Nonato Guedes
Filiado ao Cidadania, que não sinalizou, ainda, posição para a disputa presidencial do próximo ano, o governador da Paraíba, João Azevêdo, deixou claro, ontem, numa entrevista à rádio Arapuan FM, que em hipótese alguma votará na candidatura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à reeleição, no próximo ano. Pontuou que tentará administrar divergências partidas de aliados seus, distribuídos por diferentes legendas, que têm preferência por Bolsonaro e com ele até se afinam ideologicamente. Este é o caso do deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que já se lançou candidato a senador dentro do esquema do chefe do Executivo paraibano, mas que possui incompatibilidades notórias com o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com forças de esquerda. O pai do deputado, ex-senador Efraim Morais, ocupa uma secretaria na gestão Azevêdo e é o presidente do diretório regional do DEM.
Em certa medida, a postura que João Azevêdo tenta manter é a de coerência com a sua biografia política inicial, cujo marco foi a eleição de 2018, quando pulou direto da escala técnica para a disputa do mandato executivo estadual e logrou consagrar-se nas urnas. Naquela época, João era filiado ao PSB e tinha como líder político o ex-governador Ricardo Coutinho, que teve, sem dúvida, papel decisivo no resultado do pleito, catapultando um neófito em política à suprema magistratura do Estado. As coisas mudaram de lá para cá e pode-se dizer que o governador enfrentou uma guinada radical na sua carreira. O ex Ricardo Coutinho rompeu por não ter assegurados os espaços de influência que cogitava ter no governo do sucessor, cumprindo uma sina que é a da briga entre aliados. Ricardo talvez tenha apostado que a “criatura” teria extremas dificuldades para sobreviver sem a sua interferência, mas foi surpreendido pela agilidade e habilidade do sucessor, que favorecido pelo tropismo do poder se fortaleceu com a atração de numeroso grupo e ainda obteve legenda que lhe desse respaldo para o voo da reeleição em 2022.
Mas Azevêdo não é nenhum milagroso que evite o choque dos contrários na sua base de sustentação. Caberá a ele, portanto, se pretender levar à frente um projeto de alinhamento com a esquerda, romper com grupos de direita que o apoiam e participam da sua gestão – ou tentar uma conciliação de divergências que é encarada como grande desafio por analistas políticos em geral. O presidente Jair Bolsonaro não tem discriminado a Paraíba no contexto ampliado mas não tem sequer relação institucional mais efetiva com o atual ocupante do Palácio da Redenção, chegando a privilegiar adversários dele em viagens oficiais, como já fez com o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que tenta se viabilizar no papel de candidato ao governo paraibano. A Paraíba tem um ministro numa Pasta importante, que é o cardiologista Marcelo Queiroga na Saúde, em plena pandemia do coronavírus e em meio à campanha de vacinação deflagrada no país. Mas Queiroga não foi indicação política de representantes do nosso Estado – foi ungido na “cozinha” de Bolsonaro, pelas suas qualidades e competência.
A leitura que pode ser extraída das declarações do governador, nas últimas horas, pode ser resumida assim: partidariamente, ele aguarda uma definição do Cidadania sobre candidatura própria à presidência da República. Se esse lançamento se materializar, ele estará, com certeza, no palanque do Cidadania, no primeiro turno. Num segundo turno, na hipótese de se enfrentarem o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como indicam projeções de agora dos institutos especializados, João Azevêdo declarará apoio ao petista, repetindo o voto de 2018, que foi dado a Fernando Haddad, substituto de Lula, então impedido. “Eu tenho uma certeza: não votarei na extrema-direita. Se no segundo turno o candidato do cidadania não estiver e Lula estiver, votarei em Lula”. O posicionamento de Azevêdo é, naturalmente, polêmico – os seus aliados de partidos de direita não compartilham da mesma opinião. Isto demandará um tremendo esforço de equilibrismo por parte do chefe do Executivo para não perder apoios nem substância na campanha do próximo ano.
Pessoalmente, o governador João Azevêdo mantém uma média de aprovação popular que lhe dá gás para a campanha à reeleição no próximo ano. Mas ele não pode se deixar levar por triunfalismos com tanta antecedência. Não é demais imaginar, inclusive, que o relativo otimismo demonstrado pelo gestor quanto às suas chances decorre não só da impressão que tem de que suas ações administrativas repercutem e surtem resultado junto à população, mas, também, da constatação de que as oposições e os adversários estão em ritmo de confusão quanto a nomes e alianças para enfrentar o rolo compressor oficial. Mas é perigoso subestimar a oposição porque, mesmo desarticulada, ela pode encontrar saídas, no desespero, para neutralizar o poderio do governador e infligir um revés inesperado nos cálculos políticos que são feitos levando em conta a realidade de hoje.
Ou seja: o governador não pode ficar deitado em berço esplêndido, como se estivesse ungido por antecipação para um novo mandato, nem tampouco pode se dar ao luxo de perder aliados políticos importantes na montagem da logística para a campanha pela reeleição. Ainda que de forma muito sutil ele deixou entrever, aos jornalistas, que está atento a oscilações políticas e a desafios que a conjuntura pode lhe impor com vistas às eleições do próximo ano. Ao dizer que algumas decisões suas dependerão da conjuntura de momento e que num devido momento se processará uma discussão adequada de decisões difíceis que precisarão ser tomadas, o governador João Azevêdo transmite a mensagem de que procurará ser paciente e, sobretudo, hábil no encaminhamento de questões sérias que estão represadas na órbita do seu esquema.