Nonato Guedes
Com o governo enfrentando um turbilhão de denúncias e notícias ruins, além do bombardeio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado que apura omissões e falhas no enfrentamento à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro vê despencar a sua popularidade em regiões como o Nordeste, onde vinha investindo para neutralizar a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ameaça voltar em alto estilo na corrida eleitoral do próximo ano. Uma pesquisa do Datafolha captou o elevado índice de rejeição do chefe do governo – pelo menos 62% dos entrevistados no Nordeste disseram que não votariam no capitão de jeito nenhum no primeiro turno.
A aprovação ao governo Bolsonaro chega a apenas 24%, a pior marca registrada, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera intenções de voto num segundo turno em 2022 com 55% contra 32% de Bolsonaro. A rejeição é acentuada em outras regiões do território nacional, como o Sudeste. Na pesquisa estimulada de intenções de voto no primeiro turno, Lula aparece com 41%, Bolsonaro com 23%, Sergio Moro com 7%, Ciro Gomes com 6%, Luciano Huck com 4%, João Doria com 3%, Luiz Henrique Mandetta com 2%, João Amoêdo com 2%. Somados, os adversários de Lula têm 47%, seis pontos percentuais a mais que o ex-presidente. Com a projeção de 55% dos votos no segundo turno contra 32% de Bolsonaro, isto significa que o petista herdará os votos dos eleitores de Doria, Ciro e Luciano Huck, enquanto o presidente teria votos dos eleitores de Moro.
Foi a primeira pesquisa promovida pelo Datafolha para as eleições de 2022 desde que Lula recuperou os poderes públicos. O instituto aponta que Lula recebe votos de eleitores de menor renda e escolaridade. Ele tem 51% das intenções de voto entre os entrevistados que declararam ter ensino fundamental e 47% na faixa de renda de até dois salários mínimos. O índice cai para 30% entre quem declarou ter ensino superior e 18% na faixa de quem tenda maior do que dez salários mínimos. O ex-presidente tem o nordeste como maior reduto eleitoral, atingindo 56%. Bolsonaro alcança 36% entre os entrevistados que declararam estar vivendo normalmente, mesmo com a pandemia e, nessa mesma faixa do eleitorado, Lula detém 33%. Entre quem afirmou estar mantendo as recomendações de isolamento social, 58% apoiam o candidato do PT. Na mesma faixa do eleitorado, 8% disseram votar no atual presidente.
O presidente perde para Lula em todas as regiões do país e tem o melhor desempenho no Sul e Centro-Oeste/Norte, com 28%. Entre os evangélicos, o presidente tem 34% das intenções de voto e Lula 35%, um empate técnico de acordo com critérios de metodologia do Datafolha. Já entre os desempregados que procuram trabalho, 16% votariam em Bolsonaro. Contudo, o presidente lidera entre os empresários com 49% das intenções de voto. Neste grupo, Lula tem 26%. Entre os que receberam o auxílio emergencial, 22% disseram que votariam no presidente. O ex-ministro Ciro Gomes se sai melhor entre os entrevistados com ensino superior (11%) e com os mais ricos (13%). A vantagem do ex-presidente Lula é considerada ampla pelos analistas em geral, tanto em cenários referentes ao primeiro turno como em cenários de segundo turno na eleição presidencial de 2022, e constata-se que o petista já está abocanhando parte do eleitorado de Jair Bolsonaro.
Em 2018, por exemplo, Bolsonaro se elegeu contra Fernando Haddad com o apoio massivo dos evangélicos. E, pelo que revela o Datafolha, ainda mantém apoio expressivo desse segmento, mas já é superado por Lula, numericamente, também nas intenções de voto desse público. Outro dado do levantamento que merece destaque é que Lula tem mais intenções de voto que Bolsonaro em todas as regiões do país. O derretimento da popularidade de Bolsonaro traduz fator de inquietação para as hostes do presidente da República, que parece cada vez mais isolado junto a segmentos sociais. São resultados que geram dúvidas quanto a uma capacidade de reação do atual mandatário no curto prazo, o que deverá se refletir em alianças regionais, nos Estados, com vistas ao pleito vindouro. Lula, naturalmente, capitaliza insatisfações e vai se firmando para uma reabilitação política-eleitoral em alto estilo, depois de ter recuperado direitos de elegibilidade, conforme lhe foi assegurado pelo Supremo Tribunal Federal. Uma reviravolta que surpreendeu a alguns, mas que estava na lógica do processo, já que quem tentou se apresentar como alternativa a Lula não carreou simpatias nem motivou adesões na conjuntura nacional.