Nonato Guedes
Apesar de ser o governador de São Paulo e também ser conhecido como “o governador da vacina CoronaVac”, por ter feito contraponto ao presidente Jair Bolsonaro na guerra por imunizantes em momento crítico da pandemia, João Doria tem forte rejeição dentro e fora do PSDB como alternativa para a corrida presidencial do próximo ano. Uma recente reportagem da revista “Veja” apurou que numerosa parcela do tucanato e, sobretudo do Norte e Nordeste, anda ávida por viabilizar um nome que não seja o do gestor paulista. Além da antipatia pessoal que Doria provoca em parte dos correligionários, seu desempenho tem estimulado os pragmáticos a especular outras opções do centro, entre as quais o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati.
No levantamento feito pela Paraná Pesquisas, este mês, Doria figurou em sexto lugar nas intenções de voto com tímidos 3,6%. Por outro lado, levantamento do Datafolha confirmou o favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) para chegar ao segundo turno e as dificuldades do chamado centro democrático – nenhum candidato desse espectro atinge dois dígitos das intenções de voto e Doria também aparece em sexto. Embora alguns analistas tenham chamado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de “oportunista” e até mesmo de “quinta-coluna” por ter se reunido com Lula e apregoado seu voto no petista num segundo turno contra Bolsonaro, os fatos sinalizam que a postura de FHC é realista e pragmática. “Eu respeito quem tem voto”, desabafou Fernando Henrique quando questionado sobre seus pontos de vista.
Até então, na esfera do PSDB, as preferências por uma candidatura tucana ao Planalto dividiam-se entre o governador de São Paulo e o jovem governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Ultimamente, eclodiram sinais de que Leite está recebendo acenos do “Podemos” e pode desembarcar do ninho tucano a qualquer momento. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo (PE) não esconde que tem resistências a Doria por ele ter tentado tomar o comando da legenda no início deste ano sem sucesso. Araújo passou a se mexer efetivamente em direção a uma chapa encabeçada por Jereissati, que já foi o preferido de Fernando Henrique Cardoso mas, por enquanto, não é encarado como um nome competitivo. O próprio Jereissati afirmou: “Sei que seria um bom presidente, mas, antes, preciso saber se sou um bom candidato”. Ele está concluindo o segundo mandato como senador e foi governador do Ceará por três vezes.
Com a morte do prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas, acometido de complicações do câncer, o PSDB descobriu que sofreu um grande desfalque para a disputa presidencial. Neto do ex-governador e ex-presidenciável Mário Covas, Bruno foi um político que se destacou pela moderação, sem perder a altivez, como ocorreu em momentos inevitáveis de confronto com o presidente Jair Bolsonaro por causa da estratégia de enfrentamento ao coronavírus e dos inúmeros erros cometidos pelo governo federal na condução de soluções para a crise sanitária. “Bruno representava uma esperança”, diagnosticou o ex-governador e ex-senador pela Paraíba Cássio Cunha Lima. Fora Bruno, Doria e Eduardo Leite, corria por fora dentro do PSDB o nome do ex-senador e ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que, no entanto, era tido como “azarão”. Com a perspectiva de que o PSDB tenha, mesmo, candidato a presidente no primeiro turno, as atenções voltam-se para Tasso Jereissati, que é pouco conhecido em regiões influentes do Brasil.
Diz-se que a estratégia de Jereissati consiste em tentar vencer de fora para dentro do PSDB – ele pretende conquistar apoios para além do seu partido e chegar às prévias da legenda como um nome capaz de atrair lideranças de diferentes correntes em torno de seu projeto eleitoral e, com isso, começar a aparecer bem nas pesquisas. Nas hostes tucanas, há quem aposte que a rejeição a João Doria se manifestará em números na disputa interna dentro do partido, não obstante o chefe do executivo controle aparentemente o maior número de votos no diretório nacional do PSDB. Esse controle deverá ser revertido com as defecções que são previstas em termos da candidatura de João Doria. As anunciadas prévias já começam em clima de discórdia. Doria defende a tese de que o voto de cada filiado tenha a mesma relevância – São Paulo contém a maior parte deles. Eduardo Leite, por sua vez, sugeriu que tucanos com cargos e postos no PSDB tenham mais peso na eleição.
Como é praxe no jogo político, foi criada uma comissão interna para definir o formato da disputa, que está marcada inicialmente para outubro. O governador paulista jura de mãos postas que continuará na legenda mesmo se for derrotado, apoiando automaticamente o vencedor, mas como nota a “Veja”, dentro do partido há o temor de que ele quebre a promessa, pulando fora da legenda para não abrir mão da sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022. Para analistas bem informados, tanto faz se Doria será candidato a presidente da República pelo PSDB ou por outro partido, do mesmo modo como a opção Tasso Jereissati não deverá empolgar o eleitorado a ponto de arrastá-lo para um segundo turno. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso parece ter visto mais longe ao promover um encontro com Luiz Inácio Lula da Silva e prometer-lhe apoio num segundo turno. A polarização entre Lula e Bolsonaro parece inevitável, conforme todas as projeções que são ensaiadas para a conjuntura eleitoral de 2022.