. Bolsonaro apareceu de máscara e só tirou o equipamento de proteção para fazer discurso. “Pode ter certeza de uma coisa: minha força vem de Deus e de vocês. Enquanto vivo eu for, enquanto eu for presidente, só Deus me tira daqui. Eu estarei com vocês”, declarou o mandatário.
Mais uma vez, Bolsonaro atacou governadores e prefeitos que adotam práticas de isolamento social, embora elas sejam recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, e disse que o seu exército é “o verde-oliva” e os apoiadores. “Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade. Estão esticando a corda, faço qualquer coisa pelo meu povo. Pode confiar na gente”, completou. O presidente declarou, ainda, que “não quer que o Brasil mergulhe no socialismo”. Enquanto isso, uma reportagem do UOL revelou que a continuidade do discurso negacionista de Bolsonaro em meio ao pior momento da pandemia de covid-19 e a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tabuleiro eleitoral para 2022 estão levando integrantes do Centrão a repensar o limite de fidelidade ao Planalto.
O Centrão é um agrupamento informal de partidos que costuma se alinhar ao governo que estiver no poder em troca de mais espaço na administração pública. No governo Bolsonaro, passou a constituir a massa da base aliada dele no Congresso Nacional desde meados do primeiro semestre do ano passado. No entanto, o apoio tem limite e termina quando não compensa mais politicamente ficar ao lado da atual gestão. O relacionamento entre Centrão e Bolsonaro não chegouu a um racha, mas está se abalando. Um senador do grupo compara o governo e o Centrão a noivos que sabem que nunca vão se casar, que foram unidos pelas circunstâncias no passado. Enquanto isso, cada um fica querendo aumentar o próprio dote nos bastidores para manter uma boa imagem em público até onde der.
Um dos principais pontos no radar do Centrão, hoje, é a rejeição crescente da população a Bolsonaro na gestão da crise sanitária, como mostrou pesquisa Datafolha divulgada na terça, 16. Para integrantes do Centrão, a insatisfação do povo só não está pior por conta do auxílio emergencial, que agora tende a ser menor e não durar toda a pandemia. Ao mesmo tempo, após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Lula restabeleceu seus direitos políticos e já disparou uma série de críticas ao governo de Bolsonaro. A aposta de integrantes do Centrão é que a polarização política no país entre Bolsonaro e Lula só vai se acirrar até a eleição presidencial de 2022, enquanto a sociedade tem apresentado sinais de cansaço de embates excessivos. Nesse caso, o centro pode virar o fiel da balança e seus integrantes avaliam que é melhor não aparecer tão ligado ao governo de Bolsonaro.