Nonato Guedes, com agências
Tido como o depoimento mais aguardado no âmbito da CPI da Covid no Senado Federal, a fala do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, na sessão de ontem, foi interrompida pouco depois das 16h sob justificativa do início da ordem do dia no Plenário da Casa, que contava com itens que deveriam se estender até o começo da noite. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) indicou que o depoimento será retomado nesta quinta-feira. Versões que circularam em Brasília sinalizam que a causa do adiamento teria sido outra: o general passou mal, sendo acometido de uma síndrome de vasovagal, que causa desconfortos abdominais.
Conforme o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-ministro foi atendido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, e iria voltar à sessão quando ela acabou adiada pela presidência. Embora o militar tenha negado que passou mal, Otto Alencar afirmou à CNN Brasil que, ao chegar na sala do cafezinho, Pazuello estava muito pálido. Explicou que a síndrome, causada por emoções muito fortes ou por longos tempos em pé, causa perdas sanguíneas no tórax e no cérebro. Após uma série de alongamentos, o ex-ministro teria voltado a ficar corado. “Ele passou muito tempo depondo, falando, e ficou muito tempo em pé, emocionado”, relatou Otto Alencar. O general, que chegou à CPI blindado por um habeas corpus que lhe permitiu silenciar sobre atos relativos às suas ações diante da pasta, foi alvo de intenso bombardeio, sobretudo por parte de senadores de oposição.
Na opinião de alguns parlamentares, o general respondeu às perguntas de maneira considerada prolixa e tortuosa. Renan Calheiros, em entrevista coletiva, foi enfático: “A grande dificuldade é que ele elaborou uma estratégia para não responder exatamente, dissimular e delongar as respostas, se omitir e mentir”. Acrescentou: “Foi uma opção que fez o ex-ministro e dessa forma está colaborando muito pouco com a investigação. Ele é a principal testemunha mas resolveu mentir”. O senador alagoano chegou a sugerir a contratação de agências de checagem para rebater eventuais mentiras faladas pelos depoentes, porém não explicou como isso poderia ser feito. O site “Congresso em Foco” revelou que, contrariando a fala de outros depoentes que disseram à CPI que o presidente Bolsonaro intervinha nas ações de combate à pandemia de covid-19, Pazuello afirmou que nunca foi chamado para ser orientado pelo presidente. Entretanto, em uma live com Jair Bolsonaro, quando o ex-ministro foi diagnosticado com a doença, Pazuello disse que “um manda, o outro obedece”, referindo-se a ordens do presidente sob a condução da pandemia.
Pazuello disse que gostaria de ter se encontrado mais com o presidente Bolsonaro e seus filhos para a tomada de decisões no Ministério da Saúde. Ao ser citado, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) interrompeu a fala do ex-ministro: “vamos continuar conversando, Pazuello”. Presidente da comissão, Aziz chamou a atenção do filho do presidente. “Eu não estou entendendo onde esse relator quer chegar”, disse Flávio Bolsonaro sobre Renan Calheiros (MDB-AL). O ex-ministro declarou ao colegiado que o Ministério da Saúde não seguiu as recomendações da OMS porque a pasta tinha “autonomia” para isso. De acordo com Pazuello, a recomendação do uso de cloroquina pelo Ministério da Saúde permaneceu porque “vários países” também faziam uso do remédio. “Mais de 20 países com protocolo para usar o medicamento contra o coronavírus, como China, Cuba e Venezuela”, citou. O ex-ministro disse não saber de quem partiu a ordem para a produção do remédio no Exército. Ele também disse que não foi consultado.
Um outro ponto polêmico do depoimento do ex-ministro foi sobre a crise de oxigênio em Manaus, responsável pela ocorrência de óbitos e outros casos graves. Questionado sobre as ações para conter a crise, Pazuello disse que desde quando foi informado, no dia 10 de janeiro deste ano, as medidas possíveis foram executadas e que “se nós tivéssemos sabido antes, podíamos ter agido antes”. Frisou que o pico de mortes no Estado foi entre os dias 15 e 20 de janeiro, mas foi desmentido pelo senador do Estado do Amazonas, Eduardo Braga (MDB). O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) disse que o governador do Amazonas recebeu mais de 2 milhões em emendas para tratar da saúde no Estado. Foi desmentido pelos senadores do Amazonas, inclusive pelo presidente da Comissão. “Deixa de ser mentiroso!”, disse Omar Aziz. A sessão precisou ser interrompida.