Nonato Guedes
Em meio ao clima de agitação deflagrado a partir de Brasília na área militar do governo do presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Souza Braga Netto, que assumiu o Ministério da Defesa, em um dos seus primeiros atos defendeu que “devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos” de 31 de março de 1964 – data do golpe militar que derrubou o governo de João Goulart e ocasionou a vigência de uma ditadura por 21 anos no país. “As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, pontuou o general, que chegou ao posto após a queda de Fernando Azevedo e Silva.
A mensagem do novo ministro pontua ainda: “Em 1979, a Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional, consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia. Foi uma transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo. O País multiplicou suas capacidades e mudou de estatura (….) O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”. A nota foi publicada em meio à crise política provocada pela reforma ministerial de Jair Bolsonaro, que expulsou Azevedo e Silva do governo e levou à renúncia dos comandantes das três Forças Armadas, às vésperas do aniversário do golpe.
A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) protestou contra a nota em seu perfil no Twitter e afirmou que a Corte Internacional de Direitos Humanos será acionada. “As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, diz o ministério da Defesa, e que o golpe de 64 deve ser celebrado. A pacificação estaria em colocar ratos nas vaginas de mulheres torturadas. Em matar e ocultar cadáveres (até hoje?) Canalhas sádicos”, escreveu a deputada. Bonavides completou: “Com mais de 315 mil mortes pela política genocida, o governo Bolsonaro acaba de lançar nota comemorativa do golpe militar de 64 que torturou e matou. Vamos apresentar nova ação e denunciá-lo na Corte Interamericana de Direitos Humanos”. Bonavides chegou a acionar a Justiça em 2020 pedindo que o Ministério da Defesa retirasse de seu site conteúdo alusivo e comemorativo ao 31 de março. Ela venceu em primeira instância, mas o Tribunal Regional Federal da Quinta Região reverteu a decisão.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o general da reserva Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Jair Bolsonaro, defendeu que as Forças Armadas devem ficar distantes da política. A declaração foi dada no sentido de tentar minimizar a crise causada pela troca do ministro da Defesa e a demissão coletiva dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, acontecimento sem precedentes na história do país. “Reforço a importância da independência das Forças Armadas como instituição de Estado para a promoção da paz social, bem como para a superação dos desafios de toda ordem, aos quais a sociedade é submetida. Que a política permaneça ao largo dos quartéis”, comentou Rêgo Barros, sobre a crise. O militar, no entanto, ponderou que esteve “afastado de todo esse processo e seria leviano de minha parte aportar opinião”. Em entrevista à jornalista Andréia Sadi, do portal G1, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi na mesma linha de Rêgo Barros ao comentar a crise militar. Ele rechaçou qualquer possibilidade de “ruptura” com a demissão dos comandantes das Forças Armadas. “Zero. Pode botar quem quiser, não tem ruptura institucional. As Forças Armadas vão se pautar pela legalidade sempre”, declarou.