Nonato Guedes
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que está concluindo demarches para filiar, na Paraíba, o comunicador Nilvan Ferreira, do Sistema Correio de Comunicação, ex-candidato a prefeito de João Pessoa, e líderes com mandato em Campina Grande, como o prefeito Bruno Cunha Lima, atualmente no PSD, se assume como um partido de direita, conservador e extremamente afinado com as ideias defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, que ficou célebre como o delator do “mensalão” petista, do qual o PTB também foi beneficiário, e que teve cassado o seu mandato, é um dos “escalados” por Bolsonaro para compor sua tropa de choque na campanha pela reeleição no próximo ano, tendo como alvo principal o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Jefferson integrará a zaga do ataque bolsonarista juntamente com o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (MDB-RJ), que recentemente ganhou liberdade após cumprir pena de prisão por envolvimento em escândalos de corrupção, e com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, atual senador por Alagoas, que sofreu impeachment em 1992 sob acusação de envolvimento com o esquema PC Farias. Recentemente, para demonstrar fidelidade canina ao presidente Bolsonaro, Jefferson destituiu deputados que eram dirigentes estaduais do PTB e que, na Câmara, votaram contra projetos de interesse do Planalto, a exemplo do paraibano Wilson Santiago. Com a destituição de Santiago, que se disse vítima de “ação extremista”, ficou aberto o caminho para o ingresso de militantes e simpatizantes da direita. Nilvan Ferreira, um desses expoentes, concorreu à prefeitura da Capital paraibana pelo MDB e logrou disputar o segundo turno no ano passado contra o eleito, Cícero Lucena, do PP.
Nas próximas horas serão esclarecidas as decisões sobre como ficará o comando do PTB no Estado e quais, realmente, os líderes que vão ingressar na legenda, além de Nilvan Ferreira. O comunicador não esconde que ficou motivado para persistir na atividade política depois da performance alcançada nas eleições em João Pessoa. Ele faz oposição declarada, agora em redes sociais, ao governador João Azevêdo, do Cidadania, e ao prefeito Cícero Lucena. Nilvan é listado na categoria dos “terrivelmente bolsonaristas”, como são chamados os discípulos xiitas do presidente da República. Impressionou fortemente o Coronel Meira, presidente do diretório estadual do PTB em Pernambuco, que veio a João Pessoa há poucos dias para recompor a legenda no bojo do afastamento do “clã” Santiago. Nilvan ficou desconfortável no MDB quando este passou ao controle do senador Veneziano Vital do Rêgo, que já anunciou apoio à candidatura do governador João Azevêdo à reeleição. Não há definição, ainda, sobre o mandato que o comunicador disputará, mas ele está disponível para qualquer missão.
Por sua vez, o prefeito Bruno Cunha Lima passou a se aproximar do PTB também por desconforto dentro do PSD, pelo qual foi eleito prefeito em primeiro turno nas eleições do ano passado em Campina Grande, derrotando a secretária Ana Cláudia Vital do Rêgo, esposa de Veneziano, que concorreu pelo Podemos. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, tem estreitado conversas com o ex-presidente Lula, candidato ao Planalto em 2022. Bruno compõe o grupo liderado pelo ex-prefeito Romero Rodrigues, presidente estadual do PSD, que é bolsonarista xiita, e que pretende disputar o governo do Estado em dobradinha com o capitão-presidente. A filiação de Bruno seria uma preparação para o ingresso de Romero e de outras figuras ligadas ao “clã” campinense. O ex-prefeito Romero enfrenta pendência no âmbito da “Operação Calvário” e tenta comprovar sua inocência na Justiça a tempo de figurar no páreo do próximo ano.
Entre bolsonaristas ortodoxos na Paraíba anuncia-se a perspectiva de ressurgimento do Partido Trabalhista Brasileiro no Estado, mediante a leitura de que a agremiação tem atuado burocraticamente ao longo dos anos. O imobilismo verificado no crescimento do PTB da Paraíba colide com a ofensiva desencadeada a nível nacional por Roberto Jefferson para uma massiva campanha de filiações e de atração de quadros que possam fortalecer o trabalhismo em consonância com as bandeiras da direita ressurgente no Brasil. O site nacional do PTB informa, a propósito: “Com as eleições do ano passado, grandes campanhas e tonificação dos posicionamentos do partido, estamos deixando a nossa marca na direita do país. O nosso presidente nacional, Roberto Jefferson, continua na ativa para que nossas pautas ganhem ainda mais voz e que reflita a vontade do povo. Estamos no caminho para ser o maior partido conservador do Brasil”.
E mais: “O PTB ficou firme e forte em suas lutas no último ano. Os direitos e deveres do cidadão são nossa prioridade e não deixamos nossos ideais desfocarem. Com força, crescemos!”. A campanha de filiações ao PTB, que tem o número 14 registrado no Tribunal Superior Eleitoral, faz apelos invocando o lema: “Novos tempos, novas ideias e a mesma coragem”. Roberto Jefferson, em postagem há quatro dias no site, criticou declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) admitindo votar em Lula no segundo turno em 2022 contra Bolsonaro. “Não me surpreendo com FHC e Lula juntos, já que PT e PSDB sempre combinaram o jogo em São Paulo. FHC consegue ser pior do que Lula”. É um posicionamento que o comunicador Nilvan Ferreira assume com mais desenvoltura do que Romero Rodrigues nas manifestações públicas, restando saber se isto vai pesar para definir quem controlará a legenda no Estado.