Nonato Guedes
Embora tenha protestado desambição política ou intenção de disputar qualquer cargo eletivo em 2022, escudando-se no pretexto de que “há vida fora da política”, o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) tem sido visto no circuito das articulações que dizem respeito, principalmente, à eleição ao governo da Paraíba dentro de mais de um ano. Informalmente, ele passou a “testar” o potencial do deputado federal Pedro Cunha Lima, seu filho, como alternativa à sucessão de João Azevêdo no campo das oposições. Não descarta, é claro, a opção Romero Rodrigues (PSD), até porque o ex-prefeito de Campina Grande, no apagar das luzes do segundo mandato naquela cidade, pôs-se à disposição para empalmar uma disputa majoritária, em dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro, que vai concorrer à reeleição, e está aberto ao exame de outras soluções consensuais. Quem sabe, o próprio Cássio para governador?
É claro que um líder da sua estirpe não vai “entregar” o jogo ou repassar sinais de estratégias que estão sendo concebidas para derrotar, primordialmente, o esquema do governador João Azevêdo. O próprio deputado Pedro Cunha Lima já deixou claro que a oposição não deve subestimar o rolo compressor da máquina oficial e que, para fazer face a tanto, deve procurar construir a unidade a todo custo, superando pretensões personalistas e se atendo a projeções realistas sobre tendências de intenção de voto ou sobre preferências e inclinações do eleitorado no embate vindouro. Evidente que cassistas não trabalham com a hipótese de construção de uma “Arca de Noé” que agregue todos os adversários de João Azevêdo. Com o esquema de Ricardo Coutinho (PSB), não há a mais remota possibilidade de diálogo – pelo contrário, dele, Cássio, Pedro e Romero querem distância. Será preciso, então, buscar pontes com Luciano Cartaxo, do PV, sondar os humores do PP da senadora Daniella Ribeiro ou, se possível, atrair dissidentes na órbita oficial, como o clã Feliciano, do PDT.
Os nomes de Pedro Cunha Lima e de Romero Rodrigues estão postos na mesa porque ambos se dispuseram a encarar o desafio. Há dúvidas, entre analistas políticos, sobre suposta capilaridade eleitoral tanto de Romero quanto de Pedro para disputa em nível estadual, mas vai se firmando a opinião de que não há opções fortes ou teoricamente competitivas para a eleição de 2022, ressalvado o poder de fogo de Azevêdo por ser o governador de plantão. Com a morte do senador José Maranhão (MDB), que invariavelmente vinha se lançando ao governo e com o inferno astral do ex-governador Ricardo Coutinho, habituè do noticiário policial, os espaços foram se estreitando e, curiosamente, possibilitando a emergência de nomes, ainda que em fase probatória. Tal se dá com Luciano Cartaxo, com Pedro Cunha Lima, com Romero. Ou com Daniella Ribeiro e com Cícero Lucena, este com inconveniente político por estar ainda há poucos meses no mandato de prefeito de João Pessoa.
Foi a mutação no cenário político paraibano que levou o deputado federal Efraim Filho, do DEM, por exemplo, a se lançar pré-candidato à única vaga ao Senado que estará em confronto no próximo ano. Efraim se lançou na perspectiva de preencher o vazio político, atrair o apoio do governador João Azevêdo, que até agora mantém silêncio sepulcral sobre os contornos do xadrez eleitoral de 2022, e sensibilizar deputados federais, inclusive com a promessa de compartilhamento de votos nas suas bases – num universo calculado em 70 mil eleitores, podendo o contingente vir a ampliar-se ou não mediante gestões certeiras de bastidores que forem acertadas com denodo e confiabilidade. Cássio, ao cabo de uma incursão por João Pessoa, teria confessado satisfação com espaços que podem favorecer seu filho, Pedro, num embate majoritário. Ou seja, a receptividade dos primeiros “testes” agradou.
Nenhum dos atores políticos em evidência no quadro paraibano, mesmo aqueles que não estão exercendo mandato eletivo, como Cássio, ignora que a eleição majoritária do próximo ano vai ser particularmente emblemática em nosso Estado porque sinalizará a rearrumação de forças políticas, produzindo realidade distinta das eleições de 2018, quando Ricardo Coutinho ainda deu as cartas e contribuiu para eleger o sucessor. Como já foi dito neste espaço, o PSB liderado por Coutinho naufragou na voragem de denúncias de escândalos e na perda de influência dentro da máquina administrativa ou da estrutura política-partidária que vigoram. Será preciso levar em conta, também, o reflexo da conjuntura nacional, que com o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao tabuleiro acolherá variantes que sem dúvida vão impactar o eleitorado e acarretar reviravoltas no sistema que está aí.
Enquanto o jogo de paciência e de habilidade começa a se desenrolar, ainda que debaixo de indefinições, líderes que resistem no primeiro plano do “front” político-eleitoral desempenham papéis que lhe são reservados no contexto, inicialmente como articuladores de composições e de candidaturas, mas podendo evoluir para a condição, mesma, de protagonistas. Não será surpresa, por exemplo, se o ex-governador Cássio Cunha Lima ficar em “stand-by” para concorrer a um mandato, ainda que seja o de deputado federal, por onde começou sua trajetória. Fará isto se as injunções da conjuntura exigirem sacrifícios e como decorrência do seu re-engajamento à militância. Afinal, ainda que tenha experimentado revezes consecutivos nos últimos anos, Cássio é respeitado e reconhecido como líder proeminente e sabe que o meridiano da sucessão paraibana ainda passa pelo seu crivo, seja em que posição estiver.