Nonato Guedes
A senadora Daniella Ribeiro e o Partido Progressistas, ao qual é filiada e que é presidido na Paraíba pelo seu pai, Enivaldo Ribeiro, continuam protelando uma definição sobre o papel que pretendem ter na disputa pelo governo do Estado no próximo ano, não sinalizando claramente com a hipótese de candidatura própria nem dando pistas sobre alianças que pretendem firmar para marcar presença na disputa. O PP conseguiu uma vitória expressiva no pleito de 2020, com a eleição de Cícero Lucena à prefeitura de João Pessoa. Além disso, o filho de Daniella, Lucas Ribeiro, foi eleito vice-prefeito de Campina Grande, na chapa encabeçada por Bruno Cunha Lima (PSD). Ou seja: na Capital, o PP aliou-se com o governador João Azevêdo (Cidadania), que apoiou decididamente a candidatura de Cícero, mas em Campina Grande compôs-se com o esquema Cunha Lima, do PSDB, reforçado pelo ex-prefeito Romero Rodrigues, presidente do PSD e até aqui pré-candidato de oposição ao governo do Estado.
Apesar das ligações políticas de Cícero com o governador João Azevêdo, e do estreito relacionamento administrativo que eles mantêm, a senadora Daniella Ribeiro não faz festas para o chefe do Executivo estadual nem aparenta fazer questão de cultivar interlocução maior com ele. Já houve oportunidade, inclusive, em que a senadora detonou a administração paraibana em aspectos pontuais, queixando-se de reivindicações não atendidas, no que diz respeito aos interesses de Campina Grande e de falta de sensibilidade da parte do governo Azevêdo para com essas demandas. Em pelo menos uma vez o governador João Azevêdo respondeu de forma enfática à senadora, procurando descredibilizar afirmações suas sobre omissão administrativa quanto a problemas urgentes e cruciais.
Primeira senadora eleita na história da Paraíba, numa dobradinha com o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que não logrou reeleger-se ao Senado em 2018, Daniella Ribeiro tem uma atuação parlamentar em Brasília considerada proativa, agitando, em sessões virtuais, temas relevantes e formulando propostas inovadoras que, em alguns casos, criam precedentes no capítulo do atendimento à sociedade. Seu desempenho foi reconhecido, de público, pelo ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do Democratas, e Daniella tem linha direta com o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, também do DEM. Além disso, transita com desenvoltura por comissões temáticas do Senado e é respeitada pela bancada feminina atuante no Senado. Não é menor o seu prestígio em escalões do governo federal, como a Caixa Econômica Federal, junto aos quais encaminha pleitos específicos de interesse da Paraíba.
O PP, na Paraíba, conta, ainda, com o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, irmão de Daniella, que é relator da reforma tributária em Comissão Mista do Congresso Nacional e chegou a ser cogitado como alternativa à sucessão do deputado Rodrigo Maia na presidência da Câmara. Mas uma eventual pretensão de Aguinaldo foi tragada pela correnteza das articulações políticas mais sólidas que colocaram frente à frente, na disputa pela presidência, os deputados Arthur Lira, do PP-AL e Baleia Rossi (MDB-SP), com a vitória do primeiro, que teve o apoio ostensivo do presidente Jair Bolsonaro e de outros integrantes da sua tropa de choque. Em termos de estrutura nos municípios paraibanos, a cúpula do PP avalia que ganhou densidade nas últimas eleições municipais, a partir dos dois maiores colégios eleitorais do Estado – João Pessoa e Campina Grande, firmando-se em outros municípios de médio e pequeno porte.
A avaliação que é feita, não apenas no PP mas nos meios políticos em geral, é que a eleição de Daniella Ribeiro para o Senado foi o grande passo experimentado pelo “Progressistas” para se destacar na conjuntura política local, até porque a ex-deputada estadual enfrentou uma disputa acirrada, com concorrentes de peso, que ficaram pelo meio do caminho. Ao avaliar a correlação de forças políticas-partidárias no Estado, os líderes do PP apontam um aspecto recorrente: o de asseguramento do protagonismo da legenda no cenário. Essa posição de protagonismo habilitaria o PP a cortejar o próprio governo nas eleições de 2022 – e, nesse sentido, é consenso que Daniella Ribeiro encarna sob medida o figurino, podendo vir a arrebatar a segunda proeza consecutiva após quebrar o tabu e eleger-se senadora. Daniella, em entrevistas que chegou a conceder, não descartou a hipótese e insinuou estar, mesma, pronta para o desafio. Mas não se seguiu à retórica, até o momento, movimentação mais concreta para viabilizar o projeto.
O que se diz nos meios políticos é que o PP é uma espécie de “esfinge” no tabuleiro político paraibano. Uma incógnita que outros partidos e líderes políticos ansiosamente querem desvendar para poder elaborar suas próprias táticas ou estratégias com vistas ao embate eleitoral do próximo ano, que terá como nota destacada a campanha do governador João Azevêdo pela reeleição. Da senadora Daniella Ribeiro, sabe-se que tem feito articulações nos bastidores e tem sido flexível a discussões preliminares em torno de composições para o próximo ano. Mas Daniella age com habilidade calculada, não avançando compromissos. Ela aguarda uma definição melhor dos contornos do quadro político paraibano para deflagrar o que considera a melhor estratégia dentro da perspectiva de protagonismo que o PP busca com ímpeto para dar as cartas na política estadual e regional.