Nonato Guedes
A advogada e maquiadora Juliette Freire, franca favorita em enquetes para ser a grande campeã do reality show Big Brother Brasil 21, da Rede Globo de Televisão, já fez muito mais pela promoção turística da Paraíba e do Nordeste do que muitas das inúmeras campanhas institucionais realizadas por sucessivos governos que se empenharam em atrair gente de fora, de outras plagas nacionais e do exterior, para conhecer e investir neste território calcinado por secas periódicas mas que acolhe em seu seio uma plêiade acostumada aos desafios e que tem a peculiaridade de ser hospitaleira em tempo integral. Uma parcial da enquete UOL no começo da tarde de ontem mostrava que a paraibana tem 72,76% dos votos do público para levar o prêmio de R$ 1,5 milhão do Big Brother. Fiuk, filho de Fábio Júnior, era o segundo com mais votos (20,36%), seguido de Camilla de Lucas (6,88%).
Juliette é um fenômeno e este é um consenso que vem se firmando praticamente desde as primeiras semanas em que ela entrou na “casa mais vigiada do Brasil” e começou a se impor pelo seu estilo autêntico, “sem papas na língua”, como se diz por aqui, pelo sotaque típico desta região que ela pronuncia com naturalidade, pelo caráter íntegro, solidário e sem maldade, pela concorrência leal que imprimiu à sua participação num jogo de alta voltagem, de adrenalina pura, que aglutinou famosos e anônimos, na edição mais comentada da história do “reality” transplantado pela emissora global na sua grade de entretenimento. O Big Brother Brasil já foi plataforma de lançamento de figuras que revelaram talentos artísticos e outros dotes aleatórios, além da afinidade de preparação para a competição propriamente dita.
O jogo, em si, tem algumas regras complexas e outras nem tanto, indicando claramente uma corrida de obstáculos, uma maratona da qual só emergem triunfantes os que se obstinaram a tentar a escalada até o fim no game e testaram seus limites pela necessidade de fazer valer objetivos com que sonharam ao aceitar se inscrever no Big Brother. É também um moedor de reputações para participantes despreparados intelectualmente ou psicologicamente, que acabam se traindo ao expor convicções retrógradas ou disseminar preconceitos que estão embutidos na própria formação. A paraibana Juliette Freire começou a vencer pela persistência – por mais de três vezes ela havia tentado vaga no game e manteve-se na lista de espera. Uma vez chamada, entrou na casa em vantagem, com conhecimento de táticas que viria a aprimorar no desenrolar do jogo, destronando candidatos ou candidatas que se julgavam esperto(a)s o bastante para levar a taça e o prêmio.
A paraibana apostou na construção de pontes de relacionamento com os demais participantes, sem que isto implicasse em ingenuidade diante das estratégias de concorrentes eventuais. Calculou com precisão cirúrgica as alianças que necessitava consolidar para fazer frente aos “paredões” implacáveis ou a manobras e sortilégios de “cancelamento” e “queimação” que se espalhavam de forma insidiosa, muitas vezes forjadas nos esconsos da mansão que é o refúgio de brothers e sisters em até cem dias ou mais de confinamento, isolados quase absolutamente do mundo exterior, dispondo de notícias homeopáticas sobre o que ocorre fora das quatro paredes da casa mais vigiada e tendo que dar tratos à bola, ou melhor, à intuição, para poder sobreviver no fio da navalha de uma disputa exangue. As táticas de Juliette não a silenciaram em voto de contrição ou de submissão a quem quer que seja. Quando foi preciso, falou alto – e com autoridade.
Para além do passo a passo do jogo, com suas provas de bate e volta, provas de resistência e o rosário de confabulações permanentes entre participantes sobre como se situar no contexto com o mínimo de informações ou de confiabilidade, Juliette sobressaiu, destacou-se mesmo, pelas aulas que ministrou sobre peculiaridades do Estado da Paraíba e da região nordestina. Em momentos assim, ela explicou didaticamente a saga dos tropeiros da Borborema, espécie de instituição tombada na Paraíba, incursionou por explanações sobre como preparar um cuscuz, especialidade saborosa da culinária nordestina, encantou e cantou músicas de artistas consagrados, variando de repertórios com uma loquacidade impressionante. Uma superdotada? Uma Mulher especial, que não se envergonhou de relatar passagens da sua biografia mrcada pela pobreza, pela dificuldade, por dramas familiares e pelas vicissitudes da conjuntura madrasta que sacode o torrão nordestino em meio a secas, fome, miséria e desigualdades latentes. Juliette passou desse extremo a outro, quando, embevecida, decantou as belezas naturais da Paraíba, as praias, o artesanato, entremeadas por reminiscências da sua infância, adolescência. Um Raio X completo, desnudando em rede nacional a sua personalidade.
Foi com os gestos largos de empatia, compartilhamento, generosidade, solidariedade, lealdade, que Juliette Freire arrebanhou milhões de seguidores nas redes sociais, tornou-se a sensação na mídia nacional e avançou, célere e altaneira, para chegar ao pódium. Se vai ganhar a finalíssima? Tudo indica que sim, e tem méritos de sobra. Além disso, uma torcida imensa de celebridades que a esperam do lado de fora para interagir com ela, gravar músicas, explorar seu potencial, sem falar nas ofertas insinuadas para programas de variedades em televisão. Nada será como antes na trajetória de Juliette Freire. A Paraíba já está “regozijada” com sua performance e seu brilhante papel de “embaixadora” que botou no chinelo todos os figurantes contratados por governos para divulgar o “produto Paraíba” lá fora. Juliette já ganhou esse Big Brother. Merece um feriado estadual, a ser inserido no calendário histórico de eventos, além das inúmeras homenagens que já estão programadas. Mais meio século se passará na nossa história até aparecer uma Juliette em outra dimensão. Se é que vai aparecer…