Com o advento da CPI da Covid, que vai ser instalada no Senado, o colunista Reinaldo Polito, do UOL, insinua que pode haver uma “maldição” ou “bruxaria” por trás das Comissões Parlamentares de Inquérito, e desfiou exemplos de políticos que brilharam no palco de CPIs e acabaram sendo mal sucedidos na sua trajetória pessoal na vida pública. Um exemplo citado é o do ex-senador paraibano Efraim Morais, do Democratas, que atualmente ocupa uma secretaria no governo João Azevêdo. Efraim projetou-se na CPI dos Bingos em 2005 e enfrentou problemas com a Justiça. Diz Polito, textualmente: “O ex-senador Efraim Morais, que presidiu a CPI dos Bingos em 2005, teve seus bens bloqueados pela Justiça, acusado de lavagem de dinheiro e relação com o crime organizado. O relator da CPI, ex-senador Garibaldi Alves Filho, foi outro político que não conseguiu se reeleger”.
A CPI dos Bingos foi instalada na Era petista, na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Efraim era um dos mais destacados opositores do petismo no Senado. O político paraibano era filiado ao PFL e a CPI proposta por ele incomodou diretamente o então presidente Lula da Silva, que a chamou de “CPI do fim do mundo”. Em depoimentos após a conclusão dos trabalhos, Efraim deixou claro que apesar das manobras do Planalto para inviabilizar a CPI ela apurou irregularidades que ficaram documentadas no relatório final. O ex-parlamentar, porém, não teve sorte politicamente, já que não conseguiu se reeleger ao Senado. Reinaldo Polito acha que CPIs podem ou não “acabar em pizza”, ou seja, não oferecer resultados, mas ressalta que é exagero dizer que não servem para nada. “Na verdade, uma CPI se transforma em verdadeiro palanque político. É a oportunidade que algumas excelências têm para fazer discurso de campanha praticamente o dia todo. Ter essa exposição que os deputados federais, representantes do povo, e senadores, representantes dos Estados e Distrito Federal, conseguem na mídia é autêntico sonho de consumo”, analisa o colunista.
Polito sugere que os “candidatos” à fama na CPI da Covid deveriam revirar as páginas da história recente e parar para pensar no que aconteceu com muitos daqueles que brilharam nas últimas Comissões Parlamentares de Inquérito. “Sei não, mas parece que as bruxas andaram soltas”, comenta ele, acrescentando que desde presidentes da Câmara, que era um dos focos de atenção, até aqueles mais diretamente ligados à comissão, como presidentes e relatores das CPIs, “esse pessoal não teve muito o que celebrar no futuro”. Em seguida, Polito menciona os casos mais marcantes de “desgraça” de políticos envolvidos com CPIs. Além do de Efraim, cita o ex-deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que era presidente da Câmara na época da CPI do PC Farias em 1992, que acabou resultando no impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Passado algum tempo, Ibsen foi cassado sob a acusação de enriquecimento ilícito. Collor retomou direitos políticos e ainda hoje é senador por Alagoas.
O ex-senador Delcídio Amaral (PT-MS), que foi presidente da CPMI dos Correios em 2005, também teve de enfrentar maus bocados. Em 2015 foi preso em flagrante, acusado de tentar obstruir a delação premiada de Nestor Cerveró, ex-executivo da Petrobras. O ex-senador Tião Viana, do PT-AC, que esteve à frente da CPI do apagão aéreo, em 2007, foi acusado de receber dinheiro irregular da Odebrecht. O ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que foi o relator, acabou cassado por falta de decoro em 2012. O ex-senador Magno Malta, que presidiu a CPI do Narcotráfico, em 1999, foi acusado de diversas irregularidades e não conseguiu se reeleger. Reinaldo Polito afirma: “O histórico é impressionante e quase estarrecedor”. Na sequência, Polito admite que “há coincidências” e que só está fazendo ilações com o objetivo de “troçar”. Mas, arremata: “Pelo sim, pelo não, é melhor deixar a barba de molho. Nem sempre é bom ser protagonista”.