Nonato Guedes
O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, teceu críticas, em seu blog, na revista “Veja”, ao atual ministro Paulo Guedes, por não ter avançado nas reformas estruturais de que o Brasil carece para reduzir os riscos fiscais, incrementar a produtividade e, assim, elevar o potencial de crescimento da economia e de geração de empregos. Maílson afirma que o Brasil, “prisioneiro da armadilha da renda média”, precis libertar-se dela e diminuir as inaceitáveis desigualdades sociais e pobreza. Mas entende que o ministro da Economia, Paulo Guedes, subestimou as restrições políticas às reformas. E exortou: “É preciso mais do que o diagnóstico”.
De acordo com Maílson, Paulo Guedes formulou um diagnóstico alinhado ao consenso, mas pecou por não avaliar as objeções políticas à agenda. O ex-ministro lembra que tal agenda foi abraçada por vários governos, inclusive o último do regime militar. E acrescentou que nos últimos 35 anos ocorreram importantes, ainda que insuficientes, mudanças institucionais nos campos fiscal, monetário e creditício. “Progredimos, mesmo que abaixo do desejável, na privatização, na abertura da economia e na infraestrutura”, opina Nóbrega.
– Na verdade, como ensinou Douglass North, prêmio Nobel de Economia de 1993, mudanças institucionais e complexas acontecem de forma incremental. Leva muito tempo para educar a sociedade sobre a necessidade de mudanças e para convencer o sistema político a apoiá-las. Essa regra simples parece não ter influenciado o ministro da Economia. O atributo de “Posto Ipiranga”, vontade política e um hipertrofiado Ministério da Economia seriam suficientes para viabilizar uma evolução liberal. Ele explorou em excesso a retórica voluntarista, o otimismo infundado e as simplificações. Promessas pouco sólidas minaram a credibilidade. Confiante, o ministro tachou de social-democratas governos anteriores e os acusou de falta de competência, sugerindo que essa característica agora existiria.
Maílson da Nóbrega adverte que, na democracia, um grande desafio é formular, aprovar e implementar medidas complexas. Diz que políticas públicas exigem transformar a agenda em programas e projetos concretos e, antes ou simultaneamente, construir coalizões majoritárias. “No Brasil, é necessário entender que nossa sociedade desconfia do setor privado, suspeita do lucro e se opõe à privatização (67% em 2019, segundo o Datafolha). Interesses corporativistas resistem à agenda. Tudo isso requer liderança, coordenação, capacidade de mobilização política e poder de persuasão para dissuadir a maioria de preservar visões equivocadas. Ocorre que o próprio presidente da República se tornou fonte de reação ao vetar ou boicotar partes da agenda. De fato, cerca de 80% do capital estatal privatizável foi excluído”, observa Maílson da Nóbrega.
O economista salienta que o presidente Jair Bolsonaro jamais demonstrou possuir habilidade de negociação política para obter a adesão dos parlamentares a medidas impopulares. “À desastrosa condução da pandemia e à gestão errática do governo, prova da inaptidão para o cargo, somou-se a inapetência para defender a agenda de reformas estruturais. Nem mesmo o regime militar, que não enfrentava restrições típicas da democracia, realizou mudanças estruturais na velocidade e dimensão necessárias e evidentes. A esta altura e dadas suas qualidades intelectuais, Paulo Guedes provavelmente já se deu conta de que sua sonhada revolução liberal para mudar a história do Brasil exige mais do que um simples diagnóstico”, finaliza Maílson.