Nonato Guedes
Com a ex-ministra Marina Silva indefinida e a empresária Luiza Trajano, do “Magazine Luiza”, pouco interessada em disputar mandatos, não há nenhuma mulher à vista no radar da corrida presidencial de 2022, como analisa Adriana Vasconcelos no site “Poder 360”, observando que falta representação feminina na política e que talvez o sistema de votação em lista corrigisse essa distorção. Adriana cita que vem de um homem, o cientista político Antonio Lavareda, uma constatação que, segundo ele, deveria provocar grande perplexidade, mas ainda é vista com naturalidade no país: o fato de não haver, pela primeira vez neste século 21, uma mulher nas atuais listas de pré-candidatos à sucessão presidencial de 2022.
Para Lavareda, essa constatação expressa o enorme déficit de representação política do sexo majoritário na população brasileira. Adriana Vasconcelos, que é jornalista e consultora em Comunicação Política, escreve: “É a realidade batendo à nossa porta! Que tanto pode empurrar as mulheres para frente ou fazê-las recuar algumas casas no jogo político. Isso depende única e exclusivamente delas próprias, que, em 2018, garantiram a eleição da maior bancada feminina da história da Câmara dos Deputados. Isso depois de conquistarem na Justiça acesso aos 30% dos recursos do Fundo Eleitoral”. O único nome feminino ventilado até agora foi o da empresária Luiza Helena Trajano, mesmo assim em um papel de coadjuvante, como uma eventual vice, e ela nega qualquer interesse em trocar o papel de líder na sociedade pelo tortuoso caminho da política, que, hoje, mais do que nunca, submete aspirantes a ataques de todo tipo.
Marina Silva é mencionada por ter disputado a cadeira presidencial nas últimas três eleições e por ter alimentado expectativas de renovação, com sua pauta ecológica, em segmentos da sociedade afastados de extremos ou de radicalismos políticos. Adriana Vasconcelos conta que, hoje, Marina Silva segue mergulhada, um reflexo do desempenho de 2018, quando obteve apenas 1 milhão de votos, ficando atrás até do Cabo Daciolo, um outsider cuja carreira política tinha tido início em 2014 – um resultado bem distante do que fora conseguido nas disputas de 2010 e 2014. Sem entrar no mérito dos fatores que contribuíram para o atual quadro, Lavareda prefere apontar um caminho para superação do que chama de nódoa do nosso sistema político: a adoção de lista fechada, amplamente predominante em países que mantêm o sistema proporcional.
De acordo com Lavareda, somente com as cotas de vagas nas listas será possível corrigir-se a distorção que existe hoje no Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. “E já no primeiro pleito”, aposta o cientista político. Caso contrário, Lavareda prognostica que os efeitos do atual sistema de cotas, de vagas e financiamento, seguirão sendo sentidos muito lentamente, uma vez que as eleições no Brasil são disputadas “no jogo pesado do personalismo”, lógica natural das disputas com listas abertas. Ampliada a representação feminina nos Parlamentos, Lavareda considera que “será muito difícil não contarmos em todas as eleições com mulheres despontando na corrida presidencial”. A líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS) reconhece que a lista fechada pode ser, sim, uma possibilidade, “mas não a única”, para se resolver a questão da sub-representação feminina na política.
Para tirar essa ideia do papel, a senadora considera que seria necessário enfrentar uma outra realidade que se apresenta no cenário nacional, referindo-se ao atual sistema partidário, que expõe frequentemente a falta de democracia interna em suas decisões e escolhas, permitindo, muitas vezes, a prevalência de interesses pessoais e influência de grupos seletos que transformam legendas em feudos. “Não sei se o Brasil está preparado para isso”, admite Simone Tebet, que, além disso, defende que tal proposta só deveria ser colocada em discussão no âmbito de uma reforma eleitoral mais ampla e não como proposta pontual isolada. Ela leva em consideração a experiência que teve em outras tentativas do Legislativo para aprovar a referida reforma. Na única que viu ser aprovada, uma mini-reforma em 2015, a bancada feminina tentou ampliar o sistema de cotas à distribuição do tempo de TV, rádio e dos recursos financeiros para as mulheres candidatas.
Acontece que as parlamentares foram surpreendidas com a aprovação de uma emenda na comissão especial, limitando o acesso das mulheres ao dinheiro dos Fundos Partidário e Eleitoral: a um mínimo de 5% e não mais do que 15%. Se não tivessem recorrido ao Supremo Tribunal Federal e também à Justiça Eleitoral, as mulheres não teriam conseguido reverter a decisão do Legislativo, o que aumentou de maneira decisiva o número de eleitas nos Parlamentos, nos cargos proporcionais. Por mais que deseje ver mais mulheres na política, Tebet teme que a proposta acabe criando uma situação de privilegiados. E frisa: “Gato escaldado tem medo de água fria”. Um outro exemplo das dificuldades para as mulheres na política vem do próprio PT. A ex-presidente Dilma Rousseff, cujo impeachment no segundo mandato completou cinco anos, não é cogitada para ser estrela na disputa ao Planalto. Em lugar dela, todo o PT e forças de esquerda mobilizam-se para tentar trazer de volta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitando o embalo da anulação de condenações contra ele pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava-Jato. Dilma é útil apenas para reforçar a tese do “golpe” que a despejou como inquilina do poder.