Nonato Guedes
Ex-prefeitos das duas maiores cidades da Paraíba, Luciano Cartaxo (PV) e Romero Rodrigues (PSD) descartaram, em 2018, a opção de concorrer ao governo do Estado, preferindo permanecer nos cargos que exerciam, respectivamente, em João Pessoa e Campina Grande, até o último dia do mandato. Hoje, ambos ainda se debatem na busca de um rumo político na conjuntura eleitoral de 2022, e no radar de Luciano e de Romero volta a aparecer o Palácio da Redenção. Analistas políticos consideram, porém, que eles podem ter perdido o ‘bonde da História’ na ambição pelo governo, detendo cacife, porém, para mandatos parlamentares como os de deputado federal, deputado estadual ou senador.
Tanto Cartaxo quanto Romero são dirigentes dos partidos em que estão filiados. Nas eleições de 2018, eles constituíram um bloco de oposição ao esquema do então governador Ricardo Coutinho (PSB) com o objetivo de derrotar o candidato dele à própria sucessão, que acabou sendo João Azevêdo. Aliados, tanto de Cartaxo como de Romero, defendiam qualquer uma das candidaturas em regime de aliança, que estaria aberta a outros partidos e líderes desgarrados da influência de Ricardo Coutinho. Formou-se um “jogo de empurra” entre os dois, com proliferação de sugestões para pesquisas de intenção de voto e demoradas avaliações internas, até que o calendário foi se aproximando, as definições começaram a surgir em outras áreas e eles pactuaram um “tertius” para a disputa – Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo de Luciano, que em 2014 perdera para José Maranhão a vaga de senador.
Nas conversações entre Luciano e Romero evoluiu-se para a construção de uma chapa eminentemente familiar ao pleito majoritário principal da eleição de 2018 na Paraíba – pelo consenso finalmente alcançado, o irmão do prefeito da Capital teria a companhia, na chapa, como candidata a vice-governadora, da mulher do prefeito de Campina, a doutora Micheline Rodrigues, sem histórico de militância política efetiva. Houve reações da própria mídia ao “familismo” da chapa e críticas dos adversários políticos. Mas os dois prefeitos apostavam num desgaste da administração de Ricardo Coutinho e em suposta dificuldade de transferência de votos para João Azevêdo, que era de formação técnica e não disputara, até então, nenhum cargo político. Não foi o que aconteceu, todavia. João Azevêdo, surpreendendo aos adversários, venceu no primeiro turno, tendo como vice a doutora Lígia Feliciano, do PDT, que foi mantida na chapa para representar Campina Grande. Lucélio Cartaxo, apoiado pelas duas máquinas de prefeituras municipais, ficou em segundo lugar, vindo, então, no páreo, o senador José Maranhão pelo MDB.
Para 2022, as chances de reaproximação entre Cartaxo e Romero são remotas. O ex-prefeito de Campina Grande foi o primeiro a se anunciar candidato ao governo do Estado, informando que faria dobradinha de peso com o presidente Jair Bolsonaro, de quem recebe atenções e com quem dividiu espaço como deputado federal em Brasília. Romero parecia em marcha batida para avançar na estratégia de campanha, apostando no apoio natural do PSDB, onde o deputado federal Pedro Cunha Lima lançou sua candidatura. Mas Rodrigues foi atropelado com a citação do seu nome em processo da Operação Calvário (que tem como protagonista maior o ex-governador Ricardo Coutinho) e passou a se ocupar, em caráter de urgência, da sua defesa, com vistas a provar inocência diante de acusações. O ritmo de movimentação do ex-prefeito de Campina Grande diminuiu, dando lugar a dúvidas sobre qual mandato ele disputará – e se terá condições de disputar mandatos em 2022.
Já Luciano Cartaxo, aproveitando indefinições que ocorrem em outros agrupamentos partidários, com a rearrumação de forças políticas que se observa no Estado, ainda mantém o discurso da pré-candidatura ao governo do Estado, mas se empenha ativamente, nos bastidores, em construir e fortalecer alianças para lhe dar respaldo. À frente do PV, ele corteja preferencialmente partidos como o PDT, a que é filiada a vice-governadora Lígia Feliciano, e outros, inclusive, de esquerda. Em princípio, tanto Romero quanto Cartaxo são incompatíveis com o esquema do governador João Azevêdo. Na prática, os dois ex-prefeitos estão prospectando o terreno para situar pretensões com vistas à disputa vindoura – e, principalmente, lutam para reconquistar espaços que teriam perdido por indefinição em momentos decisivos do quadro político paraibano.