Nonato Guedes, com agências
No dia do depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI da Covid, o preesidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar, em sua live semanal, sobre a possibilidade de baixar um decreto para acabar com as medidas de restrição e isolamento social no Brasil. Durante o depoimento na CPI, o ministro Queiroga foi questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) se foi chamado para “opinar” sobre o decreto, mas negou. “É uma demonstração de que, talvez, a sua autonomia seja uma coisa que esteja mais na sua cabeça do que na do presidente”, rebateu o parlamentar.
Ignorando as medidas de isolamento social no Distrito Federal e destoando da fala de Queiroga no Senado em que disse que “toda aglomeração deve ser dissuadida, independente de quem a faça”, Jair Bolsonaro marcou um passeio de moto no Dia das Mães (domingo) e anunciou um encontro com produtores rurais em Brasília no próximo dia 15. “Quem manda no Brasil é o povo brasileiro”, disse. O presidente voltou a responsabilizar os governadores pela situação econômica do país. “Se você está com o seu comércio fechado, é culpa do seu governador! Se a sua geladeira está vazia, cobra o seu governador ou prefeito aí”, emendou.
Desconsiderando as reações adversas já anunciadas que a cloroquina pode causar, Jair Bolsonaro afirmou que “nunca viu ninguém morrer por tomar cloroquina”. E mais: “O povo toma cloroquina lá no Amazonas”. Ele evitou citar que o remédio na região é usado para combater a malária. No dia 23 de março, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que em São Paulo pelo menos cinco pessoas foram para a fila de transplante de fígado pelo uso do remédio e três morreram. Na CPI da Covid, Marcelo Queiroga foi constantemente questionado sobre a sua autonomia no ministério e sobre as contraindicações da cloroquina, mas evitou dar declarações que divergissem do presidente. Porém, o ministro chegou a dizer que publicaria no Diário Oficial da União se a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) comprovasse que a cloroquina não é recomendada para o tratamento de covid-19. A Comissão tem até 180 dias para dar essa resposta a partir do início da gestão do ministro.
Ainda durante a live, Bolsonaro fez alusão ao relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL). “Frase não mata ninguém. O que mata é desvio de recurso público que seu Estado desviou. Vamos investigar o teu filho que a gente resolve esse problema. Desvio mata. Frase não mata”, disse o presidente. O senador não demorou para responder às críticas de Bolsonaro. Ainda durante a oitiva de Queiroga, Calheiros pediu a palavra e disse que “o que mata é a pandemia. Pela inação, inépcia que eu torço que não seja dele – porque não queremos fulanizar isso aqui”. Com relação ao Estado de Alagoas, pediu ao presidente da República que “não gaste seu tempo ociosamente, como tem gasto seu tempo enquanto os brasileiros continuam morrendo. Aqui nesta Comissão Parlamentar de Inquérito, enquanto houver necessidade, todos, sem exceção, serão investigados”. A resposta incomodou membros da base governista na CPI, como Marcos Rogério, do DEM-RO, que afirmou que o presidente não é objeto de investigação.
Por outro lado, enquanto o ministro Marcelo Queiroga depunha na CPI da Covid, veio à tona a notícia de que o hospital da família da esposa dele, Hospital Santa Paula, foi reativado com recursos públicos no ano passado na Paraíba, durante a pandemia, e colocado à venda recentemente. Segundo reportagem de Claudio Dantas, do portal O Antagonista, a unidade, que já foi administrada por Queiroga, foi fechada em 2012 por problemas financeiros e reativada diante da pandemia em 2020 com recursos do Estado da Paraíba. O hospital foi alugado para o Estado. A matéria aponta que o hospital foi remodelado para atender a pacientes com Covid-19 e possui 150 leitos, sendo 20 de Unidade de Terapia Intensiva. Dois meses após a reforma, ele teria sido colocado à venda, por R$ 47 milhões. Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, Queiroga negou relação. “O hospital estava alugado ao Estado da Paraíba muito antes de eu assumir minha condição de ministro. Não tenho nenhum tipo de relação com a gestão”, respondeu.