Nonato Guedes
“Não há no Brasil solidão maior que a do ministro da Saúde”, revela o colunista Chico Alves, do UOL Notícias, referindo-se ao cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, que assumiu o cargo no governo do presidente Jair Bolsonaro em substituição ao general Eduardo Pazuello, desgastado à frente da Pasta. Segundo Chico Alves, pilotando o ministério que tem a responsabilidade de enfrentar a pandemia histórica que já matou 358 mil pessoas, Marcelo Queiroga não pode contar com aquele que deveria ser o seu maior apoiador nessa tarefa árdua, o presidente da República. Jair Bolsonaro tem outras prioridades.
Pontua o colunista: “De Jair Bolsonaro, que parece mais interessado em outros temas que em salvar vidas, o ministro não pode esperar sugestões sensatas. O governante que insiste em divulgar cloroquina como tratamento para a covid-19, que fez todo esforço para desacreditar as vacinas e cria fake news sobre o uso de máscaras não é exatamente o melhor conselheiro. Bolsonaro não diz ao ministro o que deve fazer, mas faz questão de dizer o que não deve ser feito. Em hipótese nenhuma o presidente aceita lockdown, justamente o único recurso que poderia poupar milhares de vidas enquanto a imunização não chega para a maioria da população”.
Dos vários assuntos que ocupam o presidente mais que o combate à pandemia (liberação de armas, mudança na Petrobras, articulações para blindar os filhos contra investigações incômodas, tentativas de intimidação aos ministros do Supremo, etc), o presidente tem-se dedicado atualmente a tentar esvaziar a CPI da Covid, criada pelo Senado. Chamado a comentar o imbróglio, o ministro da Saúde saiu pela tangente. “Estou mais preocupado com CTI do que com CPI”, disse Marcelo Queiroga. Chico Alves emenda: “Tem mesmo muito a se preocupar. Afinal, assumiu a pasta depois da trágica passagem do general da ativa Eduardo Pazuello pelo cargo. Enquanto as mortes se multiplicam, Queiroga corre atrás das vacinas que o governo não comprou quando deveria, precisa resolver a escassez de oxigênio e kits para intubação, é chamado a abrir novos leitos e está às voltas com o encalhe de milhões de testes de covid-19 que tiveram data de validade vencida, entre outros abacaxis”.
O colunista prossegue: “Tudo tem que ser resolvido com urgência. O pouco tempo à frente da Pasta e a herança maldita que recebeu de Pazuello não servem de álibi. Queiroga sabia o tamanho da encrenca quando aceitou ser ministro. Mas não deixa de ser assustador que o presidente da República dedique tão pouco tempo para estar ao seu lado na maior sanitária da história do país. Pior: quando o faz, Bolsonaro só atrapalha. Pensando bem, talvez o ministro da Saúde até prefira a solidão”. O ministro paraibano foi escolhido para o cargo pelas ligações de amizade com um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e, também, pelo reconhecimento de sua competência – afinal, quando foi convocado para a missão, ele presidia a Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma das instituições mais respeitadas do país. Desde o início, porém, tem havido questionamento sobre sua autonomia à frente do ministério quanto a algumas medidas de emergência para debelar a crise. O ministro não se queixa do presidente, pelo menos em público. De Queiroga se diz, aliás, que tem “jogo de cintura”, o que explicaria a sua incolumidade no posto, no momento mais agudo da crise sanitária sem precedentes que o Brasil enfrenta na sua história.