Nonato Guedes, com agências
O ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, mesmo diante de alertas que foram feitos, afirmou que não trabalha com a hipótese de uma terceira onda de contaminação por Covid-19 no Brasil. No Estado natal do ministro, autoridades da Saúde Pública demonstram preocupação com o aumento da ocupação de leitos de UTI para Covid e de enfermaria, tanto em João Pessoa, a Capital, como em municípios do Alto Sertão, como Cajazeiras e Sousa, e na macrorregião de Campina Grande. Marcelo Queiroga, não obstante, enfatizou: “Sempre se questiona sobre uma terceira onda. Estamos numa pandemia, já tivemos a primeira onda, estamos reduzindo os óbitos nesta segunda onda, e todos temos que estar vigilantes a uma possível terceira onda, mas não estamos vislumbrando isso neste momento”.
Para ele, “a maneira adequada de ser evitada a terceira onda é avançar na campanha de vacinação, e é isso que estamos fazendo”. Em São Paulo, médicos e técnicos já temem a terceira onda e acreditam que ela pode ser ainda mais virulenta e agressiva do que as anteriores. Os especialistas chamam a atenção para o patamar muito maior de casos positivos do vírus, acompanhado de uma maior flexibilização de medidas restritivas no Estado. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, alertou o ministro sobre a possibilidade do rebrote. Lula é secretário de Saúde do Maranhão. “A gente já parte de um patamar muito alto”, disse, à “Folha de S. Paulo”. Técnicos do ministério também já teriam manifestado preocupação em documentos internos.
Enquanto isso, senadores que apoiam o presidente Jair Bolsonaro e integram a CPI da Covid no Senado, enviaram uma série de ofícios a Estados e municípios cobrando informações que extrapolam o teor previsto da investigação, que deve se limitar, no caso desses entes, às verbas federais enviadas. Os pedidos incluem dados que vão desde protocolos de uso de remédios a folhas de pagamentos. Também há solicitação de informações sobre apurações das polícias e procuradorias dos Estados, acerca de leitos de hospitais e até de eventuais pagamentos a pessoas que foram candidatas em 2020. Até quinta-feira, foram encaminhados pela CPI 1.120 ofícios com pedidos a pessoas, órgãos de governos, entidades e empresas privadas. Desses, 284 eram endereçados a prefeituras, 162 a Estados, 188 a secretarias estaduais de Saúde e 130 a pastas municipais.
Governadores reagiram ao teor dos ofícios e pediram esclarecimentos à CPI instalada no Senado. Para a oposição, os documentos têm o objetivo político de dificultar a apuração com pedidos excessivos e fora do escopo da investigação. A CPI da Covid, criada após determinação do Supremo Tribunal Federal, tem como missão apurar, no prazo de 90 dias, “as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil e em especial no agravamento da crise sanitária no Amazonas, com a ausência de oxigênio para os pacientes internados”. Ainda segundo a descrição do objetivo, a CPI tem investigação “limitada apenas quanto à fiscalização dos recursos da União repassados aos demais entes federados para as ações de prevenção e combate à pandemia da covid-19, e excluindo as matérias de competência constitucional atribuídas aos Estados, Distrito Federal e aos municípios”. O campeão em pedidos a Estados e municípios é o senador Eduardo Girão, do Podemos-CE, que fez uma extensa lista nos ofícios encaminhados a prefeituras e governos estaduais.
No Ceará, onde faz oposição ao governador Camilo Santana (PT), Girão fez um pedido à parte: solicitou informações sobre uma requisição administrativa do governo do Estado de medicamentos e produtos médico-hospitalares em abril de 2020, disponíveis em estoque. “Relevantes são os esclarecimentos acerca do direcionamento dos itens retidos pelo governo do Ceará, mais especificamente quanto aos fármacos: hidroxicloroquina, cloroquina e azitromicina”, diz o ofício. Girão disse que o objetivo dos pedidos é constatar se as dezenas de bilhões de reais enviadas pelo governo federal para Estados e municípios brasileiros foram realmente aplicadas no enfrentamento à covid ou tiveram outro fim como o de coibir rombos nas contas públicas desses entes federativos e utilizados em outras áreas fora a Saúde”.