Nonato Guedes
Quando se investiu no comando do MDB da Paraíba, sucedendo ao então senador José Maranhão, que morreu de complicações da Covid, o senador Veneziano Vital do Rêgo criou a expectativa de revigoramento do partido, com a ampliação de quadros e a possibilidade de retomada do protagonismo que experimentou em outras épocas na história política estadual. Os analistas políticos, entretanto, observam que, pelo menos para as eleições de 2022, o MDB estará mais para “puxadinho” do governo de João Azevêdo e coadjuvante da cena política local do que para protagonista. Já foi decidido que o MDB não terá candidato próprio ao governo e fechará com a candidatura de João à reeleição. Para o Senado, na vaga que Maranhão ocupava, o partido também não terá candidato próprio, já tendo se fixado pelo apoio à pretensão do jovem deputado Efraim Filho, do Democratas.
Há quem afirme que Veneziano supostamente trabalha nos bastidores para emplacar sua esposa, Ana Cláudia Vital do Rêgo, na chapa de Azevêdo, como candidata a vice-governadora, substituindo Lígia Feliciano (PDT), que estará concluindo seu ciclo na vice-governança. A hipótese não parece crível, inclusive porque Ana Cláudia, que em 2020 ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura de Campina Grande, concorrendo pelo “Podemos”, não pelo MDB, tem sido cogitada para candidata a deputada federal. Veneziano faz articulações para reforçar a jornada da mulher, e o apoio à candidatura de Efraim Filho ao Senado implicaria, conforme versões, em operação para transferir votos a Ana Cláudia na disputa à Câmara. Em tese, o MDB está na iminência de ficar completamente fora de chapa majoritária nas eleições do próximo ano.
Sob o comando de Veneziano, o partido, que já viveu oportunidades de glória na realidade política do Estado, parece empacado na ocupação de espaços e no avanço da própria estratégia de expansionismo que o senador-presidente cogitou implantar. Claro que as dificuldades para um projeto de fortalecimento estavam na lógica do processo, tanto pelo definhamento que o partido vinha experimentando como pela atipicidade da conjuntura, na situação atual, com o fim das coligações proporcionais decretado em minirreforma eleitoral vigente e, em outra vertente, por causa das medidas de restrição à mobilidade social que se fizeram imprescindíveis devido à calamidade da pandemia do novo coronavírus. Os partidos, de um modo geral, estão sentindo problemas de adaptação ao chamado “Novo Normal”, e líderes como o ex-presidente Lula da Silva (PT) sobrevivem de videoconferências e entendimentos em grupos fechados para dar vazão a costuras políticas indispensáveis para a eleição do próximo ano.
Abstraindo esses fatores, é preciso notar que sob a orientação do senador José Maranhão, mesmo com o peso da idade e com o quadro de defecções que vinha se acentuando nas hostes emedebistas, o partido marcou presença em eleições majoritárias, ao governo da Paraíba ou ao Senado, em quase uma década – na década concluída no ano passado, não necessariamente contabilizando vitórias. Em 2010, por exemplo, o próprio Maranhão tentou voltar ao Palácio da Redenção pela quarta vez, desta feita pelo voto, já que em 2009 havia se investido no cargo mediante decisão judicial. E perdeu a parada para Ricardo Coutinho (PSB). Em 2014, o MDB, que ainda era PMDB, lançou Vital do Rêgo Filho (atualmente ministro do Tribunal de Contas da União), que passou nem para o segundo turno, disputado entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima (PSDB), com a vitória do primeiro. Nesse ano, Maranhão apostou na única vaga ao Senado que estava em jogo e que era ocupada por Cícero Lucena, e levou o troféu.
Quatro anos depois, Maranhão, demonstrando renitência e induvidosa obsessão pelo exercício da chefia do Executivo estadual, lançou-se novamente candidato ao Palácio da Redenção, enfrentando competição desigual porque a oposição havia se dividido com outra candidatura – a de Lucélio Cartaxo, apoiada pelo grupo Cunha Lima, de Campina Grande, enquanto o governo, pilotado por Ricardo Coutinho, então líder inconteste, investiu todas as fichas na candidatura de João Azevêdo, “pupilo” do gestor de plantão. Ressalte-se que, naquele pleito, Coutinho logrou materializar a transferência de votos, fenômeno sempre complicado na esfera política-eleitoral, e foi favorecido em parte pela tática engenhosa que adotou – a de permanecer à frente do cargo e do comando da máquina administrativa, abrindo mão de concorrer ao Senado ou à deputação federal. Foi assim que, com paciência e denodo, converteu Azevêdo em vitorioso no primeiro turno e ainda contribuiu para derrotar Cássio Cunha Lima na tentativa de reeleição. Esta última meta havia se tornado prioridade para Ricardo tanto quanto a eleição de Azevêdo, conforme ele me contou. Pouco tempo depois, como se sabe, os dois romperam a lua de mel.
Mas, voltando ao ex-governador José Maranhão: ainda na campanha de prefeito em 2020, ele fez um movimento que surpreendeu analistas políticos ao filiar o comunicador Nilvan Ferreira ao partido e lançá-lo candidato à sucessão de Luciano Cartaxo em João Pessoa, principal cidadela política-eleitoral do Estado. Afora o prestígio como comunicador de rádio e televisão e o perfil de franco-atirador que exibiu na disputa, atacando tanto Azevêdo quanto Cartaxo, Nilvan buscava colar sua imagem à do governo do presidente Jair Bolsonaro, fazendo acenos a segmentos de direita no Estado. Ganhou passaporte para o segundo turno, onde deu combate a Cícero Lucena (PP), que ganhou por margem estreita, comparando-se o histórico dos contendores. Terá havido, ali, a derradeira atuação de Maranhão para revigorar o MDB. Por esse tempo, já fora reconstruída a ponte com Veneziano, que, agora elevado com honras ao comando, debate-se para evitar o sumiço, em suas mãos, de uma legenda que já foi preponderante na conjuntura paraibana em momentos decisivos da luta pelo poder.