Nonato Guedes
O ex-governador José Targino Maranhão estava no pleno exercício do mandato de senador quando faleceu no dia oito de fevereiro no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, vítima da covid. Tinha 87 anos e era considerado o mais idoso integrante do Senado da República. Maranhão elegeu-se senador pela Paraíba por duas vezes em conjunturas distintas, mas concorrendo pela legenda do PMDB (que voltou a se chamar MDB). Na primeira, em 2002, dividiu cadeira com Efraim Morais (DEM), em lados opostos na política local. Em 2014, concorreu a uma única vaga, que era exercida, então, por Cícero Lucena. Neste último pleito, enfrentou meia dúzia de concorrentes, de Lucélio Cartaxo, do PV, a Wilson Santiago pelo PTB, passando, ainda, pela professora Leila e por Nelson Júnior, de siglas pequenas.
Tendo começado trajetória política no mandato de deputado estadual em 1955, contabilizando seis décadas de militância, Maranhão, que tinha raízes familiares e tradição social em Araruna, no brejo paraibano, vivenciou altos e baixos na carreira que escolheu seguir, colocando à margem sua formação bacharelesca e o brevê como piloto de aeronave, uma das suas grandes paixões. Tríplice coroado no cargo de governador do Estado, ele foi cassado pelo regime militar de 1964 devido a posições nacionalistas que tomou e a críticas que fez à ditadura, tendo sobrevivido, estoicamente, à espécie de exílio informal que lhe foi imposto. Enfrentou derrotas ao governo nas duas vezes em que tentou voltar pelo voto popular. Não cortejava o populismo e aproximou-se da esquerda pelas posições reformistas que assumiu ainda dentro do PTB, por onde iniciou a trajetória.
Devolvido à cena, parecia em dificuldades para se reeleger à Câmara Federal em 1994 quando os fados do destino operaram metamorfose na sua jornada: ele foi convidado pelo saudoso Antônio Mariz a ser seu vice na campanha que seria travada ao governo do Estado contra a deputada Lúcia Braga, já falecida. Mariz venceu a disputa que teve lances de radicalização e dividiu correntes de opinião influentes na Paraíba, mas morreu pouco tempo depois, vítima de câncer, sendo Maranhão alçado à titularidade do Executivo em 1995. Na sequência, JM foi beneficiado pela aprovação da reeleição, que lhe permitiu candidatar-se a novo mandato como governador. Proporcionalmente foi o candidato mais votado do país, batendo nas urnas o deputado Gilvan Freire, depois de ter vencido o grupo Cunha Lima em quedas-de-braço pelo controle do PMDB.
Na primeira vez em que concorreu ao Senado em 2002, Maranhão colheu os dividendos da ação administrativa de austeridade que procurou implementar no Estado com sua equipe, em paralelo com legado promissor de obras e serviços. O saldo foi tão positivo que Maranhão teve a intuição de remodelar seu slogan enquanto governador. O lema da administração passou a ser “Austeridade é Desenvolvimento”, numa sutil mensagem para mostrar ao eleitor e à sociedade em geral que as medidas de contenção adotadas no governo resultaram em realizações que impulsionariam o ciclo de progresso de um dos Estados mais pobres do Nordeste brasileiro. JM massificou com gosto a alcunha de “Mestre de Obras”, que sabia ter forte apelo popular. E isto se materializou em votos, surpreendendo apenas os menos avisados ou os adversários políticos empedernidos que torciam por seu fracasso eleitoral.
Em 2002, Maranhão enfrentou pesos-pesados da política paraibana como os ex-governadores Wilson Braga e Tarcísio Burity, o deputado federal Efraim Morais, a doutora Lígia Feliciano (que atualmente é vice-governadora, pela segunda vez consecutiva) e nomes que tentavam se viabilizar na faixa de esquerda como Simão Almeida, Hermano Nepomuceno e Bala Barbosa. Em 2014, o que há de registro é que Maranhão, num universo de sete postulantes, liderou a corrida desde a primeira pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope após o registro legal de candidaturas no Tribunal Regional Eleitoral. O ex-governador alcançou 647.271 sufrágios, enquanto o concorrente mais próximo, Lucélio Cartaxo, teve 521.938 votos, e Wilson Santiago, o terceiro, obteve 506.093. Note-se que Lucélio, apesar de neófito na disputa política, teve apoio do esquema do então governador Ricardo Coutinho (PSB) que buscava a própria reeleição, afinal assegurada, contra Cássio Cunha Lima. O candidato a governador apoiado por Maranhão, Vital do Rêgo Filho, estacionou no primeiro turno.
Diga-se, de passagem, que Maranhão, especialmente no primeiro mandato como senador, teve atuação destacada, mas não deixou de corresponder no segundo mandato que vinha exercendo quando foi fulminado pela Covid. Ainda hoje especula-se nos meios políticos se em 2022, concluído o mandato para o qual fora eleito, o líder emedebista continuaria disputando cargos majoritários – quer uma recondução ao Senado, quer a disputa, novamente, ao governo do Estado. É teorizar no abstrato, já que não há declarações assinaladas de Maranhão projetando o futuro político, como há sinais de que ele ensaiava reciclagem dentro do MDB, reconhecendo o definhamento da legenda em território paraibano. Para além de especulações, duas observações pertinentes: 1) Maranhão não deixou herdeiros políticos; 2) Maranhão foi uma revelação no cenário paraibano, com indiscutível folha de serviços prestados e arraigado porte de homem público comprometido com o interesse da sociedade, qualidade que é cada vez mais rarefeita no universo das lutas pelo poder no Estado e no país.