Nonato Guedes
A solicitude, sensibilidade e demonstração de empenho do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, com vistas a atender demandas urgentes da população diante da calamidade do coronavírus, causaram boa impressão entre os paraibanos nos dois dias em que ele permaneceu no Estado, cumprindo agenda em João Pessoa, Campina Grande, Patos e São Mamede, no interior do Estado. Queiroga cumpriu um roteiro sentimental e de trabalho em seu Estado de origem, visitando hospitais como o Metropolitano Dom José Maria Pires, onde atuou como médico cardiologista, e outros de média complexidade na Capital. Teve a oportunidade de rever colegas e conhecidos e se reunir com autoridades, além de dialogar com políticos de diferentes facções, não discriminando nenhum grupo nem hostilizando adversários do governo do presidente Jair Bolsonaro, ao qual serve.
Ele, aliás, protagonizou um episódio histórico ao participar como ministro, no Palácio da Redenção, sede do Executivo da Paraíba, de uma reunião de alto nível destinada a tratar de Saúde Pública em plena pandemia da Covid-19. Não há registro, na história recente, de acontecimentos dessa dimensão, enriquecidos pela civilidade que pontuou os debates e mesmo a formulação de reivindicações ao poder central. O governador João Azevêdo (Cidadania), anfitrião da reunião, é opositor do governo Bolsonaro e tem sido signatário de documentos que contestam posicionamentos políticos do presidente da República, mas nunca perdeu de vista a relação institucional que deve preservar com o governo federal – e é assim que tem tido a deferência de receber visitas de ministros. A Marcelo Queiroga juntou-se o do Turismo numa mesma reunião, cujos resultados foram reconhecidos como positivos para o interesse maior do Estado.
Ressalte-se que antes do doutor Marcelo Queiroga desembarcar na Paraíba aportaram em solo tabajara mais 110 mil doses de imunizantes contra a pandemia que assola o mundo, o que colocou um ponto final na angústia que dominava a todos diante do impasse na continuidade da vacinação de categorias sociais justamente por falta de vacinas. No início da semana passada havia ocorrido incidente no Espaço Cultural em João Pessoa com atropelos entre pessoas idosas ávidas por tomar a segunda dose, o que causou tumulto e desesperança. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), mesmo licenciado temporariamente do cargo, teve a acuidade de retomar as rédeas e ir diretamente a Brasília para se entender com o ministro Marcelo Queiroga. Foi nessa ocasião que viabilizou-se a sua vinda oficial à Paraíba para avaliar o cenário e determinar providências. Na Paraíba, o ministro não discutiu apenas o enfrentamento á Covid, mas outras pautas referentes a carências no setor de Saúde e pendências que se acumulavam nos gabinetes burocráticos em Brasília. A repercussão foi positiva.
Queiroga é ministro de um presidente que se “queimou” com a postura negacionista assumida diante da pandemia do novo coronavírus, minimizando-a como “gripezinha” enquanto os hospitais do Brasil ficavam superlotados, as UTIs já não atendiam à sobrecarga e foram sendo empilhados problemas de gravidade como a falta de oxigênio em Manaus, a falta de vacinas, a troca no envio de imunizantes de um Estado para outro. Tudo isto decorrente da falta de planejamento, da definição de uma política pública unificada que articulasse governadores de Estados e prefeitos municipais para um mutirão suprapartidário destinado prioritariamente a salvar vidas em meio à maior guerra sanitária que a Humanidade tem enfrentado em todos os tempos. O Brasil teve três ministros da Saúde num mesmo governo e o presidente Bolsonaro agiu de forma indisciplinada perante recomendações dos especialistas quanto ao uso de máscaras e restrição de aglomerações. No ranking mundial, o País alinhou-se entre outros com perigosa curva ascendente de casos de contaminação.
A própria diplomacia do Ministério das Relações Exteriores, no período em que a Pasta foi chefiada por Ernesto Araújo, fracassou nas negociações com governos de outros países e com laboratórios especializados para a aquisição de vacinas, insumos, equipamentos de proteção individual e outros acessórios indispensáveis ao combate da pandemia pelos profissionais da Saúde Pública. Atrasos e desorganização marcaram o calendário, no Brasil, do enfrentamento ao novo coronavírus, ocasionando advertências consecutivas por parte de organismos respeitados como a Organização Mundial da Saúde ou a Organização das Nações Unidas. Foi dito, reiteradas vezes, que o Brasil estava falhando em missões humanitárias que lhe foram confiadas e, por via de consequência, “cortejava” a tragédia, com o espalhamento de mortes e de casos de contaminação.
A convocação do paraibano Marcelo Queiroga para o ministério da Saúde, inegavelmente, criou outra perspectiva na postura do governo diante da calamidade. As providências tornaram-se mais ágeis, a própria diplomacia deslocou-se para a Saúde, cumulativamente, canais foram desobstruídos e instaurou-se o mínimo de tranquilidade possível, nas condições de temperatura e pressão, para fazer avançar o chamado Plano Nacional de Imunização. Ainda hoje, aqui e acolá, o presidente Bolsonaro, com seu estilo “mercurial”, complica as coisas, dificulta o trabalho do ministério e dos profissionais de Saúde, e o Senado abriu CPI para investigar omissões clamorosas e, supõe-se, responsabilidades – contudo,, aos trancos e barrancos, têm havido avanços no combate à Covid e êxitos pontuais em ações de enfrentamento. O saldo que ficará para a História, indiscutivelmente, será alarmante. O mundo cobra explicações do Brasil e o governo brasileiro segue na berlinda. Mas há, na Saúde, um ministro que respeita a Ciência e tenta agir respeitando os seus cânones. Pelo menos é a impressão que Queiroga busca passar até agora.