Nonato Guedes
Ex-governador do Ceará, ex-ministro dos governos Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva e ex-deputado federal, Ciro Gomes (PDT) prepara-se para sua quarta campanha presidencial em 2022 colecionando atritos na esquerda, principalmente com o Partido dos Trabalhadores, e enfrentando dificuldades para mover-se pelo centro. A participação de Ciro no cenário eleitoral do próximo ano comprova uma de suas facetas – a obstinação. Mas ressuscita defeitos que o tornam inconfiável para grupos políticos, tanto à esquerda como ao centro e à direita. De resto, Ciro nunca foi um ideólogo ou um formulador de propostas. Também não aparenta maior identidade com o socialismo trabalhista do líder Leonel Brizola, que foi o fundador do PDT após perder o controle do PTB para Ivete Vargas por ocasião do seu retorno ao Brasil nas asas da anistia em 1979.
Não obstante, Ciro Gomes consegue o milagre de ser apontado como “terceira via” em meio à polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, que deverá reger o processo sucessório no próximo ano. Numa recente pesquisa XP/Ipespe, o pedetista aparece com 9% da preferência, ao lado do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, atrás de Lula (29%) e Bolsonaro (28%). Em reportagem na mais recente edição, a revista “Veja” pondera que esses números não têm sido suficientes para cacifar Ciro Gomes entre seus pares, que consideram remotíssima uma chance de composição com ele. Por isso, trabalha-se com a hipótese de duas candidaturas de centro, com Ciro desgarrado do grupo no primeiro turno. O PDT tem aliados pontuais nos Estados (aqui na Paraíba, o partido é presidido pelo deputado federal Damião Feliciano, marido da vice-governadora Lígia Feliciano), mas é voz corrente a resistência a Ciro, pelo seu alegado “estilo mercurial”, espécie de “pavio curto”, que o faz disparar ataques a esmo sem raciocinar em termos de estratégia política.
A divergência com o Partido dos Trabalhadores tornou-se uma “birra pessoal”, na avaliação de líderes petistas que se sentem incomodados com a companhia de Ciro Gomes em palanques políticos. Tanto ele quanto o irmão, o senador e ex-governador pelo Ceará Cid Gomes, atacaram Lula e o PT mesmo quando o ex-presidente se encontrava preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, enfrentando denúncias de corrupção. Enquanto o PSB e outros partidos de esquerda hipotecaram solidariedade a Lula, que chegou a receber visitas na sala especial da PF em que ficou preso por 580 dias, Ciro desdenhou da inocência do ex-presidente da República e fez insinuações de caráter ético a integrantes da agremiação. Ultimamente, passou a questionar os feitos das gestões petistas, incluindo o período em que Dilma Rousseff permaneceu no Planalto até ser deposta pelo processo de impeachment.
Em 2018, com Lula preso e sendo substituído às pressas por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Ciro Gomes enxergou no horizonte a possibilidade de se consagrar nas urnas contra Bolsonaro, mas não logrou ir para o segundo turno, que se deu em clima de radicalização ideológica. O ex-ministro foi o terceiro candidato mais votado, com 13,3 milhões de votos. Os petistas não o perdoam porque, no segundo turno, uma vez cristalizadas as opções Haddad X Bolsonaro, ele lavou as mãos e viajou para Paris, liberando os seus eleitores para votarem como quisessem. Essa postura, conforme a reclamação de cardeais petistas, pode ter contribuído para favorecer a migração de votos rumo à candidatura de Bolsonaro, que, então, se apresentava como “outsider” perante a opinião pública nacional.
