Nonato Guedes
Após mais de um ano da pandemia de Covid-19 e o registro de 425 mil mortes, o Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro, comandado pelo cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, lançará, hoje, uma campanha de conscientização para que a população utilize máscaras de proteção e adote outras medidas de prevenção contra o coronavírus. A “Campanha de Conscientização sobre Medidas Preventivas e Vacinação contra a Covid-19” será oficialmente lançada no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília e deve contar com a presença do mascote da vacinação, o Zé Gotinha, cuja presença em ações publicitárias do governo foi cobrada em março pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ação acontece em meio à Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no Senado e que apura as ações e omissões do governo no combate à pandemia. No último domingo, mesmo diante da possibilidade de ser responsabilizado depois das apurações da CPI e com a proximidade do lançamento da campanha do Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro voltou a promover aglomeração sem o uso de máscaras. Em abril, o ministro Marcelo Queiroga chegou a responsabilizar a população pelo agravamento da pandemia e, indiretamente, o próprio presidente Bolsonaro. Ele afirmou: “Se a população estivesse usando máscaras, mantendo o distanciamento, evitando aglomerações, se tivesse um programa de testagem mais adequado, isolamento dos casos positivos e dos seus contactantes, se fizéssemos a disciplina dos transportes urbanos, e para o funcionamento dos setores estratégicos, os senhores podem ter certeza de que não estaríamos vivendo o momento que estamos vivendo hoje”, disparou, praticamente listando tudo o que o seu chefe, Bolsonaro, não fez.
Na ocasião, Queiroga também adiantou a campanha que será lançada nesta quarta-feira. Ele pontuou, contudo, que isso não será feito “na base da lei”, sinalizando uma postura contrária aos decretos estaduais e municipais que tornem obrigatório o uso da proteção. “Sobre o uso de máscaras, é necessário dizer o esforço que eu tenho feito. Desde o primeiro dia tenho recomendado o uso de máscaras, como também as outras medidas, mas entendo que não é na base da lei que a gente vai resolver isso. O governo, por meio do Ministério da Saúde, vai fazer uma orientação geral”, declarou. Em Brasília, o comparecimento à CPI do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, é motivo de controvérsias. A “Revista Fórum” informa que a Advocacia-Geral da União do governo Bolsonaro, comandada pelo ministro André Mendonça, deve apresentar ao Supremo Tribunal Federal nos próximos dias um habeas-corpus com o objetivo de garantir que o general da ativa Eduardo Pazuello possa se manter em silêncio durante seu depoimento na CPI.
De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, o governo pretende garantir que Pazuello possa ficar calado no depoimento previsto para o dia 19, mesmo ele estando na condição de testemunha, que o obrigaria a falar. Essa possibilidade tem gerado alarme na comissão, apesar da oposição acreditar que a possibilidade de isso funcionar é baixa. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão e líder da oposição, afirmou à CNN: “Pelo que já está pacificado no STF, pela decisão que foi já tomada, inclusive pela Suprema Corte, de não interferir em investigações conduzidas pelo Parlamento, mesmo que Pazuello busque esse habeas-corpus, eu particularmente não acredito que ele venha a ser concedido”.