Nonato Guedes
“Não tenho dúvida de que ele vai depor de novo”, afirmou o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre nova convocação para esclarecimentos pelo cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, ministro da Saúde do governo Bolsonaro, no âmbito da CPI. Em declarações ao “Correio Braziliense”, Aziz criticou o ministro duramente por ter se esquivado, durante depoimento à comissão na quinta-feira, de responder a perguntas a respeito de sua opinião sobre a defesa que o presidente Bolsonaro faz do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, embora o medicamento não tenha eficácia científica comprovada contra a enfermidade.
– Está patente que ele (Queiroga) é contra, mas, para não magoar o presidente, ele não fala – analisou Aziz, acrescentando que o depoimento do ministro “foi um dos piores” e que, por essa razão, ele “dificilmente não será reconvocado” para depor. Segundo Aziz, Queiroga deve ser ouvido novamente também porque, apesar de dizer que tem autonomia no ministério, mantém na equipe a secretária de Gestão do Trabalho, Mayra Pinheiro, apelidada de “Capitã Cloroquina” nos corredores do bloco G da Esplanada. Em depoimento ao Ministério Público Federal do Amazonas, ela assumiu que, durante a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, recomendou a médicos do Estado o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19.
Para Aziz, apesar de ter falado na CPI sobre autonomia, o ministro Marcelo Queiroga, a curto prazo, vai descobrir que não tem essa autonomia toda que está dizendo que tem. O presidente fez um balanço positivo da primeira semana de depoimentos na CPI, informando que foi montado um programa de trabalho focado na cronologia da chegada do vírus no Brasil, daí porque os primeiros a depor seriam os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Houve interrupção por causa do ex-ministro Eduardo Pazuello, que alegou ter tido contato com duas pessoas que estavam infectadas pela Covid, segundo comunicado enviado pelo Comando do Exército. “Mas nada que tivesse afastado o nosso trabalho, porque nós conseguimos ouvir o ministro Marcelo Queiroga e o andamento da comissão parte do princípio do que nós deixamos de fazer e por que não temos as vacinas suficientes para o povo brasileiro”, acrescentou.
Esta semana a CPI pretende ouvir a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que Aziz considera “uma parte importante para que a gente possa trazer as vacinas suficientes para o Brasil”. E pontua: “Isso vai dar o norte, porque o objetivo principal, desde o primeiro momento, é ter pelo menos duas vacinas para cada brasileiro neste ano”. O presidente da Comissão, indagado se os primeiros depoimentos confirmaram as suspeitas de que o governo optou por ignorar medidas científicas que deveriam ser adotadas contra a Covid-19, respondeu: “Necessariamente, esses depoimentos nem precisavam confirmar, porque o próprio comandante da nação, frequentemente, coloca essa posição”. O parlamentar avalia que há um caminho tortuoso a ser perseguido dentro da CPI. “Precisamos sair da CPI com uma proposta que possa prevenir não apenas esta geração, mas também as outras gerações de outras pandemias”, finalizou.