Nonato Guedes
Com o adiamento da fala do general Eduardo Pazuello, prevista para esta semana e remarcada para o próximo dia 19, a presença do atual ministro da Saúde do governo Bolsonaro, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, é a mais esperada pelos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga, no Senado, as ações e omissões do governo federal na pandemia e também os repasses para Estados e municípios para o enfrentamento ao novo coronavírus. Há pouco mais de um mês no cargo, Marcelo Queiroga deverá depor hoje, a partir das 10h, e ser questionado pelo colegiado, que tem minoria governista, ainda mais incisivamente que seus antecessores, sobre o atraso na negociação das vacinas contra o coronavírus, o negacionismo e a defesa do uso da cloroquina pelo presidente Bolsonaro.
Uma reportagem do UOL mostra que a pressão por vacina e anti-cloroquina é muito forte junto a Queiroga por parte dos políticos, principalmente dos opositores do presidente da República. O cardiologista paraibano é tido como detentor de “jogo de cintura” na articulação com os políticos, tendo se destacado pela participação, antes de ser ministro, em audiências públicas no Congresso, como interlocutor de reivindicações da Sociedade Brasileira de Pediatria, que ele vinha presidindo até ser nomeado ministro. Desta feita, o cenário é mais difícil para Queiroga em virtude do fogo cruzado contra Bolsonaro e a sua política de combate à covid-19, que já acarretou mais de 400 mil mortes no Brasil, estatística considerada alarmante em todo o mundo. Depois do ministro, os senadores devem ouvir ainda o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Antonio Barra Torres.
O ministro deve ser questionado pela defesa que tem feito de Bolsonaro, contrário a medidas de isolamento e pró-medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da covid-19. Ontem, Queiroga afirmou que a gestão federal não é “negacionista” e que “negacionismo é negar o que o governo fez”. Ele também disse, no lançamento do que chamou de “maior pesquisa sobre covid-19 do mundo” que o governo “não mediu esforços” para contratar vacinas – embora o próprio governo tenha admitido que só conseguiu negociar metade dos 560 milhões de doses que havia anunciado. Já na segunda-feira (3), demonstrando alinhamento com o discurso bolsonarista, o médico afirmou a empresários que parte da imprensa “não contribui com o Brasil” em meio à pandemia e sugeriu que fosse repensada a publicidade nesses veículos.
Pelo roteiro liberado à imprensa, após abrir a sessão, hoje, para uma breve explanação de Marcelo Queiroga, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), vai liberar o tempo para as perguntas. Cada um dos 18 senadores terá direito a cinco minutos para formular os questionamentos, sendo o mesmo tempo concedido ao depoente para a resposta. Depois, serão concedidos três minutos para as réplicas e outros três minutos para as tréplicas. No cronograma dos próximos depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito, figuram o ex-secretário da Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, e representantes da Pfizer, presidentes da Fiocruz, Nísia Trindade, e do Instituto Butantan, Dimas Covas, ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e representante da União Química e o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que está sendo monitorado por Bolsonaro e assessores de confiança pessoal sobre o que deverá dizer no plenário da CPI.