Nonato Guedes
Em 2018, então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV) foi cogitado como uma das alternativas da oposição para disputar o governo do Estado mas refugou a hipótese a pretexto de que tinha projetos relevantes a concluir na administração da Capital. Acabou lançando o irmão gêmeo, Lucélio, numa chapa em conjunto com líderes de Campina Grande que se revelou essencialmente doméstica – a candidata a vice era a doutora Micheline Rodrigues, mulher do então prefeito Romero (PSD). A chapa ainda ficou em segundo lugar no cômputo geral, com 23,41% dos votos, vindo lá atrás, com 17,44% a candidatura de José Maranhão (MDB). Tárcio Teixeira e Rama Dantas, por legendas de esquerda, completaram o cenário, obtendo percentuais inexpressivos.
Em 2021, faltando pouco mais de um ano para novas eleições de governador e, estando fora do poder, Luciano Cartaxo sinaliza, em declarações à imprensa e em contatos políticos, que mira o Palácio da Redenção, embora, para todos os efeitos, não assuma qual o cargo que vai disputar em 2022. A diferença é que, além de estar no ostracismo depois de ter empalmado dois mandatos consecutivos na prefeitura de João Pessoa, Luciano Cartaxo não consegue unir segmentos da oposição paraibana para bater João Azevêdo na sua tentativa de recondução. Romero Rodrigues, depois de se lançar pré-candidato ao governo, sumiu do “front” em meio a insinuações citando o seu nome na Operação Calvário, que já trouxe problemas de sobra para o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Mas o “espaço” de Romero é preenchido com a movimentação do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que se coloca à disposição para o confronto, em paralelo a rumores de que o pai, o ex-senador Cássio Cunha Lima, pode vir a ser o grande nome das forças campinenses para tentar bater Azevêdo e outros postulantes.
De concreto, o ex-prefeito Luciano Cartaxo não consegue, nas entrevistas, mencionar com segurança pelo menos meia dúzia de partidos que possam ser atraídos para uma eventual candidatura sua ao governo. Exatamente por conta dessa dificuldade é que suas declarações são propositadamente vagas, inclusive a respeito do mandato que pretende pleitear. Diante de si contempla a hipótese de uma candidatura a deputado federal, a senador ou…a governador. Trai a convicção de quem é mais afeito ao Executivo – detentor da caneta que nomeia e demite, lembrando que foi prefeito de João Pessoa por duas vezes consecutivas e vice-governador do Estado. Politicamente, além disso, Cartaxo foi vereador e deputado estadual. Sua projeção, para falar a verdade, veio com a passagem pela prefeitura, mas isto não lhe valeu o dom de transferir votos, na eleição do ano passado, para a sua candidata e concunhada Edilma Freire, que passou longe do segundo turno da disputa na maior cidade da Paraíba.
Cartaxo tem uma trajetória política cambiante na conjuntura paraibana, o que, talvez, infunda desconfianças junto a parceiros que ele tente atrair. Em 2006, por exemplo, foi candidato a vice-governador de José Maranhão, no pleito que consagrou Cássio Cunha Lima. Cartaxo, então filiado ao PT, chegou a Palácio a bordo da ascensão de Maranhão, em 2009, faltando pouco para o término do mandato de Cássio Cunha Lima, que foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O tucano considerou-se vítima de uma das maiores injustiças da história política do país. Maranhão, até por causa do estilo centralizador e da pressa que tinha em se firmar novamente no governo, não abriu maiores espaços para o seu vice e trocou Cartaxo por Rodrigo Soares na chapa que concorreu em 2010 ao governo, derrotada pela eclosão do novo líder estadual Ricardo Vieira Coutinho.
O triunfo de Luciano à prefeitura de João Pessoa foi um lance político espetacular do ponto de vista estratégico e resultou de costura habilidosa montada junto com o homônimo Luciano Agra, que subiu ao pódio com a renúncia de Ricardo para disputar o Palácio da Redenção. Agra, como se sabe, foi “rifado” por Coutinho dentro do PSB na pretensão de concorrer, então, à reeleição, e armou a revanche, aliando-se a Nonato Bandeira (então PPS) e apoiando Luciano Cartaxo contra a candidata do governador, Estelizabel Bezerra. Em 2016, já na reeleição, Cartaxo estava se despedindo do PT e fixando-se no PSD, de onde migrou para o Partido Verde, onde ainda se mantém. A aproximação de Cartaxo com Romero Rodrigues e Cunha Lima em 2018 foi mera “tática de conveniência”, não significando compromisso de desdobramento nem garantia de aliança. Tanto assim que em 2020 Romero abalou-se à Capital para declarar apoio a Nilvan Ferreira (MDB) no segundo turno, contra Cícero Lucena, que acabou vitorioso.
Da mesma forma como Luciano tem, teoricamente, um leque de cargos à disposição para cortejar em 2022, Romero Rodrigues dispõe do mesmo leque, valendo lembrar que, se não chegou a ser vice-governador, ele foi deputado federal, mandato em que construiu amizade com o presidente Jair Bolsonaro, que teria muito prazer em fazer dobradinha com o candidato a governador na Paraíba, preferência que se estende, também, a Cássio Cunha Lima. O obstáculo de Cartaxo é o de agregar apoios. Na esquerda ele encontrará campo minado e esbarrará em propostas de unificação que já começam a ser ensaiadas entre grupos distintos; na oposição a Azevêdo, deve se deparar com propostas de “amarração” mais sólidas, sobretudo junto ao esquema que congrega Cunha Lima e Rodrigues. Há quem acredite, por fim, que Cartaxo deixou passar o cavalo selado lá atrás, possivelmente em 2018.
Se deixar de mirar o governo do Estado, Luciano e seu “clã” talvez encontrem acenos mais fáceis de espaço para composição e até mesmo sobrevivência no quadro político paraibano. O ex-prefeito da Capital tem sido, de algum modo, bafejado pelo fator sorte, um elemento que não pode ser desprezado em política, tal como Napoleão não o desprezava nas guerras que enfrentou. Mas é preciso ter em conta que sorte não é tudo – e, em alguns casos, não é o fundamental ou a arma apropriada para vitórias em batalhas importantes ou decisivas. A estratégia, na opinião dos especialistas, é considerada como o grande trunfo para produzir reviravoltas acachapantes, sobretudo contra quem detém nas mãos os cordéis do Poder, com sua logística nem sempre infalível, mas invariavelmente ameaçadora. É nela que Luciano precisará investir para alcançar o desideratum que persegue.