Nonato Guedes
Uma reportagem do “Correio Braziliense” aponta o MDB, presidido nacionalmente pelo deputado federal Baleia Rossi (SP), como partido de maior penetração nos municípios e como ator importante nas discussões sobre alianças para as eleições de 2022. Internamente, a hipótese de candidatura própria ao Planalto não é descartada, mas é o apoio da sigla que é cobiçado pelos principais pré-candidatos a presidente da República, interessados em compor com forças de centro para fugir da polarização entre direita e esquerda, rejeitada por grande parte dos eleitores. E é o apoio do MDB a um candidato, não a candidatura própria, que deve acabar prevalecendo. Na Paraíba, até as eleições municipais do ano passado, o MDB estava sob controle do senador José Maranhão, que faleceu vítima de complicações da Covid. Quem detém influência, agora, a nível local, é o senador Veneziano Vital do Rêgo, que migrou do PSB de volta à legenda e cuja mãe, Nilda Gondim, assumiu a cadeira de José Maranhão.
Veneziano não definiu posição, ainda, sobre a disputa presidencial e sinaliza que prefere aguardar a evolução dos acontecimentos para externar preferência. O único compromisso que, pessoalmente, ele tem, é com a candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição, havendo especulações de que o MDB poderá reivindicar a vice-governança numa composição em 2022. A capilaridade do MDB nos municípios brasileiros é um forte atrativo para composições. Mesmo tendo perdido 260 prefeituras nas eleições municipais do ano passado, o MDB segue no comando do maior número de municípios do país, 784, incluindo cinco capitais. Além disso, é forte, também, no Senado, onte tem a maior bancada, com 15 senadores, incluindo os influentes Renan Calheiros (AL), Simone Tebet (MS), Eduardo Braga (AM) e Fernando Bezerra Coelho (PE). Fora do Congresso, o partido conta com os ex-presidentes José Sarney (MA) e Michel Temer (SP), não menos relevantes.
A matéria do “Correio Braziliense” dá conta que o MDB está na mira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que busca ampliar sua base de apoio para além do Centrão, em um momento de enfraquecimento político e de queda de popularidade. Mas há resistências a uma aliança com Bolsonaro, da parte do próprio Veneziano. De resto, Bolsonaro, nesse movimento, tenta compor com outras forças moderadas, para afastar rejeições e atrair votos também fora dos círculos bolsonaristas radicais, que não passam dos 30% dos eleitores. Apurou-se que na recente minireforma ministerial promovida pelo presidente, cogitou-se a possibilidade de oferecimento ao MDB da Secretaria de Governo, responsável pela articulação com o Congresso. Dois obstáculos, porém, inviabilizaram a aproximação: de um lado, as conversações que o MDB tem mantido com setores de oposição ao governo, como o PSDB, e, de outro, a pressão do Centrão, que cada vez mais dita as regras no Planalto.
Aliás, o Centrão infligiu derrota ao MDB na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que foi vencida pelo deputado Arthur Lira (PP-AL) contra o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da sigla. Sabe-se que Bolsonaro mobilizou aliados, ostensivamente, para conseguir a eleição de Arthur Lira, considerado confiável ao Palácio do Planalto no encaminhamento de matérias de interesse do Executivo, depois da tempestuosa gestão do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ). A Executiva Nacional do MDB trabalha por uma candidatura de centro, não necessariamente pertencente ao partido. Entre os cotados dentro da sigla para disputar o Planalto são mencionados os governadores Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, e Renan Filho, de Alagoas, e a senadora Simone Tebet. Mas o MDB como um todo está dividido em pelo menos quatro grupos: os que pregam candidatura própria, os defensores de uma aliança com Bolsonaro, os apoiadores de uma composição com Lula e os que querem apoiar o candidato de outro partido de centro.
Lula conta com a simpatia de vários emedebistas do Nordeste, região de lideranças como Sarney, do Maranhão, e Renan Calheiros, de Alagoas. Ao mesmo tempo, Rodrigo Maia, que está prestes a se filiar ao MDB, diz que pretende trabalhar para fazer de seu partido uma força de oposição a Bolsonaro e admite a possibilidade de apoio à candidatura petista. A ala bolsonarista do MDB, por sua vez, é formada, entre outros, pelos deputados Osmar Terra (RS) e Rogério Peninha (SC). O presidente nacional Baleia Rossi tem pela frente o desafio de evitar, em 2022, um novo racha no partido, como o que ocorreu durante a corrida presidencial de 1998. Naquele ano, a sigla, que se chamava PMDB, dividiu-se entre os que apoiavam a reeleição do tucano Fernando Henrique Cardoso e os defensores de uma candidatura própria. A convenção nacional emedebista foi vencida pela ala governista do partido e os derrotados decidiram apoiar outros candidatos, entre os quais Lula.
Baleia Rossi já afirmou ao “Correio Braziliense” que defende a busca por um candidato de centro para 2022 e descarta a possibilidade de uma aliança do partido com Lula ou Bolsonaro. “Vamos iniciar uma discussão sobre nomes. Quero ouvir lideranças de todo o país e avaliar o cenário em cada Estado. O objetivo é ter um candidato único de centro”, alega Baleia Rossi. O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, acredita que apesar do discurso da cúpula emedebista, a tendência do partido é a de não lançar candidato próprio no ano que vem. Ele observa que o discurso oficial emedebista sobre candidatura própria faz parte do jogo político e que o interesse real da legenda é se cacifar politicamente. “O MDB, certamente, vai usar seus nomes, atributos e condições para valorizar seu eventual apoio a algum candidato de outro partido”, finaliza André César. De fato, é a tendência que vai se cristalizando desde já.