Como informa a revista “Veja”, em tese, pelas pesquisas e pelo retrospecto, Ciro Gomes seria o candidato que poderia encarnar com mais força a chamada terceira via no ano que vem no processo político-eleitoral brasileiro, mas a equação não será tão simples assim e há fatores que conspiram contra um eventual crescimento do ex-governador nas intenções de voto de parcelas expressivas da sociedade. “Ele terá de encontrar o tom certo e a roupagem ideal para avançar na campanha com apoios à direita, sem perder a credibilidade junto a uma parte da esquerda”, assinala a reportagem, admitindo que se trata de um tremendo desafio. Ou “talvez, uma difícil e intransponível encruzilhada”. Isto não impede Ciro Gomes de se movimentar, propondo diálogo com forças políticas interessadas em definir uma agenda comum pelo Brasil que não abra mais espaços nem para Bolsonaro nem para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O “presidenciável” do PDT anunciou, com antecedência, a contratação do marqueteiro João Santana, que saiu vitorioso nas eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014, todas com o Partido dos Trabalhadores e que depois delatou à Lava-Jato como recursos ilícitos irrigaram campanhas petistas. Entre a turma de centro-direita, majoritariamente liberal, há duas grandes reservas a Ciro: a sua conhecida verborragia, capaz de explodir pontes históricas e, principalmente, a defesa de pautas econômicas estatizantes. O pedetista se diz contrário a privatizações consideradas fundamentais por esse campo, como a dos Correios, e é um crítico à autonomia do Banco Central, recém-aprovada pelo Congresso Nacional. É possível que Ciro Gomes reformule, sem qualquer remorso, algumas das ideias que tem professado, em nome da estratégia de somar apoios e arrebanhar votos. Essa conversão está longe de significar o que – parece – ele mais precisa: um milagre político para se impor como favorito à sucessão presidencial em 2022. Salvo melhor juízo, não há marqueteiro que consiga operar esse milagre da noite para o dia.
Artigo perfeito. Parabéns ao articulista.
Não há dúvidas de que Ciro Gomes é uma das lideranças políticas mais destacadas e influentes da política nacional, sobretudo na Região Nordeste.
Todavia, Ciro jamais mostrou maturidade política.
Nas eleições de 2018, o PT chegou a considerar uma aliança com o PDT, com Lula presidente e Ciro vice, mas este não aceitou. Ciro – que tinha cerca de 8% das intenções de voto -, queria que Lula – que tinha 40% dos votos, fosse o VICE e ele, Ciro, o presidente.
Então o PT, como era de se esperar, desistiu do Ciro e se aproximou do PSB e do PCdoB, para compor uma aliança que, como se viu, prosperou.
Foi, portanto, Ciro Gomes quem impediu a aliança entre PT e PDT no 1º turno do pleito presidencial.
Além de não aceitar a aliança proposta pelo Partido dos Trabalhadores, Ciro por várias vezes veio a público atacar a imagem do Lula, fazendo duras críticas ao ex-presidente, achando que com isso conquistaria o apoio do “centrão”, mas o “centrão” fechou aliança com Geraldo Alckmin e largou Ciro Gomes falando sozinho.
Eliminado no primeiro turno das eleições e vendo a escalada brutal do fascismo no país, o que deveria fazer Ciro ?!! Resposta: juntar-se às forças progressistas e apoiar Haddad. Era esse o clamor de milhões e milhões de eleitores nas ruas e nas redes sociais. Era esse o desejo de todos aqueles que não aceitavam retrocessos políticos. Todos esperavam que Ciro Gomes apoiasse Haddad no segundo turno, fortalecendo a campanha do petista contra o candidato fascista, Jair Bolsonaro.
Mas ao invés disso, o que fez Ciro Gomes ?? Ciro Gomes fez o que um homem de verdade não deve fazer: FICOU EM CIMA DO MURO!!
Se tivesse escolhido um lado durante as eleições de 2018, mesmo que esse lado fosse Bolsonaro, sua atitude teria sido mais digna e nobre do que ficar em cima do muro.
Além do mais, Ciro Gomes não tinha o direito de sair por aí ofendendo e difamando Lula, sobretudo em momentos cruciantes como aqueles em que o ex-presidente era mantido em cativeiro como preso político sem ter cometido crime algum. Se fosse o contrário, se fosse Ciro que estivesse preso injustamente, certamente Lula se solidarizaria com ele e respeitaria o PDT. Mas infelizmente nem todo político tem a mesma dignidade e decência que Lula tem.
Passadas as eleições de 2018, a imagem que fica de Ciro Gomes é a de um político rancoroso, que poderia ter sido vice-presidente da República, mas por orgulho, arrogância e prepotência, não quis, jogando fora sua chance real de galgar um dos degraus mais elevados – o Pódio -, na seara política nacional.
Por falta de maturidade, perdeu a maior oportunidade de toda sua vida política. Sem chances em 2022.