Com o governo federal fragilizado na CPI da Covid no Senado, a comissão parlamentar de inquérito estreia nesta semana fase de depoimentos dedicada a devassar as ações de todos os ministros da Saúde que passaram pelo comando do presidente Jair Bolsonaro. Nesta semana, segundo informa o UOL, os holofotes estarão focados em Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e, principalmente, o general Eduardo Pazuello. Estão previstos para depor, ainda, o atual titular da pasta, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga e o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Antonio Barra Torres.
Embora senadores independentes e oposicionistas considerem que cada ex-ministro da Saúde tenha tido seus erros e acertos, eles se focarão em interrogar o general Pazuello por sua gestão ser considerada como a mais problemática. Os parlamentares vão insistir em obter esclarecimentos quanto ao atraso na contratação de vacinas, com recusa de propostas e supostas obstruções por parte de Bolsonaro, ao estímulo do uso de medicamentos de eficácia não comprovada para o tratamento da covid-19, como a cloroquina, com a produção em larga escala pelo Exército Brasileiro, à falta de insumos insuficientes para pacientes internados, com destaque à crise de oxigênio hospitalar no Amazonas no início deste ano, a ações de Bolsonaro contra o isolamento social e o uso de máscaras faciais e ao conflito do governo federal com governadores e prefeitos perante medidas mais restritivas de circulação de pessoas.
O general Eduardo Pazuello foi quem mais tempo ficou à frente da pasta até o momento – cerca de 10 meses, inclusive em meio à aceleração da gravidade da pandemia no país, e é percebido pelos senadores como o mais submisso às vontades de Bolsonaro. Em outubro, por exemplo, após ter sido desautorizado publicamente por Bolsonaro durante crise envolvendo a possibilidade de compra da vacina CoronaVac pelo governo federal, Pazuello apareceu ao lado do presidente sem máscara e disse: “Um manda, o outro obedece”. Parte dos senadores avalia que o então ministro demonstrou ali que seguiria somente a vontade do chefe, independentemente da necessidade da população e de ponderações científicas.
Cerca de dois meses depois, Pazuello perguntou “para que essa ansiedade, essa angústia?”, ao falar do processo de vacinação contra a covid-19. Ele era, então, pressionado para que o Executivo deixasse de lado as disputas políticas e apresentasse soluções para a imunização. No último dia 25, o general entrou sem máscara em um shopping de Manaus. A importância dada a Pazuello se reflete até no tempo de fala à CPI: a quarta-feira (5) inteira, se necessário, a partir das 10h, sem dividir o dia com outras autoridades. Na terça, a oitiva de Mandetta está marcada para começar às 10h, enquanto a de Teich será às 14h. Na quinta, será a vez de Queiroga e Barra Torres, sem horários definidos até agora. Nem todos os senadores críticos ao governo concordam que ouvir mais de um depoente num só dia seja o ideal. Admitem, porém, ser preciso dar uma satisfação rápida à população e, caso o cronograma fosse diferente, poderia atrasar os trabalhos e diluir a força de cada oitiva. Há quem argumente também que o tempo de fala está de acordo com o tempo de permanência de cada um nos cargos, com a aposta numa nova convocação de Pazuello.
Na presença de Marcelo Queiroga, os senadores deverão focar nas ações em exercício pelo Ministério da Saúde como a entrega de vacinas e compra de medicamentos, cujos cronogramas realistas continuam a ser cobrados por parlamentares e mandatários locais e, no planejamento para os próximos meses. Antonio Barra Torres, por sua vez, deve entrar na mira de senadores independentes e opositores, especialmente pela não aprovação do uso da vacina Sputnik V no país. Ao menos 14 Estados e dois municípios pediram autorização para a importação do imunizante, segundo a Anvisa, mas a agência tem negado a liberação sob a justificativa de falta de comprovação de qualidade e segurança.