Nonato Guedes
A destituição do deputado federal Wilson Santiago da presidência do diretório regional do PTB na Paraíba, determinada pelo presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, abre espaços para acomodar aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro, que estão se sentindo incomodados em outras legendas e na iminência de sofrerem pressão para tomar rumos indesejáveis nas eleições do próximo ano. O ex-candidato a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira, por exemplo, tido como “terrivelmente bolsonarista” – expressão usada para definir aliados incondicionais do capitão, está desconfortável no MDB desde a ascensão ao comando do senador Veneziano Vital do Rêgo, que apoia a candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição e não fecha com Bolsonaro em 2022.
Também o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que já se lançou como pré-candidato ao governo da Paraíba, acompanha com inquietação os movimentos políticos nacionais de diálogo do seu partido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que disputará contra Bolsonaro em 2022. Romero foi colega de mandato de Bolsonaro na Câmara Federal, por ele foi prestigiado com obras quando esteve à frente da prefeitura de Campina Grande no segundo mandato e tem tido deferência mesmo agora, quando está fora do poder no Estado. Por enquanto, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, não confirmou alinhamento da agremiação com a candidatura de Lula, mas admitiu como naturais os entendimentos. O PTB, sob nova direção, pode ser uma válvula de escape para a sobrevivência política de Romero Rodrigues e continuidade do seu projeto, entre outros partidos que estão mais próximos do pré-candidato ao governo.
O deputado federal Wilson Santiago caiu em desgraça perante Roberto Jefferson, o dirigente nacional petebista, por ter votado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, contra proposta criminalizando o “ativismo judicial” de membros do Supremo Tribunal Federal. Roberto Jefferson assume que está em guerra aberta contra ministros da Suprema Corte e contra outros segmentos que, na sua opinião, querem atrapalhar o governo do presidente Jair Bolsonaro, e salienta que por conta desse seu posicionamento tem sofrido perseguições. Para ele, a falta de solidariedade, num momento difícil como o atual, por parte de próprios integrantes do PTB, é imperdoável e foi por isso que Roberto Jefferson agiu com o objetivo de destituir Wilson Santiago do comando da legenda em nosso Estado. Jefferson foi o célebre delator do “mensalão”, que incriminou não apenas cabeças coroadas do Partido dos Trabalhadores, mas membros do próprio PTB, inclusive ele, bafejados no episódio da compra de apoio parlamentar. Mais remotamente, Jefferson integrou a “tropa de choque” que defendeu Fernando Collor de Mello na Câmara por ocasião do impeachment do então presidente, que acabou se concretizando apesar dessas reações.
No último dia 12 estiveram em João Pessoa o Coronel Meira, presidente do PTB em Pernambuco e comitiva, na qualidade de emissários da cúpula nacional petebista para se reunir com lideranças políticas paraibanas e representantes regionais do partido no Estado. O encontro foi definido no site nacional do PTB como o primeiro dentro da estratégia de alinhamento de posições na conjuntura local com vistas a montar o novo diretório estadual após a destituição de Wilson Santiago. Ainda este mês, o grupo pretende ir a Brasília se reunir com o presidente nacional Roberto Jefferson para chancelar a decisão. De Campina Grande compareceram à reunião Rafael Pimentel, Bernardo Pimentel e Thiago Melo, e de João Pessoa Nilvan Ferreira (ainda filiado ao MDB), Eudócio Dantas e Mayranne Almeida. O Coronel Meira declarou a jornalistas locais ter ficado impressionado com a conversa mantida com Nilvan Ferreira por ter identificado nele comunhão de propósitos e afinidade de pensamento com teses esposadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
O que se constata é que não apenas o PTB mas outros partidos políticos na Paraíba estão se preparando para tomar definições ou fixar alinhamentos com prazo de validade para as eleições presidenciais de 2022, que deverão assinalar polarização renhida entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há expoentes de partidos, como por exemplo o DEM e o PP, alinhados com Bolsonaro, que terão que fazer malabarismo para se situar no contexto paraibano por apoiarem simultaneamente o governo João Azevêdo, que não tem ligação com o bolsonarismo. Essas questões vão ser resolvidas lá na frente. A prioridade maior é encontrar guarda-chuva para acolher bolsonaristas que se sintam no sereno em virtude de mutações ocorridas no quadro político regional. São adequações que ocorrem na Paraíba como ocorrem em vários outros Estados da Federação.