Nonato Guedes
O PSDB paraibano está anunciando para abril a deflagração de consulta aos seus filiados sobre a viabilidade de lançamento de candidatura própria ao governo nas eleições do próximo ano, além de posicionamento sobre o cenário eleitoral para a presidência da República em outubro de 2022. Em termos locais, o deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente do diretório regional tucano, teoricamente seria a opção para a hipótese de candidatura própria. Mas dificilmente a fórmula vai prosperar, em face do compromisso prévio que o PSDB paraibano tem com a pré-candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD. Além de Pedro, outro nome disponível no ninho tucano seria o do deputado federal Ruy Carneiro, que obteve boa performance nas eleições para prefeito de João Pessoa em 2020.
A verdade é que tanto a nível nacional como no plano político paraibano o PSDB dificilmente terá papel de protagonismo nas eleições majoritárias de 2022. Pode até participar do páreo, mas como coadjuvante ou até mesmo como assistente. Em termos de Paraíba, o PSDB polarizou por um bom tempo com o P(MDB) e PSB do ex-governador Ricardo Coutinho as disputas majoritárias marcantes. Ainda em 2014, o ex-senador Cássio Cunha Lima, que foi eleito governador por duas vezes, arriscou-se a concorrer novamente ao Palácio da Redenção, perdendo para Ricardo Coutinho, com quem se aliara em 2010. Cássio sempre sustentou a alegada ocorrência de fraude no resultado em meio à utilização da máquina oficial para favorecer o governador de plantão. Teve reconhecidas as suas denúncias um pouco tardiamente, quando já expirara o segundo mandato de Ricardo Coutinho. A reparação moral, como Cunha Lima evidenciou ao reagir aos fatos novos, não lhe redimiu da perda dos direitos que, sob outra ótica, lhe teriam plenamente bafejado há cerca de sete anos.
A própria derrota de Cássio em 2018, na tentativa de ser reconduzido ao Senado, onde teve uma atuação destacada e ascendeu à vice-presidência, não só surpreendeu ao líder político como a círculos influentes que são formadores de opinião no Estado. Afinal, o filho do poeta Ronaldo Cunha Lima largou como favorito naquela corrida, respaldado pela eficiência e proatividade que demonstrou no exercício do mandato congressual. Afirmava-se nas rodas políticas que das duas vagas em disputa pelo menos a sua estaria assegurada, computando-se, ainda, o histórico de serviços prestados por ele nas ocasiões em que administrou o Estado ou nas três oportunidades em que governou, pelo voto, a cidade de Campina Grande. Os ventos sopravam, todavia, em outra direção – e foi assim que a disputa de 2018 privilegiou Daniella Ribeiro (PP), primeira senadora da história da Paraíba, e Veneziano Vital do Rêgo (então PSB), neófito no páreo senatorial majoritário.
Cássio, atualmente, está recolhido a atividades empresariais e abriu espaço, sem reclamar, para a movimentação de outros atores recém-chegados à atividade política em sua dimensão mais elevada e, consequentemente, mais arriscada e exigente para os adeptos da militância. Foi nesse vácuo ou na alteração de papéis e figurantes no cenário político estadual que se infiltrou, com habilidade e denodo, o ex-deputado federal e ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues. Quando, ainda no exercício da prefeitura, deu o grito de guerra sobre a pretensão de disputar o governo, ouviu da boca do deputado Pedro Cunha Lima a manifestação de idêntica postulação. Até aqui, tem procurado conciliar ambições e interesses, facilitado pela lógica do parentesco que os une e da afinidade política no combate ao governo do Estado, representado por João Azevêdo, que assumiu na perspectiva de dar continuidade à Era Ricardo Coutinho, mas logo deletou essa página histórica, mercê de desaguisados que produziram desalinhamentos políticos.
Entre analistas políticos há quem avalie que 2018 teria sido mais favorável para os “clãs” Rodrigues-Cunha Lima tentarem reconquistar o governo do Estado. Mas o confronto direto foi contornado devido à tática do recuo concebida pelos líderes de prestígio de Campina Grande, que se preservaram para um reposicionamento na correlação de forças políticas estadual. Assim é que os “clãs” preferiram apostar na candidatura de Lucélio Cartaxo (PV), irmão gêmeo do então prefeito de João Pessoa, Luciano, que já havia sido derrotado ao Senado em 2014 por José Maranhão e que não tinha firmado liderança estadual nem discurso consistente para conquistar a cidadela oficial. O páreo contou, ainda, com a indefectível candidatura de Maranhão, em faixa própria. Deu Azevêdo no primeiro turno, com o peso avassalador da influência pessoal e política-administrativa do ex-governador Ricardo Coutinho, hoje um quadro político decaído e sem perspectiva.
O PSDB paraibano enfrenta, a dados de hoje, uma situação confusa no cenário político-eleitoral, denotando um certo fastígio em comparação com as fases gloriosas vividas quando Cássio Cunha Lima empalmou o poder. No fundo, uma consequência direta do esfacelamento da legenda tucana em nível nacional, a partir de derrotas em eleições presidenciais e da queimação de ex-candidatos a Presidente como José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Não por acaso, setores do PSDB nacional já admitem um apoio à candidatura de Ciro Gomes, do PDT, embora haja dois pré-candidatos, atualmente, à indicação para disputar o Planalto – João Doria, governador de São Paulo, e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. O PSDB parece adivinhar que a disputa de 2022 se encaminha para a polarização – entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.