Nonato Guedes
O Cidadania, partido do governador João Azevêdo, presidido por Ronaldo Guerra, vem procurando se fortalecer desde as eleições municipais do ano passado, quando contabilizou um bom número de prefeituras municipais, em torno de 40, fazendo sua estreia no processo político estadual sob a liderança do gestor que se elegeu em 2018 sob o pálio do Partido Socialista Brasileiro, fortemente dominado pelo ex-governador Ricardo Coutinho. A estratégia de Azevêdo é focada no fortalecimento de um novo esquema para a luta eleitoral de 2022, quando postulará a reeleição ao Palácio da Redenção, e isto implica no prestigiamento de outros partidos da base, com o reforço do MDB, que já se engajou no bloco após a investidura do senador Veneziano Vital do Rêgo, com a morte do senador José Maranhão.
Ronaldo Guerra admite que um grande chamariz para o apoio à candidatura do governador a um novo mandato são as obras que começaram a deslanchar e as ações administrativas que estão implementadas em praticamente todas as regiões do Estado. Tais investimentos chegaram a ser retardados em função da prioridade máxima de enfrentamento ao coronavírus, num primeiro momento com o foco no empenho para obtenção de recursos federais para rubrica específica, e, na sequência, com o esforço para aquisição de vacinas para a Paraíba. Dentro das limitações impostas pela conjuntura, essas medidas têm surtido resultados. A oscilação que se verifica no quadro de estabilidade da Covid-19 na Paraíba não decorre de omissão por parte do governo estadual, mas de fatores supervenientes, como a própria falta de colaboração de segmentos da sociedade quanto a recomendações para isolamento ou distanciamento social. No que diz respeito à sua parte, o Executivo local tem cumprido com a parcela de responsabilidade que lhe cabe.
Nesse sentido, faz-se mister reconhecer a boa vontade da parte do novo ministro da Saúde, o paraibano Marcelo Queiroga, em atender ao seu Estado. O ministro, é claro, não privilegia a Paraíba em detrimento de outros Estados do Nordeste ou de demais regiões do país, mas tem sido sensível aos pleitos emanados daqui, tendo sido emblemática a sua visita oficial ao Estado, comandando, a partir do Palácio da Redenção, reunião de resultados não só quanto à questão específica do combate à pandemia, mas à pauta ampliada de demandas na área da Saúde Pública. Apesar de Queiroga não ter sido indicação de grupos políticos paraibanos e não obstante o governador Azevêdo ter posição crítica e independente em relação ao governo Bolsonaro, o Planalto não tem discriminado nem retaliado a Paraíba, em qualquer setor ligado ao interesse público. Isto tem facilitado, de certo modo, o projeto do atual chefe do Executivo local.
O Estado tem conseguido avançar, por exemplo, no desafio do equilíbrio financeiro, que se tornou tanto mais ingente em virtude do agravamento da crise econômica, ocasionada por eventuais perdas de receita no bojo de medidas restritivas que se tornaram imperiosas dentro da estratégia de prevenção ou contenção do alastramento da pandemia. O agravamento do desemprego tem sido corolário natural da conjuntura atípica, refletido no fechamento ou redução de postos de trabalho e na marginalização de segmentos que estavam, de forma gradativa, vislumbrando perspectivas de reinserção no processo de desenvolvimento paraibano, mas tiveram que refrear expectativas e encarar uma dura realidade que se estende por demais unidades da Federação. O governo administra o “Novo Normal” sem dispor de uma bússola concreta, segura, justamente em virtude das alterações conjunturais e estruturais que alcançam toda a sociedade.
João Azevêdo teve a intuição de concluir que além de gestor da pandemia teria que se desdobrar, mais do que governadores antecessores, na meta de manter o Estado da Paraíba sob os trilhos, mantendo-se atento a oscilações comprometedoras do projeto defendido em praça pública sob o signo da continuidade de mudanças. Até aqui tem sobressaído dentro do êxito possível nas condições de temperatura e pressão, contornando obstáculos que não param de surgir em meio a demandas represadas ou a realizações que estavam em pleno andamento e que tiveram que ser interrompidas pela excepcionalidade da pandemia que afetou a tudo. Não há obsessão quanto à grandiosidade de metas, mas, sim, preocupação com a obtenção de resultados que contribuam para manter a economia sob controle e evitar que desande o processo de crescimento experimentado nos últimos anos. De sua parte esperará reconhecimento de setores da opinião pública à metodologia que teve que imprimir para fazer face às excepcionalidades latentes.
Em termos político-eleitorais, o chefe do Executivo não deflagrou o processo que abarcará o contexto da sua própria campanha à reeleição, mas não perde de vista a estratégia de articulação das forças políticas que lhe apoiam nem ignora pretensões que começam a ser testadas ou mesmo postas para composição da chapa que irá ao embate das urnas. O governador tem consciência de que somente com uma base forte poderá enfrentar adversários que ainda não assumiram ostensivamente esse figurino mas que se movimentam nos bastidores com ambições inconfessáveis. Sabe que o esquema político de apoio se estende por outros partidos políticos e por agrupamentos sociais que tendem a convergir para o leito da candidatura oficial. Por isso é que estimula o crescimento do “Cidadania” sem intenções monopolistas, mas respeitando o espaço legítimo que as outras agremiações aliadas querem preservar ou conquistar. Da mesma forma, se não incentiva abertamente pretensões, também não as olvida, inclusive por reconhecer que tudo faz parte do jogo político para o futuro à vista. Em suma: quer estar preparado, não só para o discurso ao eleitorado, mas para travar o combate democrático com forças que antagonizarem o seu esquema político na corrida eleitoral de 2022.