Nonato Guedes
Fontes políticas aliadas do presidente Jair Bolsonaro na Paraíba consideram mera especulação a notícia que tem sido veiculada de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, possa vir a ser candidato ao Senado, representando o seu Estado de origem, nas eleições do próximo ano. Embora tenha “traquejo político”, na definição de um deputado federal, Queiroga nunca se aventurou na política – da família, quem chegou a exercer mandato foi o irmão Marco Antônio, ex-vereador por João Pessoa e que cogitou outros voos maiores, tendo, porém, aparentemente desistido. A especulação de uma provável candidatura de Queiroga está sendo atribuída ao vácuo político reinante na Paraíba, com a morte de figuras como o ex-senador José Maranhão, o anúncio de Cássio Cunha Lima (PSDB) de que não disputará mandatos no próximo ano e a complicada situação do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que enfrenta processos resultantes da Operação Calvário e que teve performance decepcionante na campanha a prefeito de João Pessoa no ano passado.
O cardiologista Marcelo Queiroga ganhou notoriedade ao ser nomeado como quarto titular da Pasta no governo de Jair Bolsonaro, em plena conjuntura de agravamento da pandemia do novo coronavírus e de abertura de uma CPI no Senado para investigar omissões do governo federal no enfrentamento à doença. Esta semana, Queiroga completa apenas um mês no ministério da Saúde, considerado a pasta mais turbulenta do atual governo. O desafio do ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia é o de recuperar o tempo perdido pelo governo federal na busca de mais vacinas e achar recursos para ajudar a rede hospitalar em situação de colapso. Diz a revista Veja: “Se não bastassem os enormes desafios, Queiroga tem de administrar a herança problemática do antecessor, o general Eduardo Pazuello, que, entre outros atropelos, mandou as vacinas de Manaus para Macapá e foi ao Amazonas oferecer cloroquina quando faltava oxigênio”. A mesma revista afirma que a despeito do pouco tempo e das dificuldades gigantescas, alguns avanços começam a aparecer.
Sobre o “vácuo político” que reina na Paraíba, os analistas lembram que até o momento figuras cogitadas para a disputa majoritária de 2022 relutam em decidir sobre qual mandato vão postular. Estes são os casos do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV) e da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), que não poderá mais, por lei, concorrer à reeleição. Ou da senadora Daniella Ribeiro (PP), que demonstrou disposição para enfrentar uma campanha ao governo, mas não deixou claro, até agora, se investirá nesse projeto. Apenas o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) proclamou aos quatro cantos sua candidatura ao governo e chegou a ensaiar contatos políticos nesse sentido, mas recuo diante de denúncias de suposto envolvimento na Operação Calvário. Ele passou a dizer que a sua prioridade, no momento, é provar sua inocência. Se fosse candidato a governador, Rodrigues concorreria em dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro, de quem foi colega de mandato na Câmara Federal em Brasília e com quem mantém estreita relação pessoal.
Além do governador João Azevêdo (Cidadania), que marcou território ao revelar que será candidato à reeleição, o único político que demonstrou firmeza em termos de pretensão foi o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, ao se anunciar pré-candidato ao Senado em coligação com a candidatura de Azevêdo. Efraim já conseguiu declarações de apoio de parlamentares de outros partidos, como o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, e o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP. Em relação ao ministro Marcelo Queiroga, não há registro oficial de que ele seja filiado a algum partido político nem houve, publicamente, qualquer manifestação sua indicando interesse em entrar na política no seu Estado. A especulação corre por conta da visibilidade que, naturalmente, ele tem conquistado na fase da pandemia, e pela movimentação de algumas lideranças locais para fazê-lo candidato. O ministro é conhecido pelo livre trânsito que tem junto a diferentes correntes partidárias, inclusive petistas. Como presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ele foi interlocutor da classe médica em audiências públicas na Câmara ou no Senado para pautar reivindicações da categoria.
Cardiologista respeitado por seus pares, Marcelo Queiroga faz gestos que criam a impressão de que ele alimenta objetivos políticos. Na semana passada, na visita que fez à Paraíba, mudou o protocolo e foi até a cidade de São Mamede, no sertão paraibano, inaugurar uma unidade básica de saúde. Sempre vestido de jaleco e usando máscara N95, ele próprio vacinou pacientes de grupos prioritários contra a Covid, tanto no sertão como em Campina Grande. Em João Pessoa, Marcelo Queiroga protagonizou um fato histórico: comandar, no Palácio da Redenção, uma reunião com autoridades para discutir políticas públicas de Saúde e, em particular, os problemas decorrentes do coronavírus. O governador João Azevêdo, que faz oposição a Bolsonaro, sentiu-se à vontade com o ministro e, de um modo geral, a impressão sobre sua visita foi positiva. Queiroga foi tratado na mídia paraibana como “o ministro da vacina”.