Nonato Guedes
O Partido Progressistas movimenta-se para conquistar mais espaços de poder no quadro político paraibano, depois de ter sido bafejado em 2018 com a eleição de Daniella Ribeiro ao Senado – um feito histórico na conjuntura local – e de ter respaldado a vitória de Cícero Lucena à prefeitura de João Pessoa no ano passado, extraída num segundo turno que foi travado contra Nilvan Ferreira, candidato lançado pelo MDB e que se constituiu fenômeno naquele pleito, como decorrência do figurino aparente de “outsider” que vestiu na campanha. O projeto de expansão do PP foi reforçado com êxitos em outras disputas de prefeituras pelo interior do Estado, sendo que em Campina Grande o filho da senadora, Lucas Ribeiro, foi eleito vice-prefeito na chapa liderada por Bruno Cunha Lima (PSD), consagrada em primeiro turno.
Além de ser, majoritariamente, um agrupamento familiar, presidido por Enivaldo Ribeiro, pai de Daniella e ex-deputado, que foi vice-prefeito de Campina Grande na gestão passada de Romero Rodrigues, o PP na Paraíba é uma legenda que investe em alianças pontuais, abrindo-se, portanto, a composições com agremiações minimamente afinadas e que oferecem perspectiva de poder. Bruno Cunha Lima faz parte de um grupo respeitável que tem como estrela maior o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e que faz oposição cerrada ao governo de João Azevêdo (Cidadania). Cícero foi eleito pelo PP na Capital com o apoio ostensivo do governador João Azevêdo. A possibilidade de Daniella concorrer ao governo do Estado é sempre cogitada e em pelo menos uma vez foi admitida por ela. Em termos concretos, o PP divide-se entre essa opção ou a aposta numa candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro ao Senado no pleito vindouro.
Cícero Lucena já anunciou apoio à candidatura do governador João Azevêdo à reeleição, interpretando a decisão como fato natural, consequência ou retribuição pelo apoio que dele recebeu no duro embate para voltar pela terceira vez ao comando da prefeitura da Capital paraibana. Esse gesto de Cícero é compreendido não só pelo PP mas por hostes políticas em geral na Paraíba e até louvado por indicar sinal de reciprocidade, mandamento que nem sempre é cumprido na cronologia das disputas eleitorais na Paraíba ou no país. Mas, pelo que deu a entender nas últimas horas, Cícero está incumbido de uma missão: tentar facilitar compromissos importantes de apoio a uma candidatura de Aguinaldo Ribeiro a senador. O apoio do governador João Azevêdo, aparentemente, não seria desprezado nesse contexto.
A dificuldade para concretizar-se uma “aliança perfeita”, nos moldes do que se vem ensaiando em bastidores, está na abrangência do esquema de apoio a João Azevêdo, que é reforçado por outras agremiações também com interesses em pauta, a exemplo do Democratas do ex-senador Efraim Morais. O deputado federal Efraim Filho vem costurando, por conta própria, uma rede de adesões de lideranças municipalistas e outras de maior expressão ao seu projeto de candidatar-se ao Senado na única vaga que estará em jogo em outubro de 2022. Efraim, além de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de diferentes regiões, conseguiu o compromisso de apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo, que passou a comandar o MDB com a morte de José Maranhão, da mesma forma como tem sensibilizado deputados federais de outros partidos, interessados no espólio que pode deixar para vagas à Câmara. O tempo demarcará se a candidatura de Aguinaldo é mero balão de ensaio ou se é um projeto concreto. Em relação a Efraim Filho, não parece haver dúvidas de que ele vai encarar o confronto, seja com quem for.
Há quem diga que o surgimento de pretensões ao Senado, como as do deputado Efraim Filho e as do deputado Aguinaldo Ribeiro, decorre do vazio de lideranças que se descortina para as eleições majoritárias de 2022. A senadora Nilda Gondim, que conclui o mandato de José Maranhão, já deixou claro que não concorrerá a mandatos eletivos no próximo ano. O ex-governador Cássio Cunha Lima chegou a garantir que estará fora de qualquer embate no próximo ano como protagonista, embora ultimamente seu nome tenha voltado a circular com força, inclusive dentro do PSDB, onde o seu filho, deputado federal Pedro Cunha Lima, lançou pré-candidatura ao Palácio da Redenção. Por fim, o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que no ano passado foi derrotado para prefeito de João Pessoa e ainda se mantém às voltas com problemas judiciais, não é mencionado como líder influente para o pleito vindouro.
Nesse contexto, lideranças em ascensão projetam-se naturalmente para concorrer a cargos majoritários em 2022, sendo estes os casos dos deputados Aguinaldo Ribeiro e Efraim Filho ao Senado, da senadora Daniella Ribeiro ou do prefeito Cícero Lucena (mais remotamente) ao governo, e do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, que, ao que tudo indica, se encaminha para ocupar uma vaga de candidato a vice-governador, de preferência na chapa encabeçada por João Azevêdo, a quem hipoteca apoio. O PP, que se sente representado nas prefeituras das duas maiores cidades do Estado, avaliará ao máximo a conveniência de lançar Daniella ao governo sem perder de vista a perspectiva de compor apoios para uma candidatura de Aguinaldo ao Senado. Talvez por pressentir o jorro de ambições dentro de partidos políticos com quem pode se coligar é que o governador Azevêdo protela sinalizações ou preferências para alianças na campanha de 2022. Mas os próprios partidos da base do governador cuidarão de precipitar os acontecimentos, fixando bases para composições que, no frigir dos ovos, podem vir a se revelar irresistíveis na corrida às urnas no próximo ano.