Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), não faz parte da lista de dez gestores, acrescida de sete prefeitos, cuja convocação para prestar esclarecimentos na CPI da Covid no Senado Federal será votada hoje, conforme revelou o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Omar Aziz (PSD-AM). Na verdade, os administradores que estão na mira já foram alvos de operações da Polícia Federal para investigar desvios de recursos federais no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Aziz explicou que a convocação será feita para acabar com o “falso” discurso dos aliados do presidente Jair Bolsonaro de que a comissão só quer investigar o governo federal e não eventuais desvios de verbas federais pelos Estados.
O fato de o governador da Paraíba não estar na lista de convocados nem de investigados, até aqui, é um bom sinal, principalmente quando se sabe que campeia pelo país a “indústria” do denuncismo quanto à falta de transparência ou até mesmo a atos de corrupção que estão sendo flagrantemente cometidos por agentes públicos na dificílima fase de combate ao novo coronavírus. É um fato tanto mais relevante quando se sabe que no passado recente instaurou-se no Estado a Operação Calvário, que comprovou desvios de recursos da Saúde Pública na gestão do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). As investigações a respeito atingiram secretários remanescentes do governo de Coutinho que haviam sido mantidos por Azevêdo, como parte da aliança política firmada entre os dois e que vigorou plenamente na campanha de 2018, quando JA venceu o pleito no primeiro turno.
Confrontado com a escalada de acusações e a forte repercussão alcançada junto à opinião pública nacional, o governador João Azevêdo, diga-se a verdade, não foi omisso. Afastou secretários envolvidos e empreendeu ações de colaboração com o Ministério Público, a Polícia Federal e diversos outros organismos de fiscalização e controle da aplicação de recursos públicos. Até onde se sabe, o governador não interferiu nos processos que vieram a lume como decorrência natural das denúncias constantes de delações premiadas ou de confissões espontâneas de ex-auxiliares da administração pública paraibana. Os desvios de recursos, como ficou patenteado no curso de apurações que ainda agora se desenrolam, acarretaram prejuízos incalculáveis não apenas aos cofres públicos do Estado, mas se refletiram incidentalmente no sucateamento estarrecedor do sistema público de Saúde.
O governo João Azevêdo enfrentou dificuldades gigantescas para fazer frente à calamidade do novo coronavírus, diante do esfacelamento da rede hospitalar, com carência de leitos de UTI e de enfermaria, hospitais e postos de saúde abandonados e desequipados para atender à demanda de casos de contaminação pela doença em diferentes regiões do território paraibano. O quadro só tem se agravado, com a eclosão de novas ondas de infecção por Covid, e a administração João Azevêdo tem estado a braços não só com a luta por adoção de medidas preventivas mas com a guerra da tomada de providências emergenciais para socorrer contingentes de vítimas do vírus que se espalha em fases alternadas em todo o país. A crise sanitária, vale recordar, veio juntamente com a crise econômica e social, com o desemprego alarmante e com a proliferação de casos dantescos de fome, miséria e situação inumana junto às camadas marginalizadas da sociedade.
É ingente, portanto, o esforço que tem sido desenvolvido pelo Poder Público – tanto mais crucial quando são comparadas as dificuldades estruturais inerentes a Estados do Nordeste, vítimas de modelos econômicos injustos e concentradores, com reflexos inevitáveis no processo de distribuição da renda e na sistemática de acesso a melhores condições de vida. Todo esse corolário, por um lado, tem sido desafiador para a administração de João Azevêdo, e, em outra frente, pode ser tentador para a prática de atos de corrupção, mercê dos recursos vultosos liberados para a emergência, de fontes variadas – não apenas do governo federal – e das transações para aquisição de equipamentos e de vacinas que possam servir como antídoto contra a inquietante estatística de óbitos e de casos de contaminação. É claro que há problemas logísticos, na Paraíba, para o pleno atendimento à população, mas a fiscalização ativa da sociedade e a consciência demonstrada pelo governo constituem esforços proativos para debelar o avanço da tragédia.
A ascensão, ao ministério da Saúde, do cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, tem sido importante para o nosso Estado, pelo conhecimento que ele possui da realidade local e pelo sentimento de paraibanidade que tem feito vigorar, sem que isto implique em favorecimento indevido com discriminação ou penalização de outras unidades da Federação. Se mantiver o ritmo e a postura que vem adotando, o governador João Azevêdo crescerá no conceito da população paraibana. E o Estado, que desde o início da pandemia experimenta mais estágios de estabilidade do que de insegurança ou de ameaça, poderá vencer a guerra contra a doença minimizando a extensão dos danos que uma pandemia pode causar, como já vem causando em todas as partes do mundo.