Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, que fez o caminho de volta ao MDB, depois de ter se desfiliado do PSB, e que, com a morte de José Maranhão passou a ser admitido naturalmente como o principal líder da agremiação na Paraíba, tem pela frente o enorme desafio de soerguer uma sigla com histórico de tradição no cenário político local, avançando pela conquista do poder após a redemocratização que se seguiu ao fim da ditadura militar. Um exemplo do prestígio residual do MDB foi o seu desempenho nas eleições para prefeito de João Pessoa em 2020, quando logrou disputar o segundo turno com o candidato Nilvan Ferreira, dando combate ao ex-senador Cícero Lucena (PP), afinal consagrado.
Veneziano, que está dividindo atribuições no partido com o ex-governador Roberto Paulino e seu filho, o deputado estadual Raniery Paulino, herdou um MDB sem maior expressão ou representatividade na conjuntura atual e na correlação de forças políticas do Estado. Raniery é o único representante do partido na Assembleia Legislativa e não há nenhum deputado federal. O partido fortaleceu-se no Senado com a adesão de Veneziano, que já nutria incompatibilidades com o esquema do ex-governador Ricardo Coutinho, e com a ascensão à titularidade da primeira suplente Nilda Gondim, sua mãe, que assumiu com a morte do ex-governador e ex-senador José Maranhão. O MDB ainda mantém uma razoável base de lideranças municipais em algumas regiões do interior da Paraíba, mas carece de capilaridade para se fortalecer a nível estadual.
Em 2018, o governo do Estado cruzou pela sexta vez o caminho do senador José Targino Maranhão, mas a parada acabou favorecendo em primeiro turno o candidato João Azevêdo, que fez sua estreia em disputas políticas e que contou como cabo eleitoral valioso o ex-governador Ricardo Coutinho, mentor da postulação. Ricardo rompeu com João Azevêdo pouco tempo depois da investidura dele no governo do Estado porque queria sustentar posição de mandonismo no governo que já não lhe pertencia e, como retaliação, forçou a saída do governador dos quadros do PSB. Em 2020, num lance estratégico habilidoso, Azevêdo aplicou revanche política no esquema liderado por Coutinho, apoiando a candidatura de Cícero Lucena que foi vitoriosa. Ricardo, que foi candidato a prefeito pelo PSB e segurou a elegibilidade, apesar da citação em processos da Operação Calvário, não foi “para as cabeças” da eleição na Capital, inscrevendo no currículo a primeira grande derrota após deixar o Palácio da Redenção.
O MDB-PMDB na Paraíba teve dois políticos que se alternaram no seu comando nas últimas décadas e por período longevo: Humberto Lucena, que foi grande referência como conciliador nato e que conduziu a legenda ao poder local, e o próprio Maranhão, que ascendeu ao vencer quedas de braço com o esquema Cunha lima, representado ainda pelo poeta e ex-governador Ronaldo e por seu filho, o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima. No capítulo das candidaturas ao governo do Estado, Maranhão foi vice de Antônio Mariz na disputa em 1994, substituindo-o a partir de 1995 com sua morte. Em 98, disputou a reeleição, então aprovada pelo Congresso Nacional, e foi vitorioso. Em 2006, perdeu para Cássio Cunha Lima, mas em 2009 foi chamado a completar esse mandato após decisão do TSE que afastou o então governador. Na sequência, em 2010, Maranhão perseguiu novamente a disputa pelo Palácio, mas foi derrotado por Ricardo Coutinho, líder emergente que contou com o apoio decidido de Cássio Cunha Lima (PSDB) e Efraim Morais (DEM). Finalmente, em 2018, na última investida sobre o governo do Estado, JM ficou no meio do caminho.
O reingresso de Veneziano Vital do Rêgo na legenda e a posição de destaque por ele alcançada no próprio cenário nacional, exercendo a primeira vice-presidência do Senado já no primeiro mandato, alimentaram a especulação natural sobre eventual candidatura sua ao governo no próximo ano. Mas o senador, que foi preterido na indicação várias vezes, em ocasiões remotas, no PMDB, está abrindo mão dessa perspectiva. Já anunciou compromisso de apoio à candidatura do governador João Azevêdo à reeleição. O nome da secretária Ana Cláudia, mulher de Veneziano, que foi candidata a prefeita de Campina Grande em 2020, sem êxito, volta a ser mencionado como alternativa para compor a chapa majoritária oficial de 2022, mas não é questão decidida. De resto, Azevêdo precisará ampliar o arco de forças para a travessia de retorno ao Palácio da Redenção, levando em conta a nova configuração que está desenhada no panorama paraibano.
O PMDB chegou ao poder estadual em 1986 atraindo um dissidente do PDS, o deputado federal Tarcísio Burity, que já havia sido governador por via indireta. Foi uma articulação bem sucedida engendrada pelo senador Humberto Lucena para possibilitar a vitória do partido e quebrar o jejum experimentado no comando da administração paraibana. Em 1990, o partido cedeu à insistência legítima de Ronaldo Cunha Lima e adotou-o como candidato – vitorioso em segundo turno, num embate histórico contra Wilson Braga. Em 94, com Mariz e em 98 com Maranhão o partido manteve a escrita nas urnas. De lá para cá, o partido tem perdido quadros e atraído outros, anotando na trajetória vitórias pontuais. Tudo isto revela quão hercúlea é a missão de Veneziano pela frente. Ele terá que se desdobrar nos papéis de líder e de tarefeiro para reinserir o MDB no contexto das forças políticas representativas na Paraíba.