Nonato Guedes
Desde novembro de 2019, quando deixou o PSL após desavenças com o presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE), o presidente da República, Jair Bolsonaro, continua sem filiação a uma legenda, condição que será indispensável para ele disputar a reeleição em 2022, como pretende, segundo já tornou público. A negociação que ele vinha ensaiando com o PRTB frustrou-se depois que a dirigente nacional da sigla, Aldineia Fidelix, negou entregar o comando a Bolsonaro, segundo noticiou o jornal “O Estado de S. Paulo”. Aldineia é viúva de Levy Fidélix, que morreu no mês passado, e a conversa com o mandatário vinha sendo conduzida pelos filhos de Levy, fundador do partido, após a morte do pai.
O fator determinante para a filiação de Bolsonaro seria a disposição da legenda em dar carta branca a ele para alterar o comando de diretórios estaduais e ter peso nas decisões da Executiva Nacional, entretanto, tal condicionante não foi aceita por Aldineia. Levy Filho, secretário-geral do PRTB, que desempenha o papel de articulador político da sigla, era o mais entusiasta da ideia de filiar o presidente da República no partido, que não tem nenhum representante no Congresso Nacional e é considerado “nanico”. Ele se dispôs a dar total controle da sigla a Bolsonaro, mas uma irmã resistiu e acabou criando-se impasse familiar, o bastante para desencorajar os emissários bolsonaristas preocupados em acomodá-lo numa agremiação identificada com seus ideais e propostas. Auxiliares do capitão explicam que não faria sentido Bolsonaro ir para um partido pequeno e não ter o controle total sobre ele.
É evidente que há partidos interessados na filiação do presidente da República, pelo controle que ele exerce sobre a máquina administrativa e, também, pela continuidade da perspectiva de poder que ele oferece, como candidato à reeleição, que, segundo prognósticos de institutos especializados em opinião pública, tende a polarizar a disputa do próximo ano com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaro já demonstrou que não tem apego a partidos, o que o situa ao lado do falecido presidente Jânio Quadros e do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Ao optar pelo PSL em 2018 para respaldar a candidatura ao Planalto que acabou vitoriosa, o fez por exigência da legislação e por nutrir laços de amizade dentro da sigla. Esses laços foram quebrados após a chegada ao poder e em meio a escândalos que afetaram a credibilidade do PSL.
Bolsonaro chegou a cogitar a criação de um partido novo, denominado de “Aliança pelo Brasil” e havia expectativa sobre estruturação da legenda a tempo, ainda, de participar da disputa nas eleições municipais de 2020, principalmente em Capitais estratégicas de Estados importantes da Federação. Tal não aconteceu. O processo de organização não avançou substancialmente, houve dificuldades para testá-lo em algumas regiões e a proposta foi temporariamente arquivada. Recentemente, de passagem por João Pessoa, o Coronel Meira, presidente do PTB em Pernambuco, aventou a hipótese de que alguma legenda atual, alinhada com o presidente, venha a assumir a denominação do “Aliança”, no qual o mandatário se filiaria, então, para concorrer ao novo mandato. Mas sabe-se que foram deflagrados entendimentos com o PMB, que mudou o nome para Brasil 35, e a Democracia Cristã (DC). Bolsonaro havia dito que definiria seu destino partidário até o fim de abril; antes disso, havia dado o mês de março como prazo para sua decisão. Até agora, porém, seu destino permanece indefinido.
O principal motivo para a saída do PSL foi a briga por causa do controle do caixa da legenda. Em 2018, o PSL se tornou uma superpotência ao eleger o presidente, 54 deputados federais, quatro senadores e três governadores, na esteira do bolsonarismo, que então fazia a apologia do “mito”. Com isso, a legenda deverá ter neste ano a maior fatia dos recursos públicos destinados a partidos, de R$ 103,2 milhões. O “Estadão” ouviu de integrantes da cúpula do PSL que, para voltar à sigla, o presidente da República cobrou um “alinhamento ideológico” e a expulsão de deputados que têm feito críticas mais fortes ao seu governo, como o paraibano Julian Lemos, Júnior Bozella e Joice Hasselmann, de São Paulo, e Delegado Waldir, de Goiás. O deputado paraibano Julian Lemos foi bolsonarista de primeira hora e mereceu a confiança do capitão, a ponto de ser designado coordenador da sua campanha na Paraíba e no Nordeste. Caiu em desgraça junto ao ocupante do Planalto quando comprou brigas com filhos de Bolsonaro, que são famosos pelas encrencas que aprontam.
O “Estadão” revela que as frustradas negociações para a ida ao PRTB e também para um eventual retorno ao PSL contribuíram para o atraso na escolha do destino do presidente da República. O vice-presidente nacional do PSL, Antonio Rueda, era quem liderava o diálogo com o mandatário. Auxiliares do presidente disseram que a volta de Bolsonaro à antiga sigla está descartada. A avaliação foi a de que Rueda fez várias promessas de entregar o comando do partido ao presidente, mas recuou na hora de se comprometer e firmar um acordo sobre isso. Seja como for, a busca por um partido convergente continua no radar do presidente da República, que deverá acelerar o processo até como estratégia para atender a correligionários fiéis nos Estados que começam a se preparar para a batalha de 2022. Bolsonaro precisará de múltiplos palanques para se defender e defender ao seu governo diante da sinalização de bombardeio que vem por aí, no rastro de uma campanha que se prenuncia acirrada. Por isso, não poderá protelar uma tomada de posição, sob pena de tornar-se vulnerável, virando presa fácil para adversários sequiosos em desconstruir suas narrativas de poder.