O primeiro encontro realizado entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em quatro anos repercutiu nos meios políticos como uma “bomba”, desagradou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e causou alvoroço nas hostes tucanas por causa de uma declaração de FHC de que deverá votar no petista no segundo turno nas eleições do próximo ano se o seu partido não estiver no páreo na corrida presidencial. A reunião, segundo vazou, ocorreu na semana passada na casa do ex-ministro Nelson Jobim. Coube a Lula publicar em sua página oficial na internet uma foto cumprimentando Fernando Henrique.
Lula assumiu nos últimos dias que será candidato a presidente da República novamente pelo Partido dos Trabalhadores, enquanto no PSDB lutam pela indicação os governadores de São Paulo, João Dória, do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati. Os dois ex-presidentes não se encontravam pessoalmente desde 2017, quando FHC visitou Lula no hospital, na ocasião em que o petista tinha acabado de perder a esposa, dona Marisa Letícia. Ela morreu após sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico, provocado pelo rompimento de um aneurisma. A foto do novo encontro foi postada nesta sexta-feira, 21, nas redes sociais de Lula que disse ter tido “uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia, e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia do coronavírus” com o tucano.
Os dois ex-presidentes foram adversários políticos em duas eleições presidenciais – 1994 e 1998, vencidas por FHC. Nas eleições seguintes, Lula derrotou os dois candidatos do PSDB, José Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006), tendo sido igualmente reeleito presidente da República. Ao contrário da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), que elogiou o encontro, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, criticou a reunião usando uma justificativa eleitoral. “Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB. Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos. De toda forma, precisamos evitar sinais trocados a nossos eleitores.
O partido segue firme na construção de uma candidatura diante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira”, afirmou o tucano, em nota. Em contrapartida, Gleisi Hoffmann havia celebrado a reunião entre os dois ex-presidentes. Ela usou as redes sociais para dizer que o encontro mostra que “o Brasil quer voltar a debater o futuro pela política”. Em entrevista a Pedro Bial, na Rede Globo, FHC afirmou que votará em Lula em 2022 para derrotar Jair Bolsonaro. Lula retribuiu e disse que faria o mesmo. “Fico feliz que ele tenha dito que votaria em mim. Eu faria o mesmo se fosse o contrário. Ele (FHC) é um intelectual e sabe que não dá para inventar uma candidatura”, escreveu Lula em suas redes sociais.