Nonato Guedes
Duas boas notícias para a Paraíba, depois dos incidentes ocorridos na semana com o processo de vacinação de idosos contra o coronavírus em João Pessoa: a chegada, no aeroporto Castro Pinto, nas últimas horas, de mais 110 mil doses de vacinas Coronavac e Astra Zêneca para atender a grupos prioritários, distribuídos entre candidatos à primeira e segunda doses. Em meio a essas notícias, o registro de adoção de providências por parte das autoridades municipais, em articulação com autoridades estaduais e federais, junto ao Ministério da Saúde, para encaminhamento de demandas referentes à Saúde Pública como um todo, não apenas à campanha de imunização que foi paralisada por falta de vacinas. A abertura de novos postos de atendimento, o reforço de unidades de saúde, a garantia de recursos para contemplar profissionais que atuam na linha de frente do combate à Covid-19 complementam o elenco de providências que a sociedade vinha reivindicando.
A visita do ministro Marcelo Queiroga tem um significado especial, relevante, porque mostra o compromisso do ilustre cardiologista paraibano com as carências no setor de Saúde do Estado, agravadas pela eclosão da pandemia de Covid-19. Ele conhece, de perto, essa radiografia, mas precisa se inteirar dos atropelos que ocorreram, até mesmo em função da pandemia, e de problemas colaterais que pipocaram devido à precariedade da rede de saneamento na Capital e no Estado da Paraíba como um todo. A vinda oficial do ministro, com escalas em Campina Grande e Patos, além do caráter institucional, supra-partidário, atesta a solidariedade do doutor Marcelo Queiroga para com a população paraibana. Possibilita-lhe, também, articular o que deveria ter sido feito desde o começo da epidemia pelo governo Bolsonaro e não o foi – a articulação para unificação mínima das ações de saúde no âmbito do poder público com vistas ao enfrentamento aos efeitos do coronavírus.
Louve-se, por uma questão de justiça, o empenho do governador João Azevêdo e do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, diretamente junto ao ministro da Saúde, em tom de “S.O.S” para que a Paraíba figurasse no mapa nacional. O governador falou com o ministro por telefone, endossando o clamor por mais vacinas, até como medida para devolver a tranquilidade a uma população assustada com a incidência de problemas. Cícero Lucena, que havia requerido licença do exercício do mandato por uma semana para cumprir agenda fora do Estado, alterou sua rota e foi bater em Brasília, onde, com o apoio de deputados federais paraibanos como Efraim Filho (DEM) e Aguinaldo Ribeiro (PP), conseguiu ser recebido em audiência pelo ministro Marcelo Queiroga, surgindo, aí, o compromisso da visita oficial à Paraíba.
Desde que o general Eduardo Pazuello caiu do Ministério da Saúde, em meio a denúncias de omissão e a reclamações sobre a gestão desastrada que ele vinha conduzindo, a pretexto de obedecer ordens do presidente Jair Bolsonaro, criou-se uma grande expectativa nacional sobre o sucessor na Pasta mais importante do governo na atual conjuntura. A escolha de Marcelo Queiroga foi surpreendente para todo o país e não teve, concretamente, ingerência política dos representantes da bancada paraibana na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Foi sugerida ao presidente Bolsonaro por um filho seu, deputado federal, que tinha amizade pessoal com o cardiologista paraibano. Aliás, o doutor Marcelo Queiroga construiu pontes de relacionamento com políticos de diferentes partidos, inclusive de esquerda, por conta da sua atuação como presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e das suas intervenções constantes em audiências públicas na Câmara ou no Senado para debater temas complexos da situação da medicina no Brasil.
Nessas audiências ou palestras, Marcelo Queiroga teve a liberdade de expor opiniões polêmicas, envolvendo, até mesmo, o uso da cloroquina no tratamento inicial de pacientes com Covid em quadro leve. As declarações que externou foram em consonância com os fundamentos da Ciência, a quem considera que deve obediência, não apenas pelo juramento que prestou na formatura profissional mas pela sensibilidade que possui para com o sofrimento dos que mais carecem de atenção e de atendimento. Chegou-se a imaginar que, devido ao estilo voluntarioso do presidente Bolsonaro, ele iria atrapalhar a atuação do ministro paraibano, cortando-lhe as asas, negando-lhe autonomia, até humilhando-o em decisões tomadas, como já fizera com outros ministros. Até agora, embora mantenha o seu estilo “mercurial”, Bolsonaro não logrou prejudicar a ação do ministro, que foi decisiva, até, na área diplomática, para desencalhar a liberação de vacinas por parte de outros países.
O que se constata é que, além do conhecimento científico que detém, o cardiologista Marcelo Queiroga é reputado pela capacidade de diálogo que possui, o que facilita a interlocução com expoentes dos mais variados segmentos ideológicos. No jargão do colunismo político, diz-se que pessoas assim são dotadas de “jogo de cintura” para sobreviver em situações de dificuldades. O ministro Marcelo Queiroga consegue sobressair por um conjunto de méritos pessoais em pleno governo negacionista do presidente da República que chegou a considerar a pandemia uma “gripezinha”. Para a Paraíba, é um privilégio ter um filho ilustre no Ministério da Saúde numa situação difícil como a que o país vive. Ele não vai privilegiar o Estado, mas, certamente, tem um olhar especial, solidário, para com seus conterrâneos. Isto não é nada, não é nada, é um alento em meio a tantas notícias ruins e a tanta desesperança que corroi a população brasileira.